Natural de Regadas, nasceu em Fafe em janeiro de
1979. Antes de entrar na Escola primária já era Lobito nos Escuteiros de
Regadas. Frequentou a catequese. Foi seminarista. Estudou em Coimbra.
Participou ativamente na política partidária. Sócio fundador de várias
associações.
JORNALdeFAFE:
Regadas é uma terra de paixão para si.
Pedro Sousa:
Claramente! Regadas é a minha terra. Embora na Faculdade me conheciam e
tratavam por ‘Fafe’, Regadas é a minha terrinha. Obviamente, esta pertence a
Fafe e não consigo distanciar uma da outra.
JORNALdeFAFE:
Sendo o Pedro Sousa uma pessoa de mil ofícios, nunca deixou de afirmar que é da
aldeia, mas nunca pensou em fazer-se passar, como muitos o fazem, por um menino
da cidade?
Pedro Sousa:
Sinceramente, não! Também ouvi isso em alguns colegas, sobretudo na
política. Mas eu sou da aldeia. Nunca entendi muito bem isso. E a minha aldeia
é do tamanho do mundo! E qual cidade? Eu já vivi mais anos em Coimbra do que em
Fafe e nem por isso deixei de ser o ‘Fafe’…
JORNALdeFAFE:
Sabemos que esteve ligado e até fundou várias associações. Pode falar um pouco
sobre estas aventuras?
Pedro Sousa:
Teríamos muito para falar. Mas tentarei resumir. Antes de entrar na Escola
Primária, penso que teria 5 anos, entrei para os escuteiros. O meu pai foi
escuteiro muitos anos e incentivou-me a ingressar. Comecei nos Lobitos, era a
minha Chefe a Alice Teixeira, e fazia muitas atividades connosco, até nos
levava a sítios visitar. Depois foi com o Chefe Raúl Teixeira (Chefe dos Bombos
Amigos da Borga) que passei a minha adolescência. Primeiro nos Exploradores e
depois nos Pioneiros. O Raúl é o meu ‘mestre’ chefe de referência. Aprendi com
ele, sobretudo, o lado humanista de lidar com os outros. Fui também Caminheiro
e Dirigente, mas estes momentos não foram os melhores. Estas idades são mais
perigosas e quem estava nos Caminheiros percebia pouco de relações humanas.
Muitos pensam que chegam a Chefes, têm o lenço verde, e já podem mandar nos
outros e isso não cativa as pessoas. Como Dirigente, só gostei mesmo de ser
Secretário Administrativo do Campo do CNE em Apúlia. Eramos uma equipa de
amigos de vários núcleos de Braga e conseguimos administrar e construir uma boa
sede, sendo que dávamos prioridade às pessoas, às famílias, ao humanismo, como
estava escrito no regulamento interno. Mas tudo tem o seu tempo…
JORNALdeFAFE:
E outras associações?
Pedro Sousa:
Em Coimbra, como todos os estudantes da Academia, fui sócio da AAC (Associação
Académica de Coimbra). Sócio fundador da Associação Solar da Praça, uma
Associação a que ainda hoje pertenço e pago quotas, compramos uma casa para
instalar a nossa República da Praça, que foi despejada com a nova lei do arrendamento, e
os atuais residentes e os antigos contribuem para pagar o empréstimo. Sócio
fundador e dirigente do CLUB ALFA, esta é a menina dos meus olhos, neste
momento já não pertenço sequer aos órgãos de gestão, mas estou à frente da
parte pedagógica e artística e estamos a criar a Academia Club Alfa, um projeto
que já está a nascer fisicamente em Regadas. Ainda agora, acabamos de
candidatar uma outra fase do projeto que tem tido um apoio incansável do
Arquiteto Gil Soares e espero vê-lo de pé ainda em 2020.
Também fui sócio-fundador da ACSSR, sócio número
11, mas abandonei quando me apercebi que as pessoas que fomos buscar para
ajudar na construção, afinal só queriam agarrar o poder para dar ‘tachos’ à
família e amigos e começaram a candidatar-se contra o Álvaro Teixeira que tinha
sido o grande impulsionador. Como não me identifico com este tipo de atitudes,
depois de trabalhar no Boletim e apoio pedagógico à borla, afastei-me da
associação e dessas pessoas. Pessoas essas que fizeram listas contra a junta de
então. Não posso admitir a ninguém que é
apoiado por outras pessoas e na primeira oportunidade dão facadas nas costas a
quem os apoiou! Isto é oportunismo! Estão no seu direito, mas eu também estou
no meu e quero distância desse tipo de gente!
JORNALdeFAFE:
A sua vida profissional já conhece um vasto currículo.
