Boa tarde cara juliana, agradeço-te por teres disponibilidade em participar nesta entrevista.
TENHO VINDO A ACOMPANHAR O TEU PERCURSO PROFISSIONAL e confesso que o teu perfil de empresária de MODA com loja online em crescente evolução, com sede em LISBOA, mas com produção em fafe, sensibilizou-me a seres a próxima empresária, a convidar para as minhas entrevistas.
Neste sentido, a minha
primeira pergunta é da praxe e é mais pessoaL.
Gostava que me partilhasses as
tuas origens e o teu percurso escolar e formativo. Gostavas de estudar ou eras
mais virada para o trabalho prático? Tens alguém na tua família ou amigos como
modelo empreendedor?
Olá Filipe,
muito obrigada por este convite que tanto me honra! E deixo-te, desde já, os
meus parabéns pela tua dedicação a este projeto tão altruísta!
Vivi e
estudei em Fafe até aos 18 anos. A minha mãe era professora primária e o meu
pai era comercial na indústria têxtil. Até essa idade, já tinha pensado em mil
profissões que gostava de aprender. Foram várias as áreas que me foram
despertando a curiosidade, mas quando me imaginava na situação de executar, na
prática, cada uma delas, abandonava a ideia e saltava para a seguinte.
Em
paralelo, em casa, no meu mundo, o que eu gostava mesmo era de desenhar, fazer
a roupa das minhas bonecas, passar tardes com a minha tia, que era costureira,
a idealizar os meus vestidos e a vê-la a fazê-los. Ao domingo, as primas
juntavam-se em casa dos avós e bordávamos, fazíamos tapetes, tricot…
Em Fafe
não havia a opção de escolhermos design no 10.º ano, então segui científico-natural
para não me separar das minhas amigas. Mas quando cheguei ao 12.º, percebi que
não me identificava com as perspetivas de futuro, então mudei-me para o Porto e
acabei por entrar na universidade, no curso de psicologia. Mais uma vez, a
minha curiosidade induziu-me em erro e, ao fim de dois anos, percebi que embora
a área me fascinasse, não queria fazer disso a minha vida. Não sinto que tenha
sido em vão e ainda hoje leio livros sobre comportamento humano. Aceito que fez
parte do meu percurso e que me enriqueceu.
Mas finalmente senti-me em casa
quando comecei o meu curso de Estilismo, na Escola de Moda do Porto. Ao fim de
2 anos de curso, ao contrário dos meus colegas que escolheram ateliers para
estagiar, eu escolhi fazer um estágio na indústria pois interessava-me perceber
esse lado mais prático da área e que senti que o curso não me tinha dado.
Estagiei na fábrica da nossa conterrânea Fernanda Marinho, que trabalhava para
o grupo Inditex.
No fim do estágio,
um cancro na tiroide obrigou-me a parar durante um ano. Costumo dizer que foi a melhor coisa que me aconteceu, pois fez-me repensar tudo e tomar a decisão de lutar
com todas as minhas forças para conseguir fazer o que gosto da minha vida.
Então voltei a estudar, frequentei outro curso de Design de Moda, mas desta vez
na melhor e mais exigente escola do país, o Citex (hoje Modatex). Aqui sim,
senti que me estavam a dar todas as bases que eu procurava. Fiz um estágio em
Lisboa, com uma designer que admirava e regressei ao Porto, com o projeto de
abrir a minha loja/atelier, a Miau Frou Frou. Na ocasião, a minha família achava
isto uma loucura, por não ser um caminho certo e seguro. Mas foi precisamente
na família que fui buscar todo o apoio para concretizar este sonho.
Como surgiu a ideia inicial de seres empreendedora?
Eu nunca
tive a ideia consciente de ser empreendedora. Isso era apenas um meio para eu
conseguir fazer o que me dava prazer: criar livremente. Tive a Miau Frou Frou durante
8 anos, onde testei vários formatos: tive loja própria, vendi para outras lojas
de criadores nacionais, por todo o país, e tentei a exportação, apresentando
coleções em alguns mercados, em Paris e Londres.
Depois, conheci o meu marido,
o Hélder, e tomei a decisão de vir morar para Lisboa. Aqui senti imensas
dificuldades em formar uma equipa, a nível de produção, e encerrei a empresa.
Dediquei-me a dar aulas por 3 anos, mas não me sentia realizada sem criar.
