domingo, 27 de junho de 2021

“UM OUTRO OLHAR” – NUNO, UM FAFENSE QUE DECIDIU TRANSFORMAR CONHECIMENTO EM VALOR

 


Bom dia nuno, desde já, agradeço-te por teres disponibilidade PARA REALIZAR esta entrevista.

tenho vindo a acompanhar o teu percurso profissional, COM ORGULHO E AMIZADE QUE NOS UNE HÁ mais DE 25 ANOS. PARA TAL, ALÉM DO teu PERCURSO ascendente, O teu PERFIL DE EMPREendedor DE SUCESSO que criou uma start up, em 2005, EM braga, DEDICADA À CONSULTADORIA EMPRESARIAL E AO APOIO À GESTÃO, JUNTAMENTE COM três OUTROS EMPREENDEDORES ORIUNDOS, TAL COMO tu, da eSCOLA DE ECONOMIA E GESTÃO DA UNIVERSIDADE DO MINHO, SENSIBILIZARAM-ME a seres o próximo a convidar para a nossa entrevista.

Podes-me partilhar as tuas origens, o teu percurso escolar e formativo. Gostavas de estudar? o teu pai É um comerciante de sucesso num ramo diferente da tua empresa: foi ELE o teu modelo como empreendedor? Como surgiu a ideia inicial de ser empreendedor?

Agradeço o teu convite e aproveito desde já para enaltecer esta iniciativa a que te tens dedicado. 

Reconheço a importância de dar a conhecer projetos empreendedores, uma vez que o nosso sistema de ensino não está vocacionado para dar este tipo de resposta às novas gerações. Neste momento, estás a dar destaque a casos que consideras de sucesso. 

Porém, é igualmente importante analisar exemplos pior sucedidos, pois é nas dificuldades que aprendemos verdadeiramente e é onde acabamos por nos reinventar e ficar melhor preparados para encarar o futuro.

Eu vivi no centro da cidade de Fafe até entrar na Universidade. O meu percurso formativo começou no infantário da Santa Casa da Misericórdia. Apesar de me considerar um “bom aluno”, aprendi muito fora dos bancos da escola. Enquanto vivi em Fafe, destaco as funções de dirigente do GEN - Grupo Ecológico Natureza (projeto do professor Rui Adérito, uma das referências que tive), a criação do Movimento “Todos pelo Cine-Teatro” (que me permitiu privar com outro mestre, o professor Miguel Monteiro) e a participação na coletânea “Festa da Poesia” (um desafio da professora Rosinda Costa Leite que me estimulou a publicar títulos individuais). Paralelamente, estive dedicado desde muito cedo ao jornalismo, assumindo uma colaboração muito intensa com a rádio e com os jornais de Fafe à época.

O ambiente familiar foi certamente importante. A minha mãe era professora primária e incutiu-me a dedicação ao estudo e o cumprimento rigoroso dos afazeres escolares. O meu pai, acabou por me permitir um contacto com a iniciativa privada (Ourivesaria Costa Leite), com a vertente do negócio, a importância dos princípios e dos valores em tudo na nossa vida e mostrou-me os sacrifícios a que um empresário está sujeito. 
O meu empreendedorismo esteve sempre muito associado à capacidade de iniciativa e, ainda hoje, acredito muito nisso: empreender não é criar negócios, empreender é atitude, capacidade de iniciativa e vontade de mudança.
 

o grupo EDIT VALUE, que diriges atualmente com o cristiano, o MANUEL e o ANDRÉ, nasceu em 2005, no concelho de braga. hoje é uma organização reconhecida no mercado e vencedora de várias distinções.

conta-me mais sobre a trajetória fantástica da vossa empresa até à data de hoje, que tem crescido de forma sustentável, partilhando as suas atividades, os seus serviços e a sua dimensão em termos de mercado.

Quando fui estudar para Braga, tinha conseguido a transferência da licenciatura de Gestão na UTAD para a licenciatura em Administração Pública na Universidade do Minho, na qual tive oportunidade de conhecer os meus colegas de curso e futuros sócios. O Manuel, sendo também de Fafe, só o conheci na Universidade e chegámos inclusive a partilhar casa. O Cristiano vinha de Santo Tirso e apenas o André era mesmo de Braga.

No ensino superior, envolvi-me em várias atividades extracurriculares. Já era vice-presidente da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) quando decidi candidatar-me a Presidente do Centro de Estudos de Administração Pública (CEAP) com a presença dos meus futuros sócios. A partir daí, estivemos os 4 envolvidos por alguns anos no associativismo estudantil (tanto na AAUM como no CEAP), e fizemos um trabalho notável que ainda hoje é lembrado no contexto universitário.