Pedro Sousa:
Mais ou menos. Ainda não tanto quanto o desejava, mas também ainda me faltam
uns anitos para a reforma… J
JORNALdeFAFE:
Certo, mas lemos no seu blogue que já deu aulas em vários sítios e desempenhou
cargos de relevo.
Pedro Sousa:
O meu percurso não foi sempre fácil. Depois de concluir a licenciatura, fiz
logo o estágio pedagógico. Aí até me senti um pouco rico. J O estágio ainda era
remunerado e nunca tinha ganho tanto dinheiro. Mas depois veio o caminho do
calvário. Eu queria mesmo ser professor, mas estava tudo cheio. Felizmente
apareceram umas formações em Lisboa, mas o IEFP só pagava a três ou quatro
meses. E eu rezava para não me acontecer nada, porque andava com o dinheirinho
todo contado. Os meus pais ajudaram-me sempre, se não fosse assim não conseguia
ir trabalhar, mas eu também não queria estar a depender deles. Foi duro! Foram
dois anos muito difíceis.
JORNALdeFAFE:
E quando volta a Coimbra?
Pedro Sousa:
Aí foi a sorte grande! Coimbra é mesmo a minha cidade da sorte. Eu pertenci a
uma República de Estudantes e tinha um colega a trabalhar na ARCA (Associação
Recreativa de Coimbra artística), como eu estava a dar formação em Lisboa e
mais tarde em Coimbra, falei a esse colega que existiam os CEF (Cursos de
Educação e Formação) e eles não tinham, poderia ser mais uma fonte de receita
porque aquela entidade já passava por algumas dificuldades financeiras. Esse
meu colega disse que não tinham dinheiro para contratar alguém para fazer as
candidaturas e eu disse que as fazia de graça e se fossem aprovados os cursos
seria o Coordenador e Professor até me preencherem o horário. E foi assim que entrei na ARCA. Uma Escola de
excelência. Tinha a Escola Universitária das Artes de Coimbra e a Escola de
Artes de Coimbra (Escola Profissional). Aprovamos logo 7 cursos. Arranjei
trabalho para mim e ainda tiveram de contratar mais professores. Depois desta
aposta ganha, o meu colega pede-me ajuda para candidatar uns Cursos de
Especialização Tecnológica, já tinha tentado mas ninguém o ajudava. Criámos o
Departamento de Formação da ARCA, o Dr. Marcos Júlio era o Diretor Financeiro,
eu o Diretor Pedagógico e havia uma senhora, Drª Paula Almeida, que era a
Secretária desta Direção. Uma equipa fantástica. Aprovamos também 6 cursos. E
eis que vêm vários milhares para serem aplicados na ministração daqueles cursos.
JORNALdeFAFE:
Ou seja, ainda era muito novo e já tinha experiência na Conceção, Gestão e
Administração Escolar?
Pedro Sousa:
Eu já trabalhei praticamente em todos os níveis de ensino. Ensino Oficial
(7º ao 12º Ano), Ensino Profissional, no IEFP… Não só como Professor, mas
também como Diretor Pedagógico, Coordenador e Diretor de Turma ou Mediador. Os
CET (Cursos de Especialização Tecnológica) eram ministrados em parceria entre o
Departamento de Formação que dirigia pedagogicamente e a Escola Universitária.
Também já dei algumas formações a Professores no âmbito da minha
especialização. Para além disto, fiz ainda aprovar um Curso de Artes do
Espetáculo e preparei toda a burocracia pedagógica para abrir um Colégio na
ARCA, só ficou a faltar as obras de requalificação. Tudo experiências muito
gratificantes. Mas as coisas começaram a ficar más. A Escola Universitária era
privada e tinha poucos aluinos no final. Não era comportável. Depois apareceu
um diretor daqueles famosos dos colégios e queria que trabalhássemos mais três
meses sem receber. Saímos q uase
todos… já tínhamos ordenados em atraso… Enfim, lamentável. Ao menos, os
anteriores diretores honravam os compromissos. Foi pena. A ARCA era inspirada
na BAHAUS. Era um ensino artístico de alto nível.
JORNALdeFAFE:
E depois vai parar ao Algarve.
Pedro Sousa:
Sim. Primeiro na Escola das Naus (Agrupamento Gil Eanes), a minha
escolinha. E depois ao IEFP – Centro de Formação do Barlavento. Trabalhava em
três pólos: Portimão, Lagos e Silves. Foram três anos incríveis. Estas duas
instituições marcaram-me e tenho lá muitos e bons amigos. Para além de ter
explorado bem o Algarve…
JORNALdeFAFE:
Daí nasceu ‘um gajo sofre’?
