«Está
este Calvário em um monte por cima de Fafe seis centos passos e outros tantos
defronte da igreja para Sul. He daqui huã das mais aprazíveis vistas desta
freguesia porque se descobrem quasi todas as povoações e por isso, para o
licito divertimento, he frequentado este sitio dos Cavalheiros e nobres d’esta
terra.» (1)
O “Calvário” de Fafe, lugar sagrado, cuja origem perde-se no tempo, guardião do “Vale das Estevas”, miradouro privilegiado para as serranias, o pequeno promontório é o ponto mais elevado da cidade de Fafe.
Durante muitos séculos,
transeuntes da “estrada real”, que ligava a velha “Vimmaranes” à Vila medieval,
cabeça do clássico concelho de Monte Longo, contemplaram o “Calvário”, onde já
existia um pequeno templo, que no século XVIII era votado ao Senhor do Calvário,
demolido na centúria seguinte. Em 1890 o executivo camarário mandou “despejar”
os habitantes dos prédios do Calvário para ser construído o “passeio público”.
Um jardim exótico de influência brasileira, que foi inaugurado em 26 de
Dezembro de 1892. Albino de Oliveira Guimarães um dos maiores altruístas
“brasileiros” de Fafe foi o grande impulsionador deste jardim romântico. Um dos
mais emblemáticos melhoramentos de uma Vila em pleno desenvolvimento, muito
pela acção filantrópica de fafenses “brasileiros” de torna viagem.
O “passeio público” foi orgulho dos fafenses ao longo de muitas décadas. Foi destino obrigatório, mormente em tardes de domingo; um ponto de encontro para todas as classes sociais.
Em inícios do século XX, o edílico
jardim do Calvário era o recreio de ar livre da Vila; o barco, trazido da Póvoa
de Varzim, não tinha descanso no acanhado lago; no coreto, as bandas de música
animavam o ambiente delicioso, onde casais de namorados trocavam olhares
indiscretos sob a discreta vigilância paternal. Foi um tempo distinto, em que
os fafenses valorizavam e sentiam orgulho nas conquistas públicas, na afirmação
de uma das mais prósperas Vilas da região. O bairrismo estava presente, a velha
“justiça de Fafe” era motivo de vaidade, um cartão-de-visita apreciado por cá e
além-fronteiras.
O centenário Jardim do
Calvário foi, por ventura, local de inspiração para outros empreendimentos numa
terra em expansão, ávida de progresso, legitimamente orgulhosa dos seus filhos
que tanto trabalharam para o seu engrandecimento.
A caminho dos 130 anos de
existência o jardim do Calvário foi alvo de algumas intervenções, que,
infelizmente, foram alterando o exotismo romântico do mais belo espaço para
lazer do centro cívico da cidade.
Falta-lhe a concorrência de outros
tempos, a animação que há muito deveria ter sido incrementada: recriações
epocais, concertos de música, bar, tertúlias, cinema de ar livre e outras
actividades que dinamizariam aquele “oásis” em pleno centro urbano, que deveria
ser valorizado e mais frequentado. Mais importante que as placas comemorativas
de “inaugurações” atemporais seria colocar informação histórica do principal
jardim da cidade, um legado patrimonial que, decorridos 128 anos perdeu a
genuinidade de outrora.
(1 (1) Manuscrito:
“Monografia do concelho de Fafe” pelo pároco de Fafe, João de Sousa Homem,
datado de 4 de Julho de 1736. (Arquivo Distrital de Braga).
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