quinta-feira, 5 de março de 2020

#passaapalavra: Pedro Sousa é Professor, Jornalista, Blogger e Dirigente Associativo.


Natural de Regadas, nasceu em Fafe em janeiro de 1979. Antes de entrar na Escola primária já era Lobito nos Escuteiros de Regadas. Frequentou a catequese. Foi seminarista. Estudou em Coimbra. Participou ativamente na política partidária. Sócio fundador de várias associações.






JORNALdeFAFE: Regadas é uma terra de paixão para si.
Pedro Sousa: Claramente! Regadas é a minha terra. Embora na Faculdade me conheciam e tratavam por ‘Fafe’, Regadas é a minha terrinha. Obviamente, esta pertence a Fafe e não consigo distanciar uma da outra.
 
JORNALdeFAFE: Sendo o Pedro Sousa uma pessoa de mil ofícios, nunca deixou de afirmar que é da aldeia, mas nunca pensou em fazer-se passar, como muitos o fazem, por um menino da cidade?
Pedro Sousa: Sinceramente, não! Também ouvi isso em alguns colegas, sobretudo na política. Mas eu sou da aldeia. Nunca entendi muito bem isso. E a minha aldeia é do tamanho do mundo! E qual cidade? Eu já vivi mais anos em Coimbra do que em Fafe e nem por isso deixei de ser o ‘Fafe’…

JORNALdeFAFE: Sabemos que esteve ligado e até fundou várias associações. Pode falar um pouco sobre estas aventuras?
Pedro Sousa: Teríamos muito para falar. Mas tentarei resumir. Antes de entrar na Escola Primária, penso que teria 5 anos, entrei para os escuteiros. O meu pai foi escuteiro muitos anos e incentivou-me a ingressar. Comecei nos Lobitos, era a minha Chefe a Alice Teixeira, e fazia muitas atividades connosco, até nos levava a sítios visitar. Depois foi com o Chefe Raúl Teixeira (Chefe dos Bombos Amigos da Borga) que passei a minha adolescência. Primeiro nos Exploradores e depois nos Pioneiros. O Raúl é o meu ‘mestre’ chefe de referência. Aprendi com ele, sobretudo, o lado humanista de lidar com os outros. Fui também Caminheiro e Dirigente, mas estes momentos não foram os melhores. Estas idades são mais perigosas e quem estava nos Caminheiros percebia pouco de relações humanas. Muitos pensam que chegam a Chefes, têm o lenço verde, e já podem mandar nos outros e isso não cativa as pessoas. Como Dirigente, só gostei mesmo de ser Secretário Administrativo do Campo do CNE em Apúlia. Eramos uma equipa de amigos de vários núcleos de Braga e conseguimos administrar e construir uma boa sede, sendo que dávamos prioridade às pessoas, às famílias, ao humanismo, como estava escrito no regulamento interno. Mas tudo tem o seu tempo…

JORNALdeFAFE: E outras associações?
Pedro Sousa: Em Coimbra, como todos os estudantes da Academia, fui sócio da AAC (Associação Académica de Coimbra). Sócio fundador da Associação Solar da Praça, uma Associação a que ainda hoje pertenço e pago quotas, compramos uma casa para instalar a nossa República da Praça, que foi despejada com a nova lei do arrendamento, e os atuais residentes e os antigos contribuem para pagar o empréstimo. Sócio fundador e dirigente do CLUB ALFA, esta é a menina dos meus olhos, neste momento já não pertenço sequer aos órgãos de gestão, mas estou à frente da parte pedagógica e artística e estamos a criar a Academia Club Alfa, um projeto que já está a nascer fisicamente em Regadas. Ainda agora, acabamos de candidatar uma outra fase do projeto que tem tido um apoio incansável do Arquiteto Gil Soares e espero vê-lo de pé ainda em 2020.

Também fui sócio-fundador da ACSSR, sócio número 11, mas abandonei quando me apercebi que as pessoas que fomos buscar para ajudar na construção, afinal só queriam agarrar o poder para dar ‘tachos’ à família e amigos e começaram a candidatar-se contra o Álvaro Teixeira que tinha sido o grande impulsionador. Como não me identifico com este tipo de atitudes, depois de trabalhar no Boletim e apoio pedagógico à borla, afastei-me da associação e dessas pessoas. Pessoas essas que fizeram listas contra a junta de então. Não posso admitir a ninguém que é apoiado por outras pessoas e na primeira oportunidade dão facadas nas costas a quem os apoiou! Isto é oportunismo! Estão no seu direito, mas eu também estou no meu e quero distância desse tipo de gente!

