segunda-feira, 24 de maio de 2021

O CALVÁRIO DE FAFE


Vista do centro da vila de antanho antes da construção do Jardim/Passeio Público
c. 1890


«Está este Calvário em um monte por cima de Fafe seis centos passos e outros tantos defronte da igreja para Sul. He daqui huã das mais aprazíveis vistas desta freguesia porque se descobrem quasi todas as povoações e por isso, para o licito divertimento, he frequentado este sitio dos Cavalheiros e nobres d’esta terra.» (1)

 

O “Calvário” de Fafe, lugar sagrado, cuja origem perde-se no tempo, guardião do “Vale das Estevas”, miradouro privilegiado para as serranias, o pequeno promontório é o ponto mais elevado da cidade de Fafe.

Durante muitos séculos, transeuntes da “estrada real”, que ligava a velha “Vimmaranes” à Vila medieval, cabeça do clássico concelho de Monte Longo, contemplaram o “Calvário”, onde já existia um pequeno templo, que no século XVIII era votado ao Senhor do Calvário, demolido na centúria seguinte. Em 1890 o executivo camarário mandou “despejar” os habitantes dos prédios do Calvário para ser construído o “passeio público”. Um jardim exótico de influência brasileira, que foi inaugurado em 26 de Dezembro de 1892. Albino de Oliveira Guimarães um dos maiores altruístas “brasileiros” de Fafe foi o grande impulsionador deste jardim romântico. Um dos mais emblemáticos melhoramentos de uma Vila em pleno desenvolvimento, muito pela acção filantrópica de fafenses “brasileiros” de torna viagem.



Frontispício do jardim no limiar do séc. XX 


O “passeio público” foi orgulho dos fafenses ao longo de muitas décadas. Foi destino obrigatório, mormente em tardes de domingo; um ponto de encontro para todas as classes sociais.

Em inícios do século XX, o edílico jardim do Calvário era o recreio de ar livre da Vila; o barco, trazido da Póvoa de Varzim, não tinha descanso no acanhado lago; no coreto, as bandas de música animavam o ambiente delicioso, onde casais de namorados trocavam olhares indiscretos sob a discreta vigilância paternal. Foi um tempo distinto, em que os fafenses valorizavam e sentiam orgulho nas conquistas públicas, na afirmação de uma das mais prósperas Vilas da região. O bairrismo estava presente, a velha “justiça de Fafe” era motivo de vaidade, um cartão-de-visita apreciado por cá e além-fronteiras.

O centenário Jardim do Calvário foi, por ventura, local de inspiração para outros empreendimentos numa terra em expansão, ávida de progresso, legitimamente orgulhosa dos seus filhos que tanto trabalharam para o seu engrandecimento.

A caminho dos 130 anos de existência o jardim do Calvário foi alvo de algumas intervenções, que, infelizmente, foram alterando o exotismo romântico do mais belo espaço para lazer do centro cívico da cidade.

Falta-lhe a concorrência de outros tempos, a animação que há muito deveria ter sido incrementada: recriações epocais, concertos de música, bar, tertúlias, cinema de ar livre e outras actividades que dinamizariam aquele “oásis” em pleno centro urbano, que deveria ser valorizado e mais frequentado. Mais importante que as placas comemorativas de “inaugurações” atemporais seria colocar informação histórica do principal jardim da cidade, um legado patrimonial que, decorridos 128 anos perdeu a genuinidade de outrora.

(1 (1)   Manuscrito: “Monografia do concelho de Fafe” pelo pároco de Fafe, João de Sousa Homem, datado de 4 de Julho de 1736. (Arquivo Distrital de Braga).




Vista do Jardim nos anos de 1900



Frontaria principal do Jardim do Calvário 
Arquivo 2016



Vista do interior do Jardim do Calvário
Arquivo 2016










   

 


 

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