domingo, 4 de abril de 2021

“UM OUTRO OLHAR” – MARGARIDA E MARTA, DUAS AMIGAS EMPRESÁRIAS COM ESPÍRITO COOPERATIVO DE EXCELÊNCIA



Bom dia margarida e marta, desde já, agradeço–vos pela disponibilidade em participar nesta entrevista.

tenho vindo a acompanhar o vosso percurso profissional, e confesso que o vosso perfil de empresárias, ASSOCIADO ao setor da arquitectura e da engenharia, através das vossas empresas geridas individualmente, mas que para o cidadão comum são uma única empresa, sensibilizou-me a serem as próximas a convidar para a nossa entrevista.

Gostava que cada uma Das duas partilhasse comigo as vossas origens, o vosso percurso escolar e formativo. Gostavam de estudar ou eram mais virados para o trabalho prático? Têm alguém na vossa família ou amigos como modelo empreendedor?

Margarida: Antes de mais gostaríamos de agradecer o teu convite e a oportunidade para conversarmos um pouco sobre nós e mostrarmos aquilo que fazemos.

O meu percurso escolar foi realizado, na sua maioria, em Fafe. Fiz a escola primária na antiga e velhinha escola P3. Do 5º ao 9º ano frequentei a Escola Profº Carlos Teixeira e entre o 10º e 12º ano a Escola Secundária de Fafe. O percurso universitário foi realizado na Universidade do Minho onde me licenciei em Engenharia Civil em 2006. 

Ainda na Universidade fui convidada para dar aulas como monitora e começou aí o meu percurso profissional em 2005. O último ano na universidade foi bastante desafiante, entre ter aulas e dar aulas, mas bastante recompensador também. A minha ligação à Universidade do Minho continuou e após terminar o curso realizei a minha especialização em Térmica de Edifícios e também uma pós-graduação em Reabilitação Sustentável das Construções.

Sempre gostei de estudar, fui sempre boa aluna e mesmo depois da licenciatura nunca deixei de apostar na formação contínua. Na minha opinião é fundamental para o nosso trabalho como engenheiros a constante atualização de conhecimentos.

Marta: Desde já obrigada pelo convite! 

O meu percurso escolar começou em Fafe na antiga “Delegação escolar”, onde frequentei a primária, seguindo-se a escola Prof. Carlos Teixeira desde o 5º ao 9º ano. Daí, como em Fafe na altura não havia o agrupamento de Artes, fui para a escola Francisco de Holanda do 10º ao 12 º, em Guimarães, com o intuito de ingressar no curso de Arquitectura. 

Era determinada e entrei na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP). Fiz o primeiro estágio no antigo IGESPAR, frequentei algumas formações da ordem dos arquitectos e conclui um curso de aptidão pedagógica, que me permitiu uma experiência única e sociológica de lecionar desenho técnico num curso de carpintaria.

Sempre tive na família grandes exemplos de empreendedorismo, de trabalho e de muita dedicação, com quem tenho o privilégio de conversar muitas vezes sobre o tema, e que pelos bons exemplos que transmitem, me permitiram avançar neste projeto.



Como surgiu a ideia de ser empreendedora?

Margarida: Foi um processo natural depois de 8 anos a trabalharmos em gabinetes distintos de engenharia e arquitectura, embora já em cooperação, foi a evolução espectável de quem “queria fazer mais”.

Marta: Foi natural. Já tínhamos trabalhado juntas várias vezes, já conhecíamos a forma de trabalhar uma da outra e, portanto, o passo seguinte era fazê-lo num mesmo espaço, perspetivando novas oportunidades que haveriam de estar inerentes a esta “ligação formal”.


atualmente, cada uma das duas gere a sua própria empresa, desde 2019, no mesmo local, em fafe. 

No entanto, noto que uma grande parte das pessoas, pensa que ambas gerem uma única empresa. contem-me mais sobre a trajetória da vossa empresa até à data de hoje, partilhando as suas atividades, os seus produtos e serviços e sua dimensão em termos de mercado.

Margarida: Na realidade a nossa história como parceria técnica começou em Junho de 2014 quando decidimos partilhar um espaço e, cada uma, trabalhar em nome individual nos comummente chamados recibos verdes. Portugal atravessava um momento de recessão ainda sob influência da Troika e nenhuma de nós sabia muito bem como esta “aventura” iria evoluir. Por esse motivo optámos por esta solução de parceria em detrimento da fundação de uma empresa. Além disso, o facto das nossas áreas serem perfeitamente distintas, embora altamente complementares, também pesou nesta decisão de parceria.

A evolução do trabalho tem sido, desde então, muito positiva e crescente, e em 2019 avançámos ambas para a criação das nossas próprias empresas. Com as metodologias de trabalho bem definidas achámos por bem continuarmos em “modo parceria”. Portanto, eu criei a InTime Engenharia, Lda. com foco nos projetos de engenharia e certificação energética e a Marta a Marta Moreno Arquitectura, Lda. com os projetos de Arquitectura e Design de Interiores. Eu tenho 2 engenheiros a trabalhar comigo e que têm sido muito importantes para, em conjunto, fazermos evoluir esta empresa.


Marta:  Como em tudo, gostamos de dar passos seguros e consistentes. Abrimos o nosso espaço ainda numa altura de crise económica, inicialmente só as duas e como trabalhadoras independentes. O trabalho foi surgindo e cedo me apercebi que a equipa teria que aumentar para lhe conseguirmos responder mais eficazmente. Nessa altura juntou-se a nós o Rogério, também arquitecto e, com o tempo, a restante equipa, hoje composta por 2 arquitectos e 2 designers (equipa de arquitectura) e 3 engenheiros (equipa de engenharia). 