JORNALdeFAFE: A sua vida profissional já conhece um vasto currículo.
Pedro Sousa: Mais ou menos. Ainda não tanto quanto o desejava, mas também ainda me faltam uns anitos para a reforma… J

JORNALdeFAFE: Certo, mas lemos no seu blogue que já deu aulas em vários sítios e desempenhou cargos de relevo.
Pedro Sousa: O meu percurso não foi sempre fácil. Depois de concluir a licenciatura, fiz logo o estágio pedagógico. Aí até me senti um pouco rico. J O estágio ainda era remunerado e nunca tinha ganho tanto dinheiro. Mas depois veio o caminho do calvário. Eu queria mesmo ser professor, mas estava tudo cheio. Felizmente apareceram umas formações em Lisboa, mas o IEFP só pagava a três ou quatro meses. E eu rezava para não me acontecer nada, porque andava com o dinheirinho todo contado. Os meus pais ajudaram-me sempre, se não fosse assim não conseguia ir trabalhar, mas eu também não queria estar a depender deles. Foi duro! Foram dois anos muito difíceis.

JORNALdeFAFE: E quando volta a Coimbra?
Pedro Sousa: Aí foi a sorte grande! Coimbra é mesmo a minha cidade da sorte. Eu pertenci a uma República de Estudantes e tinha um colega a trabalhar na ARCA (Associação Recreativa de Coimbra artística), como eu estava a dar formação em Lisboa e mais tarde em Coimbra, falei a esse colega que existiam os CEF (Cursos de Educação e Formação) e eles não tinham, poderia ser mais uma fonte de receita porque aquela entidade já passava por algumas dificuldades financeiras. Esse meu colega disse que não tinham dinheiro para contratar alguém para fazer as candidaturas e eu disse que as fazia de graça e se fossem aprovados os cursos seria o Coordenador e Professor até me preencherem o horário. E foi assim que entrei na ARCA. Uma Escola de excelência. Tinha a Escola Universitária das Artes de Coimbra e a Escola de Artes de Coimbra (Escola Profissional). Aprovamos logo 7 cursos. Arranjei trabalho para mim e ainda tiveram de contratar mais professores. Depois desta aposta ganha, o meu colega pede-me ajuda para candidatar uns Cursos de Especialização Tecnológica, já tinha tentado mas ninguém o ajudava. Criámos o Departamento de Formação da ARCA, o Dr. Marcos Júlio era o Diretor Financeiro, eu o Diretor Pedagógico e havia uma senhora, Drª Paula Almeida, que era a Secretária desta Direção. Uma equipa fantástica. Aprovamos também 6 cursos. E eis que vêm vários milhares para serem aplicados na ministração daqueles cursos.


JORNALdeFAFE: Ou seja, ainda era muito novo e já tinha experiência na Conceção, Gestão e Administração Escolar?
Pedro Sousa: Eu já trabalhei praticamente em todos os níveis de ensino. Ensino Oficial (7º ao 12º Ano), Ensino Profissional, no IEFP… Não só como Professor, mas também como Diretor Pedagógico, Coordenador e Diretor de Turma ou Mediador. Os CET (Cursos de Especialização Tecnológica) eram ministrados em parceria entre o Departamento de Formação que dirigia pedagogicamente e a Escola Universitária. Também já dei algumas formações a Professores no âmbito da minha especialização. Para além disto, fiz ainda aprovar um Curso de Artes do Espetáculo e preparei toda a burocracia pedagógica para abrir um Colégio na ARCA, só ficou a faltar as obras de requalificação. Tudo experiências muito gratificantes. Mas as coisas começaram a ficar más. A Escola Universitária era privada e tinha poucos aluinos no final. Não era comportável. Depois apareceu um diretor daqueles famosos dos colégios e queria que trabalhássemos mais três meses sem receber. Saímos q             uase todos… já tínhamos ordenados em atraso… Enfim, lamentável. Ao menos, os anteriores diretores honravam os compromissos. Foi pena. A ARCA era inspirada na BAHAUS. Era um ensino artístico de alto nível.