Desafiei a minha cunhada Cati e, durante mais de meio ano, delineamos toda a
estrutura do que viria a ser a OYEZ. Passado meio ano, a Cati recebeu uma
proposta profissional da sua área (arquitetura), muito exigente, e passou a ser
humanamente impossível conciliar com a OYEZ. E eu tomei a decisão de agarrar o “monstro”
em que a OYEZ se estava a transformar e seguir em frente.
neste sentido a tua Loja
de vestuário para mulher on-line @oyezstore que diriges atualmente foi criada
em 2019.
conta-nos mais sobre a trajetória da tua loja de vestuário até à data
de hoje, partilhando as suas atividades, os seus produtos, os seus serviços e
sua dimensão em termos de mercado geográfico com esta aposta do on-line
Lançar uma marca
dirigida para o mercado de vendas online, depois de toda a minha experiência,
parecia-me uma ideia bastante simples. Então toda a minha energia foi
direcionada para tudo o que está por detrás disso, o invisível. Arranjar os
fornecedores que me agradassem, a confeção certa, a gráfica que melhor executasse
o meu design de packaging, a transportadora que se adequasse às minhas
necessidades de entrega no dia a seguir…etc
Até que chega o
dia do lançamento do nosso website e das nossas páginas de redes sociais e vejo
o quanto me tinha enganado. Todos os inícios se dão com zero seguidores. E
agora? Foi nesse momento que percebi que a venda online seria o maior desafio
da minha vida e que não bastava ser boa designer e desenrascada como até então.
Desde que lancei
a OYEZ que me dedico imenso a estudar marketing digital, a definir e redefinir
estratégias, tudo sozinha. Hoje, sim, considero-me uma designer/empresária.
Tudo é pensado
em Lisboa, onde tenho o meu atelier. Desenho as coleções e até há pouco fazia
os moldes, os protótipos, o corte e enviava para Fafe para a confeção. Daí
regressava tudo para Lisboa, para eu embalar e enviar para as clientes.
Hoje, com o
crescimento da empresa, vem tudo a Lisboa primeiro, onde eu faço o design,
conto com ajuda nos moldes, o corte é feito numa empresa em Alenquer, segue
para a confeção em Fafe e é entregue para embalar e enviar para as clientes. É
um pouco louco este modelo, mas acho que me habituei a tudo estar à distância
de um email, mensagem ou telefonema. Tanto que acabo de contratar mais uma
pessoa para me ajudar na parte burocrática, apoio ao cliente e registo de
envios, que mora a 10 minutos da OYEZ e, no entanto, tratamos de tudo online.
A OYEZ chega a
todos os pontos do país (acho tão curioso ir ver onde são determinadas terras)
e conta já com algumas clientes fiéis em vários outros países, como a Holanda,
Suiça, Luxemburgo, Angola, entre outros.
Quais são as
dificuldades que encontras na gestão do dia a dia da tua empresa?
Talvez o
facto de ter de estar sempre em muitas frentes, ao mesmo tempo. Tenho uma lista
alucinante de coisas diárias para fazer. Passo de uns temas para outros, a toda
a hora. Agora design, agora controlo de qualidade, depois atendimento ao
cliente, gestão das redes socias, contabilidade, envios…e ainda dou aulas!
Quais são as maiores
satisfações e desilusões que tiveste, até agora, com a tua empresa?
A minha
maior satisfação é quando as minhas clientes identificam a OYEZ nas redes
sociais ou me enviam as suas fotos com as minhas peças. Aí tudo fica real e
vejo que tudo vale a pena.
Desilusão é
uma palavra muito forte. Nem sempre tudo corre como foi planeado, mas isso faz
parte do processo de crescimento. Creio que não há nada neste caminho que tenho
percorrido com a OYEZ que possa dizer que me desiludiu.
Conseguir
delegar mais. Costumo dizer que quanto mais delego mais ganho tempo para
trabalhar!!
que no fundo é ganhar tempo para crescer!
Quais são as
características pessoais mais importantes para a tua empresa? Isto é, que
importância dás às relações externas na tua empresa? E para ti como empresária,
quais são os contactos mais importantes? Fornecedores, clientes, pessoas
influentes?
A OYEZ é
uma empresa de proximidade. Conhece a história de muitas das suas clientes e de
todas as pessoas com que trabalha. Fornecedores, colaboradores,
influenciadoras, todos são importantes para aquilo que é a OYEZ, mas sem dúvida
que o nosso foco são as clientes. É para elas que crio.
Como te vês como
pessoa? Como lidas com o fracasso e o sucesso?
Vejo-me como um work in progress! Sempre em busca de ser melhor, mais fiel à minha essência, independentemente das expetativas que possam ter sobre mim. Gosto de me testar e de sair da zona de conforto, é nesses momentos que vejo do que sou feita e me sinto mais próxima de mim.
Este
trabalho que faço comigo também se aplica à melhoria da minha capacidade de
lidar com o fracasso. Nunca soube lidar muito bem com coisas que não me correm
tão bem, por isso sou tão esforçada e perfecionista. Isto traz-me benefícios profissionais,
mas é muito exigente e desgastante. Estou numa fase de transformação, em que
quero começar a aceitar com ligeireza que nem tudo é perfeito.
Consegues conciliar, no
teu dia-a-dia, a vida profissional e pessoal?
Vou dar a resposta honesta e não a bonita e
esperada. É muito difícil e no último ano isso basicamente não aconteceu. Tenho
trabalhado horas sem fim, fins de semana, feriados e até nas férias. Felizmente,
o Hélder ajuda-me imenso, tenho uns pais inacreditáveis e umas amigas que valem
ouro.