Pedro Sousa:
Costumo dizer que ‘um gajo sofre’ mesmo. J
E só quem passa por isso é que sabe. Esta é uma brincadeira de redes sociais e
muito bem direcionada para os meus amigos. As redes sociais são o que fazemos
delas. Às vezes publico coisas sérias, mas não quero ser ‘um cinzentão’, não
faz parte de mim. E como estava no Algarve, conseguia estar quase sempre de
férias e isso vende… dá muitos likes! J
É que o Algarve tem qualidade de vida. E quem quer explorar e ama a natureza,
tem paisagens lindíssimas. O clima é uma maravilha e o peixinho muito bom… Haja
saúde e é o local ideal… Por falar nisto, precisa de uma aposta urgente na
saúde e nos seus hospitais. Espero que se virem para este povo.
JORNALdeFAFE:
Quais as suas habilitações académicas?
Pedro Sousa:
Licenciei-me em Línguas e Literaturtas Clássicas, depois em Línguas e
Literaturas Clássicas – Ramo de Formação Educacional. Pós-graduação em Teatro
Clássico e Sua Receção e Mestrado em Estudos Artísticos – Especialização em
Teatro e Performance.
JORNALdeFAFE:
Verificamos que escreveu e defendeu uma dissertação intitulada “A obra
performativa de Armando Azevedo”, por que escolheu este tema?
Pedro Sousa:
Armando Azevedo é um artista que pertenceu ao Grupo Puzle em Coimbra.
Conhecia a pessoa, era Professor na ARCA e hoje é um grande amigo, parece uma
enciclopédia a falar, mas não conhecia nada da sua obra. Como estava a estudar
Teatro e Performance, vi aí uma oportunidade de conhecer o seu trabalho
artístico. Um trabalho de pesquisa que ainda não estava feito. Contudo, este
trabalho está e pode ser consultado online no depósito da Universidade de
Coimbra em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/20213.
JORNALdeFAFE:
E a vida de seminarista. Como foi lá parar?
Pedro Sousa:
Esta aventura começou com as histórias de um filho de um colega de trabalho
do meu pai. Era seminarista, agora é padre, e as suas histórias contadas pelo
meu pai, despertaram-me o interesse. Foram anos bons, mas também algumas
amarguras. Estar longe de casa foi muito difícil, mas a avaliação final é muito
positiva. Estava a ser preparado para não me envergonhar na presença dos ricos
e nunca envergonhar os pobres. Éramos mesmo preparados para estar com os que
mais precisam. A missão verdadeira de S. Vicente de Paulo, o fundador da
congregação onde eu estava. Depois vieram as indecisões. Ainda estive no
Seminário Conciliar de Braga e inscrito no primeiro ano de Teologia, mas só
frequentei três semanas. No entanto, fiz bons amigos. Um até foi o Padre que
celebrou o meu casamento, Pe. Francisco Carreira, atual Arcipreste de
Famalicão, que era uma espécie de amigo mais velho e orientador.
JORNALdeFAFE:
Estudante de Coimbra. Um sonho?
Pedro Sousa:
Foi o melhor que me poderia ter acontecido na vida. Ir parar a Coimbra. Foi
a minha primeira opção, mas nestas coisas tudo é possível. Em Coimbra não só
fui estudante como pertenci ao Coral de Letras, estive no Conselho Pedagógico
da FLUC durante três anos, as eleições eram muito ferozes, e pertenci, ou
melhor, pertenço
à República da Praça. A minha casa em Coimbra. Claro que já sou considerado ‘um velhinho’, quem acaba o curso é logo velhinho, mas não só celebramos o centenário todos os anos (porque viver um ano na República é como viver 100 anos) e temos encontros de velhinhos por este país com a malta da minha geração. Já organizei um cá em Fafe.
à República da Praça. A minha casa em Coimbra. Claro que já sou considerado ‘um velhinho’, quem acaba o curso é logo velhinho, mas não só celebramos o centenário todos os anos (porque viver um ano na República é como viver 100 anos) e temos encontros de velhinhos por este país com a malta da minha geração. Já organizei um cá em Fafe.
JORNALdeFAFE:
Quando trouxe os seus colegas repúblicos a Fafe, o que lhes mostrou?
Pedro Sousa:
O que queriam ver, obrigatoriamente, foi a Casa do Penedo. Depois quem
andou a fazer uma visita guiada até foi o fafense que me levou para a
República, o José Ribeiro, também ele de Regadas. E aí foi feita uma visita
pela cidade e explicado a história da ‘Justiça de Fafe’, junto à escultura,
claro!
JORNALdeFAFE:
Participou ativamente na política partidária. Mas escreveu há uns meses que
deixava de colaborar com partidos, mas não fechou a porta ‘se fosse um bom
projeto’. Pode falar um pouco desta tomada de posição?
Pedro Sousa:
Estou farto de ver os lugares ocupados pelos mesmos. As pessoas agarram-se aos
cargos como se fossem donos deles. Em Fafe, andámos há anos a alimentar (ou dar
de mamar) sempre aos mesmos. Estou farto! E isto acontece em todos os partidos.