JORNALdeFAFE: E depois vai parar ao Algarve.
Pedro Sousa: Sim. Primeiro na Escola das Naus (Agrupamento Gil Eanes), a minha escolinha. E depois ao IEFP – Centro de Formação do Barlavento. Trabalhava em três pólos: Portimão, Lagos e Silves. Foram três anos incríveis. Estas duas instituições marcaram-me e tenho lá muitos e bons amigos. Para além de ter explorado bem o Algarve…

JORNALdeFAFE: Daí nasceu ‘um gajo sofre’?
Pedro Sousa: Costumo dizer que ‘um gajo sofre’ mesmo. J E só quem passa por isso é que sabe. Esta é uma brincadeira de redes sociais e muito bem direcionada para os meus amigos. As redes sociais são o que fazemos delas. Às vezes publico coisas sérias, mas não quero ser ‘um cinzentão’, não faz parte de mim. E como estava no Algarve, conseguia estar quase sempre de férias e isso vende… dá muitos likes! J É que o Algarve tem qualidade de vida. E quem quer explorar e ama a natureza, tem paisagens lindíssimas. O clima é uma maravilha e o peixinho muito bom… Haja saúde e é o local ideal… Por falar nisto, precisa de uma aposta urgente na saúde e nos seus hospitais. Espero que se virem para este povo.

JORNALdeFAFE: Quais as suas habilitações académicas?
Pedro Sousa: Licenciei-me em Línguas e Literaturtas Clássicas, depois em Línguas e Literaturas Clássicas – Ramo de Formação Educacional. Pós-graduação em Teatro Clássico e Sua Receção e Mestrado em Estudos Artísticos – Especialização em Teatro e Performance.

JORNALdeFAFE: Verificamos que escreveu e defendeu uma dissertação intitulada “A obra performativa de Armando Azevedo”, por que escolheu este tema?
Pedro Sousa: Armando Azevedo é um artista que pertenceu ao Grupo Puzle em Coimbra. Conhecia a pessoa, era Professor na ARCA e hoje é um grande amigo, parece uma enciclopédia a falar, mas não conhecia nada da sua obra. Como estava a estudar Teatro e Performance, vi aí uma oportunidade de conhecer o seu trabalho artístico. Um trabalho de pesquisa que ainda não estava feito. Contudo, este trabalho está e pode ser consultado online no depósito da Universidade de Coimbra em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/20213.

JORNALdeFAFE: E a vida de seminarista. Como foi lá parar?
Pedro Sousa: Esta aventura começou com as histórias de um filho de um colega de trabalho do meu pai. Era seminarista, agora é padre, e as suas histórias contadas pelo meu pai, despertaram-me o interesse. Foram anos bons, mas também algumas amarguras. Estar longe de casa foi muito difícil, mas a avaliação final é muito positiva. Estava a ser preparado para não me envergonhar na presença dos ricos e nunca envergonhar os pobres. Éramos mesmo preparados para estar com os que mais precisam. A missão verdadeira de S. Vicente de Paulo, o fundador da congregação onde eu estava. Depois vieram as indecisões. Ainda estive no Seminário Conciliar de Braga e inscrito no primeiro ano de Teologia, mas só frequentei três semanas. No entanto, fiz bons amigos. Um até foi o Padre que celebrou o meu casamento, Pe. Francisco Carreira, atual Arcipreste de Famalicão, que era uma espécie de amigo mais velho e orientador.

JORNALdeFAFE: Estudante de Coimbra. Um sonho?
Pedro Sousa: Foi o melhor que me poderia ter acontecido na vida. Ir parar a Coimbra. Foi a minha primeira opção, mas nestas coisas tudo é possível. Em Coimbra não só fui estudante como pertenci ao Coral de Letras, estive no Conselho Pedagógico da FLUC durante três anos, as eleições eram muito ferozes, e pertenci, ou melhor, pertenço
à República da Praça. A minha casa em Coimbra. Claro que já sou considerado ‘um velhinho’, quem acaba o curso é logo velhinho, mas não só celebramos o centenário todos os anos (porque viver um ano na República é como viver 100 anos) e temos encontros de velhinhos por este país com a malta da minha geração. Já organizei um cá em Fafe.

JORNALdeFAFE: Quando trouxe os seus colegas repúblicos a Fafe, o que lhes mostrou?
Pedro Sousa: O que queriam ver, obrigatoriamente, foi a Casa do Penedo. Depois quem andou a fazer uma visita guiada até foi o fafense que me levou para a República, o José Ribeiro, também ele de Regadas. E aí foi feita uma visita pela cidade e explicado a história da ‘Justiça de Fafe’, junto à escultura, claro!

