domingo, 18 de abril de 2021

“UM OUTRO OLHAR” – SÍLVIA COSTA, UMA EMPRESÁRIA TÊXTIL COM VISÃO SUSTENTÁVEL E DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

 


Bom dia cara amiga sílvia, desde já, agradeço – te por teres disponibilidade em participar nesta entrevista.

EU JÁ TE CONHEÇO HÁ MAIS DE 20 ANOS, E TENHO VINDO A ACOMPANHAR O TEU PERCURSO PROFISSIONAL, COM ORGULHO E AMIZADE.

PARA TAL, ALÉM do TEU PERCURSO, O TEU PERFIL DE EMPRESÁRIa DE SUCESSO, SENSIBILIZARAM-ME A TE CONVIDAR PARA A NOSSA ENTREVISTa.

Neste sentido, a minha primeira pergunta é da praxe e é mais pessoal, Gostava que me partilhasses as tuas origens e o teu percurso escolar e formativo. Gostavas de estudar ou eras mais virada para o trabalho prático?

Olá, bom dia, meu amigo Filipe!

Obrigada pelo convite. O sentimento é recíproco. Desde já te saúdo pela iniciativa e tua proatividade. É importante haver pessoas como tu, que tenham vontade de mostrar o que há de bom na nossa sociedade!

Sou uma filha de Fafe.

A maioria dos meus estudos até ao 12º ano foram realizados em Fafe. Frequentei a escola primária junto ao centro de saúde, a Escola Prof. Carlos Teixeira e a Escola Secundária de Fafe. Estive 1 ano no colégio S. Gonçalo em Amarante. Posteriormente, formei-me, no curso de Gestão de Empresas, no Instituto Politécnico Portucalense.
Fui sempre uma aluna média. Gostava de estudar, mas confesso que também gostava bastante de tarefas práticas. Fui sempre habituada a tarefas domésticas a trabalhar nas férias na empresa dos meus pais. Lidei desde tenra idade com vendas de vestuário e outros artigos têxteis, por isso havia uma mescla de interesses entre académicos e profissionais.

 
Como surgiu a ideia de seres empreendedora?

Comecei a trabalhar muito cedo, aos 21 anos, ainda não tinha sequer acabado o meu curso.
Sempre fui bastante obstinada em tudo o que decidi fazer. Nesse sentido, junto dos meus pais que tinham uma empresa de bordados e estavam a iniciar a exportação de vestuário em malhas senti um estímulo muito forte para ajudar e principalmente aprender na prática.
Comecei em posição de liderança, agarrava e vencia ou desistia. Começou assim a minha escalada de empreendedorismo!
 

neste sentido a empresa familiar que diriges atualmente, foi criada em 1995, em fafe, pelos teus pais, com o nome Josborda, Lda. atualmente, a empresa tem sede em guimarães com nova designação: bless internacional, lda. conta-nos mais sobre a trajetória da vossa empresa até à data de hoje, partilhando as suas atividades, os seus produtos, e sua dimensão em termos de mercado.

Em 1995 a JOSBORDA, LDA inicia atividade com fabricação bordados e pouco depois também inicia a exportação de artigos de malhas, alargando assim o mercado em que opera. Com 4 máquinas de bordar - 3 com 12 cabeças e 1 com 15 cabeças. Trabalhávamos para clientes nacionais.
Abracei o projeto em 1997 como responsável da área dos bordados, e os meus pais com a confeção de artigos em malha para a Holanda e Alemanha.  Os principais mercados eram criança e senhora.

Entretanto a JOSBORDA dedica-se apenas à exportação e eu fico a 100% na área comercial. Domino inglês falado e escrito. Tenho facilidade em francês, espanhol e alemão.
Desde então desenvolvi a empresa com novos clientes e mercados estando sempre ao leme. Os meus pais estiveram comigo até 2012/2013, altura em que se reformaram e a JOSBORDA passa a ser apenas minha.