Se precisarem de mim, têm de me apresentar primeiro os seus objetivos, mas
também têm de estar recetivos à minha opinião…
JORNALdeFAFE:
Os políticos não gostam da sua opinião?
Pedro Sousa:
Os políticos não querem opiniões. Querem que digam sempre ‘amen’ com eles. E
isso não é para mim. O PSD, por exemplo, conseguiu meter dois vereadores, mas
logo a seguir perdeu-os. Sabem porquê? Não sabem, mas eu digo. Não queriam que
ninguém falasse. Eles é que sabiam, mas não sabiam eles que há quatro anos
atrás tiveram muita ajuda e trabalho de comunicação para aumentar o número de
votantes. Como não souberam respeitar quem os apoiou, quatro anos depois
ficaram à deriva… é a vida de quem ‘cospe no prato que come’. A culpa não é bem
deles, no plural…
JORNALdeFAFE:
Acha que Fafe está no bom caminho?
Pedro Sousa:
Ui… Há tanto trabalho a fazer! E em todas as áreas. As pessoas estão demasiado
acomodadas. Não traçam projetos concelhios. Não sabem fazer candidaturas, a não
ser para alcatrão. E os projetos de dinamização? Os projetos Culturais?
Artísticos? Turísticos? Desportivos? Educativos? E onde estão as parcerias com
as associações do concelho? Quais os planos de desenvolvimento industrial? Qual
o apoio dado a quem quer construir em Fafe? Por que é que as licenças demoram
quase um ano para sair dos gabinetes em Fafe e noutras cidades um mês?
JORNALdeFAFE:
E os atuais políticos de Fafe?
Pedro Sousa:
Ora bem, naquilo que vou precisando tratar, nomeadamente questões relacionadas
com os projetos do CLUB ALFA, só posso dizer bem. Tenho tido mesmo boa receção,
mas não posso deixar de dizer que falta traçar um plano estratégico bem
definido para Fafe.
JORNALdeFAFE:
Pode explicar melhor esta parte?
Pedro Sousa:
No fundo foi o que disse em cima. Fafe precisa definir estratégia em vários
campos de atuação e conseguir trazer mais investimento. Como já temos de fazer
nas associações por causa da majoração, o município para conseguir mais e
melhores apoios precisa de trabalhar em grupo, saber envolver as empresas, as
associações e até as pessoas individuais nesse projeto e atirar-se às
candidaturas de apoio. Há muitas, mas dá trabalho para as conseguir. Para isso,
em vez de apostar nos boys que dêm cargos de limpa-pó aos boys e contratem quem
percebe mesmo do assunto.
JORNALdeFAFE:
Estaria disponível para uma assumir uma vereação?
Pedro Sousa:
Sinceramente, gostava de ter uma experiência, mas não me vejo muito tempo no
mesmo cargo. Eu fui seminarista. Fui preparado para as missões, mesmo depois
tendo saído, e acho que isso me ficou agarrado. Gosto muito da conceção de
projetos e de os pôr em prática, mas depois de os colocar a funcionar preciso
de um projeto novo, uma nova motivação. Mas também já não vejo a política como
há uns anos. Estarei desmotivado ou talvez a entrar naquela fase em que não
quero muitas chatices…
JORNALdeFAFE:
Já lemos num artigo seu uma espécie de antevisão das próximas autárquicas. Sabe
quem vai apoiar?
Pedro Sousa:
Sei quem não vou apoiar. Vejo potencial em algumas pessoas que estão lá e
noutras que ainda não estão. Em vários partidos, entenda-se. Espero que o Rui
Novais do PSD se afirme como uma força alternativa, só faz com que os outros
tenham mais respeito, mas gostava também que o PCP e o Bloco de Esquerda
tivessem mais força. Não queria mais maiorias em Fafe. O passado mostrou que o
poder sobe muito à cabeça dos governantes.
JORNALdeFAFE:
Pedro Sousa, obrigado pela sua colaboração. Iremos publicar tudo na íntegra
como combinado, mas precisamos que mantenha a corrente e nos indique um nome e
um email (em privado) para este role de entrevistas intitulado #passaapalavra.
Visto que estamos a iniciar, poderá indicar dois nomes.
Pedro Sousa:
Gil Soares e António Daniel. O primeiro porque tenho estado a trabalhar no
projeto do CLUB ALFA, eu na conceção e ele na construção arquitetónica e acho
que será um bom exemplo de como as pessoas, mesmo em cores partidárias
diferentes, se podem unir e traçar bons projetos para a comunidade. O segundo,
António Daniel, porque considero-o o filósofo de Fafe e teremos muito que
aprender com as suas palavras.
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