Esta experiência permitiu que nos conhecêssemos melhor num contexto de trabalho, mais profissional, onde éramos desafiados a gerir entidades, projetos/iniciativas e pessoas. Foi muito exigente, implicou uma entrega total, mas acabou por ser deveras enriquecedor e gratificante. Só experiências como estas nos poderiam permitir abrir um negócio sem termos experiência profissional. Por isso, acabámos o curso, dedicámos muitas horas a planear o nosso projeto e ao fim de um ano estávamos a abrir a primeira empresa. 
O nosso Plano de Negócios foi encarado com muita seriedade e empenho. Demorámos 6 meses a fazê-lo. A empresa foi constituída em 28 de outubro de 2005 e só em março de 2006 é que nos anunciámos ao mercado. Queríamos ter tudo preparado previamente para estarmos devidamente capacitados para começar a receber clientes.

A Edit Value é hoje uma referência no mercado. Presta serviços de Apoio à Gestão, atuando em três áreas fundamentais: Gestão Financeira; Gestão Estratégica; e, Gestão do Capital Humano. 

Especializou-se no segmento das start ups, micro e pequenas empresas, valorizando a informação crítica para o processo de tomada de decisão. Disponibiliza aos seus clientes tecnologia online que permite à gestão de topo acompanhar toda a evolução do negócio. Somos uma equipa composta por mais de 30 pessoas, em que todas elas possuem, no mínimo, uma licenciatura. Trabalhamos com centenas de clientes, maioritariamente privados e localizados na região Norte litoral, mas temos clientes em Lisboa e noutros pontos do país. Lidamos com empresários de várias nacionalidades. Neste momento, temos escritórios em Braga e também no Porto, onde abrimos escritórios em 2019.

A Universidade do Minho reconheceu desde o início o caráter inovador do nosso projeto empresarial e atribuiu-nos o estatuto de spin-off académico. Somos a primeira e única empresa até hoje com esse estatuto na Escola de Economia e Gestão (EEG), o que nos permite uma relação de proximidade com os nossos mentores científicos que são professores / investigadores da EEG e um acesso privilegiado aos recursos da própria universidade. Em 2020 comemorámos o nosso 15.º aniversário. Ao longo destes anos, recebemos várias vezes o estatuto de PME Líder e de PME Excelência atribuído pelo IAPMEI e, nos últimos 3 anos consecutivos, fomos considerados uma das 100 Melhores Empresas para Trabalhar em Portugal pela Revista Exame.

Neste momento, a Edit Value é uma holding, empresa-mãe que criámos em 2018 e que mantém os 4 sócios fundadores. Estava na hora de reestruturarmos o grupo e as suas áreas de negócio. Por isso, o grupo Edit Value é hoje composto por mais 5 empresas: Edit Value Braga (onde a Paula Ferreira passou a ser nossa sócia); Edit Value Porto (onde a Andreia Leite também entrou para a sociedade); Estratégica Edit Value; Capital Humano Edit Value (onde a Sandra Araújo é a sócia principal); e, PLACEME - Mediação Imobiliária (onde o Júlio Lima é o sócio responsável por esta área de negócio). A PLACEME é uma imobiliária localizada dentro do Campus de Gualtar da Universidade do Minho que assegura o alojamento universitário e que, cada vez mais, é uma opção para clientes investidores da Edit Value que procuram diversificar o risco dos seus investimentos.
 



Quais são as dificuldades que encontras na gestão do dia-a-dia da vossa empresa?

A nossa maior dificuldade é termos, há vários anos, uma elevada procura pelos nossos serviços. Nunca quisemos crescer desmesuradamente nem pretendemos expandir por via da criação de um franchising, apesar de termos todas as condições para o fazer. Optámos por um crescimento mais lento, mas orgânico, inspirado no modelo de rede afiliada.

Para além disso, a gestão de pessoas e a inovação são os nossos maiores desafios. Preocupamo-nos em assegurar as melhores condições para quem trabalha no grupo Edit Value, conscientes de que é um investimento necessário à retenção de talento. As pessoas são o ativo mais precioso que temos e, por isso, é fundamental garantir que a empresa corresponde e supera as suas expectativas.

Por outro lado, a inovação é a palavra-chave. Estamos sempre a questionar o que fazemos, a fazer vigilância tecnológica e de mercado e a melhorar os nossos processos e serviços. Somos adeptos da melhoria contínua e estamos sempre focados no valor acrescentado do serviço, na eficiência dos processos e na eliminação do desperdício (seja ele qual for).
 

Quais são as maiores satisfações e desilusões que tiveram, até agora, com a vossa empresa?