Em 2014 cogito obras na empresa para modernizar. A questão que me coloco é se devo ou não ficar em Fafe, pois, apercebo-me do potencial económico da cidade vizinha quer a nível de incentivos fiscais, condições comerciais e condições estruturais.

Fafe é, sem dúvida a cidade onde nasci, fui criada, vivi a minha juventude, mas como qualquer filho, precisamos de voar para expandir horizontes.
Nesta fase, em pleno processo de mudança, tomei a decisão de alterar o nome da firma. Apesar do reconhecimento no mercado, JOSBORDA, em termos de marketing no mercado internacional nosso core não seria o “nome” mais apelativo. Foi fundamental, fazer devidamente a ponte junto dos nossos principais clientes e fornecedores.

Em termos de produtos e know-how, digo com orgulho que BLESS - INTERNACIONAL tem grande facilidade de adaptação.
Fruto de toda a nossa criatividade, trabalho e de todos os ensinamentos adquiridos ao longo de todo o projeto.
A BLESS é hoje uma empresa que exporta para toda a União Europeia. Recentemente temos, inclusive, explorado novos mercados fora da UE, imagina que até para a China já vendemos.
Tivemos a oportunidade de expandir o nosso mercado para oriente com a exposição em Macau a convite da Câmara Municipal de Guimarães - GUIMARÃES MARCA – Projeto da Divisão Económica do qual fazemos parte desde 2016 (um grande input do Município de Guimarães ao seu tecido empresarial)
Na Bless usamos matérias-primas diversas, misturamos malhas, tecidos e feitios, uma diversidade de artigos, que nos permitem oferecer aos nossos clientes, produtos diferenciados, que superam os desafios de todos os dias deste mercado.

No seguimento da nossa visão, em 2016 a Bless certifica-se GOTS, em 2019 torna-se membro SMETA SEDEX.
A responsabilidade social, o desejo de participar ativamente na preservação dos recursos do nosso planeta desafia-nos a implantar na BLESS qualidade de trabalho, transparência, procura de matérias-primas que preservem. Os nossos clientes sabem que estamos à altura deste desafio global.

Neste momento, estamos a trabalhar em novas certificações de modo a que a nossa pegada ecológica e humana se reflita nos nossos produtos.




Quais são as dificuldades que encontras na gestão do dia a dia da tua empresa?

Nos dias de hoje a oscilação de mercado de compra de matérias-primas. A verdade, a especulação que temos vivido nestes últimos dois anos são sem sombra de dúvida a dificuldade maior do dia a dia. Todo o resto faz parte.
 

Quais são as maiores satisfações e desilusões que tiveste, até agora, com a tua empresa?

A maior satisfação é vê-la crescer em qualidade – quer Humana quer económica. Tem sido uma escalada satisfatória.
As desilusões essas felizmente não me recordo com facilidade, pois tenho tido a felicidade de transmutar o que chamam de desilusões em oportunidades, aprendizado. Aprendi com o tempo, a experiência e com pessoas que passam pelo meu caminho a ver sempre – “ o copo meio cheio meio vazio”. Desilusões e satisfações teremos todos os dias da nossa vida!
Gerir expectativas é também o segredo.
 

Quais são os próximos desafios para a tua empresa?

A evolução tecnológica do sector e a mão de obra especializada em Portugal ao nível da confeção.
 

Quais são as características pessoais mais importantes para a tua empresa? Isto é, que importância dás às relações externas na tua empresa? E para ti como empresária, quais são os contactos mais importantes? Fornecedores, clientes, pessoas influentes?

Penso que todas as relações são importantes. Sem bons fornecedores não poderemos ter bons clientes, sem as pessoas influentes poderemos não conhecer certas realidades. Entendo por pessoas influentes aqueles que desempenham os seus cargos com profunda vontade de promover a sua comunidade. As relações externas são vitais para o desenvolvimento das empresas, para o seu crescimento.




Como te vês como pessoa? Como lidas com o fracasso e o sucesso?