Mas tenho a esperança de em breve conseguir
ter uma vida muito mais equilibrada e conseguir desligar do mundo de vez em quando!
No teu percurso de
empresária, queres partilhar um momento único positivo ou negativo ou até
anedótico que te marcou?
Posso destacar como um momento positivo que
marcou um ponto de viragem para a marca que foi no início da pandemia, no ano
passado. Tinha acabado de mudar de casa e fazer a nova coleção de verão, quando
ficamos confinados. Não sabia até quando ia durar aquela situação e tinha uma
coleção para fotografar e lançar e não podia chamar uma equipa de modelos, fotógrafo,
etc. Então saí à rua no meu novo bairro, que não conhecia assim tão bem, vesti
eu própria a minha coleção e o meu marido fotografou-me com o telemóvel. Foi um
boom! Dupliquei tudo, desde número de seguidores, engagement e vendas. O público identificou-se muito mais com uma pessoa real e
numa idade mais parecida às suas.
Se tivesses um conselho
a dar a uma jovem empreendedora, na tua área, perante o estado atual da
Economia, qual seria?
Desde que acabei o curso que oiço que a
economia não está boa para investir. Se me deixasse assustar por isso, nunca me
tinha lançado para nenhum dos meus projetos. Claro que temos de ser conscientes
e às vezes saber dar baby steps, mas o meu conselho seria qualquer coisa do tipo não arrisques tanto
que possas perder tudo, nem tão pouco que te impeça de saber que vais
conseguir.
Finalmente, transitando
a nossa entrevista para uma parte mais pessoal, pretendia saber qual é tua
visão SOBRE A IMPORTÂNCIA DO MUNDO DIGITAL PARA AS LOJAS DE MODA?
A pandemia veio revelar a importância do mundo digital para as lojas de
moda. Há um mundo da moda antes da pandemia e depois da pandemia. Se antes era
possível ser-se altamente rentável só com a venda em loja, acredito que hoje
isso será muito mais difícil, porque as pessoas habituaram-se a comprar a
partir de casa, o que obrigou os empresários a explorarem também as vendas
online. Mas atenção, que é outro modelo de negócio completamente diferente. Não
basta ter o produto e publicar umas fotos. Mas, no plano teórico, consegue-se
alcançar um público mais vasto.
O que esta pandemia trouxe de bom para o modelo de negócio online é que
fez com que muitas pessoas que nunca antes tinham comprado online, o começassem
a fazer. Confiaram, correu bem e ficaram fãs.
tenho as seguintes
perguntas e peço-te uma palavra ou frase de resposta para cada uma delas:
Hobbies?
Ioga,
caminhadas e passear.
Local de Férias
preferido?
Filipinas.
Adoras?
Viajar, conhecer sítios e culturas diferentes.
Detestas?
Perder
tempo em deslocações.
Descreva o teu dia
perfeito quando não estás a trabalhar
Um dia de
praia com mergulhos no mar.
Qual é tua música
preferida?
Tenho
várias, mas vou destacar uma que já o é há muitos anos: a Cafe de Flore, de
Doctor Rockit.
qual foi o filme que te
marcou?
O fabuloso
destino de Amelie Poulin.
um livro?
O poder do agora,
de Eckhart Tolle
Prato preferido?
Nasi goreng.
Restaurante preferido?
JNcQUOI Asia,
em Lisboa.
PODES ME PARTILHAR 3
coisas que estão na tua lista de desejos?
Comprar um
bilhete só de ida e o primeiro hotel e passar um mês a viajar pela Ásia.
Fazer uma
viagem de autocaravana.
Fazer um
retiro espiritual.
Desporto preferido?
Ioga
Qual é o teu clube?
Digo que
sou do Benfica, mas na verdade não gosto de futebol.
Se não fosses empresária,
eras?
Talvez uma
hippie que vivia em comunidade...
Se tivesses a
oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o quê?
Não mudava
nada, pois tudo o sou é consequência do que fiz até hoje, mesmo as escolhas
erradas, que também as fiz.
O que representa Fafe
para ti?
Significa ir à terra. Só quem mora longe sabe
o poder desta frase. Não trocava o Natal em Fafe por nenhum outro.
Se amanhã, fosses uma
eleita político local em Fafe, que medidas no setor económico ou noutro
implementarias?
Estou muito distante dessa realidade para
poder dar a minha opinião. Já não moro em Fafe há 22 anos. Só sei que me dá
tristeza ver a cidade vazia aos sábados e domingos à tarde. Onde se metem as
pessoas?
Talvez apostasse na promoção de mais atividades/eventos e movimentos
culturais para atrair as pessoas à cidade.
Qual é a tua regra de
Ouro?
Tenho
poucas regras, mas há uma bem antiga e popular que para mim é super-valiosa e
se aplica, tanto a nível profissional, como pessoal – “não deixes para amanhã o
que podes fazer hoje”.
Há algo mais que
gostarias de dizer, que não foi abordado?
Acho que já
falei demais. O meu respeito por quem ler isto até ao fim!
Um
beijinho para todos!
A MARCA OYEZ ON-LINE:
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