As maiores satisfações estão na equipa que temos, que se identifica com a nossa visão e valores e que “veste a camisola” todos os dias. Sabemos que os resultados alcançados derivam do trabalho coletivo que fazemos. A nossa notoriedade como marca é cada vez maior e os stakeholders com quem nos relacionamos também assumem um papel importante no reconhecimento que temos no território onde atuamos.

As desilusões também fazem parte da história das empresas. Como em tudo na vida, nada é perfeito e é necessária uma resiliência grande para superá-las. Felizmente, as desilusões não têm tido grande expressão no nosso percurso e, quando surgem, esforçamo-nos para aprender com elas e centramo-nos naquilo que podemos melhorar no futuro. Sabemos bem quem somos, o que fazemos e como o fazemos…
 

Quais são os próximos desafios para a vossa empresa?

Os próximos desafios já estão em curso e traduzem-se na continuidade do processo de expansão da Edit Value para outros pontos do país e numa competente gestão das pessoas.

Em relação à expansão, temos aprendido por experiência própria e a abertura da Edit Value no Porto é uma aposta ganha. Pretendemos alargar para outros pontos do país mas, apesar de já o podermos fazer hoje, decidimos adiar para 2022 a abertura de uma nova unidade (o trabalho que a pandemia nos exigiu desgastou-nos imenso).

Quanto à gestão de pessoas, lançámos agora um novo modelo de “onboarding” para melhorar ainda mais o processo de integração de novos elementos na equipa. Reavaliámos o processo de flexibilidade trabalho-família que já temos a vigorar há vários anos e, entre outras melhorias, implementámos o programa “Home Office” em que nos disponibilizamos a instalar um escritório na casa dos nossos colaboradores, proporcionando-lhes a opção de trabalhar a partir de casa nalguns dias da semana. 

Envolvemos alguns elementos na estrutura societária das empresas a que estão mais intimamente ligados, como mais uma forma de premiar o mérito e reter o talento. Estamos a iniciar os trabalhos em matéria de sucessão empresarial, por forma a irmos alicerçando um plano que salvaguarde este nosso projeto, mesmo perante uma presença menos ativa dos sócios fundadores.
 



Quais são as características pessoais mais importantes para a vossa empresa? Isto é, que importância dão às relações externas na vossa empresa? E para vocês como empresários, quais são os contactos mais importantes? Fornecedores, clientes, pessoas influentes?

No que toca à equipa da Edit Value, e até às novas contratações, aquilo que mais valorizamos são as soft skills, ou seja, as competências comportamentais. Para nós, o mais importante é a compatibilidade dos valores pessoais com os valores da empresa, pois é isso que nos dá identidade enquanto grupo e alimenta a cultura organizacional que nos caracteriza. Em termos técnicos, basta que o colaborador tenha um curso superior, pois a parte técnica nós conseguimos ensinar no contexto de trabalho. O contrário é que é bem mais difícil de se conseguir!

Quanto às relações externas, é facto que temos uma rede muito alargada de contactos com incubadoras, centros tecnológicos, universidades, etc. e que isso é uma grande mais-valia. Todavia, foi algo que surgiu naturalmente. O mesmo aconteceu com os clientes pois felizmente nunca tivemos necessidade de fazer trabalho comercial e procurar novos clientes. Se fizermos bem o nosso trabalho, as pessoas acabam por vir ter connosco e assim se constrói uma carteira de clientes consolidada ou uma boa rede de contactos.
 

Como te vês como pessoa? Como lidas com o fracasso e o sucesso?

Tendo a ser um otimista e, às vezes, faço-o de forma desmesurada. Acredito sempre que é possível, e isso nem sempre depende só de nós próprios. Quando as coisas não acontecem como desejado fico introspetivo por uns tempos a praticar a aceitação até que algo novo me desperte para outras direções.
 

Consegues conciliar no teu dia-a-dia, a vida profissional e pessoal?

Não é fácil mas é algo que se pratica e que se pode sempre melhorar. Procuro sempre esse equilíbrio… porque não é bom sinal quando a balança desequilibra para um dos lados. O facto de ser uma preocupação da empresa e de existirem mecanismos instituídos para facilitar essa gestão, é algo muito positivo. Sei que com o nascimento do meu primeiro filho neste Verão, as exigências serão outras, mas acredito que tudo se há-de ajustar e resolver.

 
tens um conselho a dar a um jovem empreendedor perante o estado atual da Economia?

O mais importante é termos a consciência de que empreendedorismo é a nossa forma de estar e de ser. Podemos ser empreendedores por conta própria mas também podemos ser excelentes empreendedores por conta de outrem. O perigo está em olharmos para a criação de um negócio como forma de resolver um problema de emprego. O estado atual da economia não me diz muito. A Edit Value nasceu numa altura de crise, tem atravessado várias crises ao longo dos anos e não é isso que tem interferido no nosso caminho. 