Sou muito exigente, comigo e com os outros. Sou também compreensiva e humilde, alegra-me pensar que todos os dias aprendo. Sou uma adepta da organização e da regra.
Sou grata pelo que construí, procuro manter o equilíbrio nas vitórias e aprender com os erros. Na vida como nos negócios o segredo é saber lidar da melhor forma com a dicotomia – fracasso/sucesso- sucesso/fracasso.
 

Consegues conciliar, no teu dia-a-dia, a vida profissional e pessoal?

Sim felizmente, tenho uma organização e uma equipa que atualmente me permite conciliar melhor a vida profissional e pessoal.
Houve alturas que trabalhava mais de 14/15 horas para conseguir realizar todas as tarefas empresariais. Só não fazia moldes, corte e expedição, restantes tarefas tinha de estar presente em todas, a minha pequena tinha uma expressão quando eu chegava a casa: “Mãe tens muitos preços para fazer hoje? Ou mãe, falta muito para acabar?” faz parte.  
 

No teu percurso de empresária, queres partilhar um momento único positivo ou negativo ou até anedótico que te marcou?

O dia em que recebi a minha primeira encomenda de 50.000 unidades. Achei que estava a fazer mal a soma das quantidades. Pedi ajuda aos colegas para verificar a soma!
Foi hilariante!
 

Se tivesses um conselho a dar a um jovem empreendedor perante o estado atual da Economia, qual seria?

Sejam fiéis à vossa ideia, persistentes e conscientes que o mercado está repleto de oportunidades. Não subestimar as outras e encarrar os desafios e mudanças como uma oportunidade e não como ameaças.
 

A crise atual associada à Pandemia COVID-19, afetou-vos na vossa forma de trabalhar? na competitividade da empresa, nas relações com os clientes? De forma negativa ou positiva?

Afetou de ambas as formas – positiva e negativamente.

De forma positiva porque houve uma certa desaceleração de processos, o mercado mudou na procura de melhor qualidade. Estamos mais perto dos nossos clientes e dos nossos fornecedores, pois houve necessidade de nos apoiarmos quer a nível de gestão de encomendas que a nível de tesouraria. Foi positivo ver como as empresas se podem conciliar e criar convergências para encarar a crise.

O aspecto negativo é que temos cada vez menos tempo para preparar e produzir encomendas, o mercado evita o stock, e a nossa reação/ação tem de ser mais rápida, mais ajustada às necessidades do mercado. Estamos a transformar este desafio esta mudança num ponto positivo!
 



Finalmente, transitando a nossa entrevista para uma parte mais pessoal, pretendia saber qual é tua visão, dado que lidas diariamente com o setor da moda, sobre o futuro do setor textil e da Confeção de vestuário da região do ave, mais particularmente em fafe e guimarães, as suas fragilidades e suas potencialidades?

Relativamente à visão, entendo que Portugal terá sempre mercado, temos historicamente um tecido industrial têxtil com inúmeras empresas e valências, estou convencida que o know how das empresas vai ser determinante. Os portugueses são cativantes inovadores e trabalhadores. A evolução informática é um desafio para todos, o 3D vai permitir às empresas apresentar produtos com mais rapidez, mais detalhe e maior rigor, é o futuro e estamos a adaptar-nos.

Aqui em Guimarães temos grandes empresas de cariz familiar que já contam com algumas gerações. Guimarães é um município muito ativo e atento às suas empresas. Temos algum apoio para a inovação, marketing, formação. Temos uma diversidade muito grande de empresas ligadas à moda – vestuário, têxteis-lar e até mesmo joalharia o que potencia as oportunidades.

Em Fafe tenho de confessar que não vejo grandes apoios para as empresas se fixarem e criarem riqueza. Gostaria de ver a minha terra mãe mais dinamizada quer ao nível de incentivos locais aos empreendedores. Os jovens acabam por não ficar. Condições estruturais, apoios a start-ups. Começar uma empresa carece de diferentes tipos de investimento para potenciar o produto ou serviço.

