Texto: Sandra de Sá
As grandes companhias: O Ambiente como Estratégia Política, não como urgência real
As maiores companhias do mundo são responsáveis por uma parte significativa da poluição
global. Mas, em vez de assumirem um compromisso genuíno com o planeta, muitas
transformaram o ambiente numa questão estratégica e política, tratada em conselhos de
administração e campanhas de marketing, mas distante da prática real.
Relatórios de sustentabilidade, metas de neutralidade carbónica para 2050 e certificações
ambientais proliferam nos comunicados e eventos corporativos. Contudo, na prática, estas
ações funcionam sobretudo como instrumentos de reputação. O ambiente torna-se um tema
de gestão de imagem e não uma prioridade operacional.
A contradição é evidente:
Enquanto comunicam compromissos futuros, muitas companhias continuam a aumentar
emissões e dependência de combustíveis fósseis.
Em vez de investir em soluções regenerativas imediatas, optam por estratégias de compensação
“a prazo”, diluindo responsabilidades.
Grande parte transfere para o consumidor a tarefa de resolver o problema ambiental, através
do apelo ao “reciclar, reduzir, reutilizar” — medidas necessárias mas claramente insuficientes.
O resultado é um défice estrutural de ação ambiental real. A sustentabilidade é tratada como
agenda política de longo prazo, quando deveria ser encarada como urgência vital.
É neste contexto que surge o Selo Floresta Amiga, uma iniciativa prática e transparente: plantar
árvores em Reserva Ecológica Nacional para compensar em pequena escala os impactos do
consumo e dos resíduos. Com potencial para despoluir entre 200 a 400 toneladas de CO2 por
projeto, o selo oferece às empresas a oportunidade de mostrar não apenas compromissos
futuros, mas ações concretas no presente.
Fica o sentido da curiosidade em perceber se o ambiente irá continuar a ser instrumentalizado
como estratégia política ou se irá ser observado com realismo e a opção de oportunidade óptima
como fenómeno ativador de posicionamento de marcas e vendas.
O que ocorre quando as campanhas ambientais das grandes empresas contrastam fortemente
com o seu impacto real no planeta? O chamado greenwashing — promete muito, mas entrega
pouco. É nesse contexto que iniciativas como "Floresta Amiga", focadas no plantio de árvores,
ganham importância, ainda que sejam apenas uma parte da resposta ao desafio climático global.
Um relatório de 2023 do Monitor da Responsabilidade Climática Corporativa, elaborado pelo
New Climate Institute e pela Carbon Market Watch, analisou 24 empresas que se afirmam
líderes em ação climática. Concluiu-se que:
Embora façam parte da iniciativa Race to Zero das Nações Unidas, apenas 36 % das reduções de
emissões prometidas são reais frente aos 90–95 % necessários.
Nenhuma empresa obteve classificação de "alta integridade"; apenas uma alcançou
“integridade razoável”.
A redução projetada até 2050 é de apenas 26 %, muito aquém da meta de descarbonização
quase total.
Plantar árvores é essencial — Um estudo publicado na Communications Earth & Environment
mostra que:
Se as 200 maiores empresas de petróleo, gás e carvão emitissem todas as suas reservas, seriam
liberadas 673 GtCO2. Para neutralizar isso apenas com reflorestamento, seria necessário
restaurar 24,75 milhões km2 — praticamente o território da América do Norte. O custo estimado
de remoção seria basicamente superior ao valor de mercado dessas empresas.
Mesmo assim, o reflorestamento traz benefícios importantes à biodiversidade, solos e recursos
hídricos, desde que acompanhado de ações efetivas de redução de emissões.
Por que “Floresta Amiga” faz sentido — e qual é o seu papel
1. Visibilidade e engajamento: O plantio de árvores é uma ação tangível que sensibiliza o público
e fortalece a consciência ambiental.
2. Benefícios multisistêmicos: Além de sequestrar carbono, promove biodiversidade, protege
recursos hídricos e melhora o solo.
3. Complementaridade necessária: Embora não seja a solução completa, o reflorestamento é
uma peça vital quando complementado com cortes reais de emissões na fonte.
Muitas empresas anunciam ambições climáticas, mas falham em executá-las de forma
substancial.
Poluição plástica onde apenas cinco gigantes são responsáveis por quase um quarto do plástico
poluente rastreável — acentuando sua responsabilidade.
Valor da Floresta Amiga uma iniciativa simbólica e efetiva, que devolve à natureza parte do que
foi consumido — e deve andar junto com políticas reais de sustentabilidade.
Grandes Companhias: O Ambiente Como Estratégia Política, Não Como Urgência Real, esta
opinião retrata uma realidade preocupante: o ambiente está a ser usado como ferramenta
estratégica — política, de reputação, de gestão de crise — e não como uma urgência real no
modelo de negocio. E portanto, em matéria de marketing e decisão óptima á que considerar
que, o falso verde vende menos bem que o "ser verde". As promessas de neutralidade e eco-
inovação servem mais as campanhas do que as "salvaguardas". O Selo Floresta Amiga — é uma
iniciativa concreta que compensa emissão e consumo agora, plantando árvores em Reserva
Ecológica Nacional e promovendo ação tangível, transparente e mensurável.
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