 
A crise atual associada à Pandemia COVID-19, afetou a vossa empresa na vossa forma de trabalhar? na competitividade da empresa, nas relações com os clientes? De forma negativa ou positiva?

A pandemia afetou e muito o nosso trabalho. Antecipámo-nos sempre na resposta a dar e nas mudanças a operar. Não ficámos à espera das indicações estatais para o fazermos e avançámos de pronto com um Plano de Contingência que foi revisto várias vezes de acordo com o curso dos acontecimentos.

Tivemos de recorrer ao teletrabalho e passámos a utilizar a videoconferência como nunca o tínhamos feito. Até a documentação que nos é entregue pelos clientes tinha de ficar em quarentena e seguia um protocolo específico. O volume de alterações legislativas e de apoios e incentivos, para as empresas responderem às dificuldades, foi de tal forma que nos obrigou a um trabalho hercúleo. Estivemos sempre a apoiar os nossos clientes, a anteciparmo-nos às situações e a esclarecer as “zonas cinzentas da lei” pois as medidas saíam e ninguém sabia muito bem como iam ser operacionalizadas.

Como em tudo, tivemos clientes cujo negócio beneficiou muito com a pandemia e outros em que aconteceu precisamente o contrário. Às vezes, sentíamos que éramos um hospital, só que em vez de tratarmos pessoas, ajudávamos a tratar das empresas e dos negócios.
 


Finalmente, tenho as seguintes perguntas e peço-te uma palavra ou frase de resposta para cada uma delas:

 
Hobbies?

Colecionar moedas e relógios de bolso/pulso antigos. Ler. Praticar desporto. Ouvir música. Viajar.
 

Local de Férias preferido?

Gosto muito de viajar e não tenho tendência a repetir destinos. Quando o faço, até é mais em Portugal e aí o Alentejo e o Douro são os meus destinos preferidos.

 
Adoras?

Natureza.
 

Detestas?

Mau ambiente, energias negativas.
 

DescrevE o teu dia perfeito quando não estás a trabalhar

Natureza, família e amigos.
 

Qual é A tua música preferida?

Gosto de vários estilos, desde que tenham qualidade. Mas a minha música preferida é aquela a que chamo de música da “velha guarda”.

 
qual foi o filme que te marcou?

São muitos os que tenho na “prateleira de cima”. Filmes como “Dead Poets Society” ou “ Cinema Paradiso” são presenças obrigatórias.
 

Prato preferido?

Qualquer prato da cozinha tradicional portuguesa, mas uma petinguinha com arroz de feijão é qualquer coisa…
 

sobremesa preferida?

Não sou apaixonado por doces. Prefiro muito mais os salgados.
 

PODES-ME PARTILHAR 3 coisas que estão na tua lista de desejos?

Reduzir drasticamente a minha atividade profissional aos 50 anos. Dedicar-me à minha família, podendo passar cada vez mais tempo com o meu núcleo familiar. Voltar à escrita. Viajar ainda mais… Ter mais tempo para desfrutar da Natureza.
 

Desporto preferido?

Futebol.
 

Qual é o teu clube?

Como sabes, não temos os mesmos gostos. Curiosamente, este foi o primeiro ano em que me esqueci que tinha um clube… Até deixei de ver os jogos de futebol.
 

Se tivesses a oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o quê?

Olhando hoje para trás, percebo que tudo fez parte do trajeto e que tudo foi necessário para ser quem sou hoje, para ter chegado até aqui.
 

O que representa Fafe para ti?

Fafe representa sempre muito porque faz parte das minhas origens, apesar de ter entrado na universidade aos 17 anos e de viver há mais tempo em Braga do que em Fafe.
 

Se amanhã, fosses eleito COMO político local em fafe, que medidas no setor económico ou noutro implementarias?

Prefiro não lançar medidas avulsas (até porque a primeira coisa a fazer-se seria a elaboração de um bom Plano Estratégico para o concelho), mas reconheço que há muito a fazer em Fafe. Sinto que Fafe é uma cidade estagnada há muitos anos que deveria ter outras aspirações e proporcionar um ambiente mais favorável ao desenvolvimento e, também, à retenção dos jovens.

Atrevo-me a dizer que o último investimento verdadeiramente estrutural foi a aquisição, restauro e revitalização cultural do Teatro Cinema de Fafe… a cuja reabertura assistimos em 2009.
 

Qual é a tua regra de Ouro?

“Sê tu próprio” [Nietzsche]


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