Em termos de fragilidades, posso te dizer que Guimarães está a crescer, a diversificar a sua indústria acabando por criar mais oportunidades de trabalho em vários setores, a captação de mão de obra qualificada para o sector têxtil pode ser o maior desafio .  Fafe precisa de encontrar o fator fixador!

Quanto às ptencialidades, Guimarães tem infraestruturas criadas, é uma cidade dinâmica. Fafe é uma cidade relativamente recente, com toda a sua história ligadas aos Brasileiros que regressaram, tem a proximidade rural, o conhecimento têxtil. Apesar de ser uma cidade pequena tem qualidade de vida. A facilidade de acessos é uma mais valia. A BLESS continua a ter laços muito grandes com Fafe – empresas subcontratadas e alguns fornecedores. Mais de 50% dos nossos colaboradores são de Fafe. Portanto as potencialidades são imensas quer a nível Social quer a nível económico.
 

tenho as seguintes perguntas e peço-te uma palavra ou frase de resposta para cada uma delas:

Hobbies?

Pintura e alguma leitura.
 

Local de Férias preferido?

Todos são bons desde que não faça nada relacionado com a minha habitual rotina!
 

Adoras?

Ver filmes
 

Detestas?

Sujidade, coisas fora do sítio...
 

Descreva o teu dia perfeito quando não estás a trabalhar

Estar com a família e amigos numa esplanada, ou num bom almoço ou jantar. Viajar! Também gosto muito de um momento só para mim, tratar-me na esteticista, massagista. São estas as coisas que gosto!
 

Qual é tua música preferida?

Adoro Bonnie Taylor
Quase todas dos U2 - One é uma das minhas favoritas
Waterboys – the whole of the moon
Marisa- Melhor de mim (emociono-me sempre… )
Entre tantas outras… estas foram as que me lembrei agora
 



qual foi o filme que te marcou?

Comer, Orar e Amar
DJANGO, sei lá… são tantos filmes que adorei ver..
 

um livro?

Vários…. O monge que vendeu o seu Ferrari de Robin Sharma
Alguimia de Paulo Coelho
Retrato de Sépia de Isabel Allende.
 

Prato preferido?

Tenho vários! A vitela assada, um bom peixe na brasa, Shushi, comida italiana.
 

Restaurante preferido?

Claro, o do meu irmão – DUHO!
 

PODES ME PARTILHAR 3 coisas que estão na tua lista de desejos?

Agora, agorinha mesmo quero ir de férias ou pelo menos fazer uma jantarada ou almoçarada! Estou mesmo com saudades.
 

Desporto preferido?

Pilates
 

Qual é o teu clube?

Futebol Clube do Porto mas não sou muito conhecedora de futebol
 

Se não fosses empresária, eras?

Não sei… nunca me imaginei…
 

Se tivesses a oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o quê?

O contacto com empresas onde pudesse adquirir conhecimentos – estágios nacionais e internacionais
 

O que representa Fafe para ti?

A terra que me viu nascer e crescer.
 

Se amanhã, fosses uma eleita político local em Fafe, que medidas no setor económico ou noutro implementarias?

Tudo aquilo que tenho vindo a dizer nesta nossa entrevista..
Canalizava incentivos diretos para os jovens se fixarem, criava dentro dos possíveis apoios ao ensino profissional e industrial. Menos burocracias…. 
Para mim a chave é simplificar o acesso através de pequenos núcleos. Tudo o que envolva circuitos longos faz perder foco, produtividade. O sistema deveria ser mais prático, transparente e objetivo. Estas palavras são transversais a qualquer sector. 
Mesmo agora com o COVID-19 os fundos não foram na minha opinião bem canalizados. Deveria haver mais envolvimento local. Se pudesse mudava o funcionamento da máquina, mas não só local. As alterações deveriam ocorrer em toda a pirâmide.
 

Qual é a tua regra de Ouro?

Acreditar todos os dias que faço o melhor por mim e pelos meus. Seguir o meu instinto, o meu coração.
 

Há algo mais que gostarias de dizer, que não foi abordado?

Apenas desejar que a tua rubrica continue!



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