JORNALdeFAFE: Participou ativamente na política partidária. Mas escreveu há uns meses que deixava de colaborar com partidos, mas não fechou a porta ‘se fosse um bom projeto’. Pode falar um pouco desta tomada de posição?
Pedro Sousa: Estou farto de ver os lugares ocupados pelos mesmos. As pessoas agarram-se aos cargos como se fossem donos deles. Em Fafe, andámos há anos a alimentar (ou dar de mamar) sempre aos mesmos. Estou farto! E isto acontece em todos os partidos. Se precisarem de mim, têm de me apresentar primeiro os seus objetivos, mas também têm de estar recetivos à minha opinião…

JORNALdeFAFE: Os políticos não gostam da sua opinião?
Pedro Sousa: Os políticos não querem opiniões. Querem que digam sempre ‘amen’ com eles. E isso não é para mim. O PSD, por exemplo, conseguiu meter dois vereadores, mas logo a seguir perdeu-os. Sabem porquê? Não sabem, mas eu digo. Não queriam que ninguém falasse. Eles é que sabiam, mas não sabiam eles que há quatro anos atrás tiveram muita ajuda e trabalho de comunicação para aumentar o número de votantes. Como não souberam respeitar quem os apoiou, quatro anos depois ficaram à deriva… é a vida de quem ‘cospe no prato que come’. A culpa não é bem deles, no plural…

JORNALdeFAFE: Acha que Fafe está no bom caminho?
Pedro Sousa: Ui… Há tanto trabalho a fazer! E em todas as áreas. As pessoas estão demasiado acomodadas. Não traçam projetos concelhios. Não sabem fazer candidaturas, a não ser para alcatrão. E os projetos de dinamização? Os projetos Culturais? Artísticos? Turísticos? Desportivos? Educativos? E onde estão as parcerias com as associações do concelho? Quais os planos de desenvolvimento industrial? Qual o apoio dado a quem quer construir em Fafe? Por que é que as licenças demoram quase um ano para sair dos gabinetes em Fafe e noutras cidades um mês?

JORNALdeFAFE: E os atuais políticos de Fafe?
Pedro Sousa: Ora bem, naquilo que vou precisando tratar, nomeadamente questões relacionadas com os projetos do CLUB ALFA, só posso dizer bem. Tenho tido mesmo boa receção, mas não posso deixar de dizer que falta traçar um plano estratégico bem definido para Fafe.

JORNALdeFAFE: Pode explicar melhor esta parte?
Pedro Sousa: No fundo foi o que disse em cima. Fafe precisa definir estratégia em vários campos de atuação e conseguir trazer mais investimento. Como já temos de fazer nas associações por causa da majoração, o município para conseguir mais e melhores apoios precisa de trabalhar em grupo, saber envolver as empresas, as associações e até as pessoas individuais nesse projeto e atirar-se às candidaturas de apoio. Há muitas, mas dá trabalho para as conseguir. Para isso, em vez de apostar nos boys que dêm cargos de limpa-pó aos boys e contratem quem percebe mesmo do assunto.

JORNALdeFAFE: Estaria disponível para uma assumir uma vereação?
Pedro Sousa: Sinceramente, gostava de ter uma experiência, mas não me vejo muito tempo no mesmo cargo. Eu fui seminarista. Fui preparado para as missões, mesmo depois tendo saído, e acho que isso me ficou agarrado. Gosto muito da conceção de projetos e de os pôr em prática, mas depois de os colocar a funcionar preciso de um projeto novo, uma nova motivação. Mas também já não vejo a política como há uns anos. Estarei desmotivado ou talvez a entrar naquela fase em que não quero muitas chatices…

JORNALdeFAFE: Já lemos num artigo seu uma espécie de antevisão das próximas autárquicas. Sabe quem vai apoiar?
Pedro Sousa: Sei quem não vou apoiar. Vejo potencial em algumas pessoas que estão lá e noutras que ainda não estão. Em vários partidos, entenda-se. Espero que o Rui Novais do PSD se afirme como uma força alternativa, só faz com que os outros tenham mais respeito, mas gostava também que o PCP e o Bloco de Esquerda tivessem mais força. Não queria mais maiorias em Fafe. O passado mostrou que o poder sobe muito à cabeça dos governantes.

JORNALdeFAFE: Pedro Sousa, obrigado pela sua colaboração. Iremos publicar tudo na íntegra como combinado, mas precisamos que mantenha a corrente e nos indique um nome e um email (em privado) para este role de entrevistas intitulado #passaapalavra. Visto que estamos a iniciar, poderá indicar dois nomes.
Pedro Sousa: Gil Soares e António Daniel. O primeiro porque tenho estado a trabalhar no projeto do CLUB ALFA, eu na conceção e ele na construção arquitetónica e acho que será um bom exemplo de como as pessoas, mesmo em cores partidárias diferentes, se podem unir e traçar bons projetos para a comunidade. O segundo, António Daniel, porque considero-o o filósofo de Fafe e teremos muito que aprender com as suas palavras.

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