Em 2019, sentimos que estaria na altura de avançamos para empresas, cada uma com a sua, mas sempre com espírito de co-working e parceria, que se mantém até hoje.



Quais são as dificuldades que encontram na gestão do dia a dia das vossas empresas?

Margarida: A área da construção é, por si só, profundamente masculina e penso que, no início, a maior dificuldade foi talvez mostrar o nosso valor. Éramos duas “miúdas”, apesar da experiência na altura já ser de alguns anos, e bem …. éramos mulheres. Felizmente fomos sempre respeitadas mas confesso que por mais de um par de vezes senti discriminação em contexto de obra.

Neste momento, o desafio creio que passa mais pela gestão do excesso de trabalho. Não acontecerá só connosco obviamente, mas temos assistido a uma pressão muito grande para entregas muito rápidas de trabalho. É tudo “para ontem”! O cliente hoje em dia não quer ou não pode esperar. E isso torna-se desgastante em estruturas pequenas como a nossa. Estamos sempre no “red-line” como costumo dizer.


Marta: O primeiro, que penso ser transversal a todas as empresas da área, a burocracia que está associada à atividade. Legislação nem sempre assertiva, em constante alteração e nada “simplex”.

Depois, e talvez o mais desafiante, gerir o trabalho, determinar prioridades e não deixar que a equipa esmoreça, desanime.


Quais são as maiores satisfações e desilusões que tiveram, até agora, com as vossas empresas?

Margarida: Até ao momento não posso dizer que tenha tido alguma desilusão, muito pelo contrário. Temos crescido de forma contínua e sustentada. É claro que há momentos mais difíceis, mas até esses acredito que servem, mais que não seja, de aprendizagem, de perceber que “da próxima vez vamos fazer de maneira diferente”.

 

Marta: Como em tudo, há momentos bons e momentos menos bons, há projetos que correm bem e outros que correm menos bem e clientes fáceis e outros nem por isso, mas em tudo isto tentamos sempre retirar um ensinamento, ver o lado positivo, ainda que às vezes possa parecer difícil. A maior satisfação é quando o projeto e obra correm bem e no fim o requerente passa de cliente a amigo. É muito gratificante!



Quais são os próximos desafios para as vossas empresas?

Margarida: Na minha empresa pretendo continuar a apostar na formação contínua dos meus colaboradores e dotá-los, tanto quanto possível, de cada vez mais “softskills” e autonomia para que possamos procurar e investir em novas áreas de negócio. Entendo que é essencial para a evolução de uma empresa a procura constante de novos nichos de trabalho.

 

Marta neste momento estou a abrir um novo espaço, dedicado apenas à área de design de interiores, no centro da cidade, que espero que venha enriquecer aquilo que hoje já conseguimos oferecer- arquitectura, engenharia e interiores, mas agora num local, espero, mais aprazível e com área para showroom.


Como se vê cada umA como pessoa? Como lidam com o fracasso e o sucesso?

Margarida: Eu considero-me uma pessoa muito positiva. Sou do tipo “copo meio cheio”. Pessoalmente não entendo as situações menos boas como “fracassos”. Ainda que haja, sem dúvida, momentos menos positivos, entendo que faz mais sentido encará-los como experiências. Se correr tudo bem, ótimo! Se algo correr mal tento tirar uma aprendizagem disso.


Marta sou muito terra a terra. Não crio grandes expectativas, mas também não sou pessimista. Tenho a sorte de estar rodeada de “gente” boa e capaz que me anima nos momentos menos bons e festeja comigo nos de sucesso. Termos uma boa ancorarem é meio caminho para sabermos lidar com as duas situações. Sou na maior parte dos dias bem disposta e extrovertida, mas não me “queiram” ver em dias maus!



Conseguem conciliar cada uma, no vosso dia-a-dia, a vida profissional e pessoal?

Margarida: Ainda que o meu marido possa discordar, tento fazê-lo. Confesso que sou um bocadinho “workaholic”! Estou a tentar melhorar esse meu aspeto menos positivo.


Marta: Nem sempre é fácil, mas faço um esforço para que isso aconteça diariamente. Prezo muito o meu trabalho, mas prezo ainda mais a minha família. É um equilíbrio ténue que se aprende a gerir com o tempo e com aquilo que a vida nos vai mostrando como prioritário a cada altura.


Se tivessem um conselho a dar a um jovem empreendedor perante o estado atual da Economia, qual seria?

Margarida: Façam! Mexam-se! Não estejam à espera que as coisas vos caiam no colo! A sorte dá muito trabalho como se costuma dizer. Tenham uma atitude proactiva e apostem na vossa formação e na diferenciação em relação ao que já existe no mercado.


Marta: Se querem, se estão certos que querem, vão! Trabalhem! O esforço, normalmente, é recompensado! Optem por áreas diferenciadas, mas que vos deem prazer!



Finalmente, transitando a nossa entrevista para uma parte mais pessoal.

sendo vocês as duas, jovens empresárias com colaboradores todos eles licenciados, num território de baixa densidade; pretendia saber qual é vossa opinião, sobre a juventude e o talento em fafe, as suas fragilidades e suas potencialidades?

Margarida: Não tenho dúvida que Fafe tem jovens muito talentosos mas que por vezes se podem perder na burocracia que cá existe. Faz-nos falta políticas de apoio a jovens empreendedores e à fixação de empresas na região.


Marta: Como em tudo e em todo lado, há bons e maus profissionais, há maiores e menores talentos... se fosse apenas pela amostra que temos a trabalhar connosco diria que Fafe tem apenas gente com talento e gente capaz... mas para isso é preciso incentivos, é preciso oportunidades, é preciso apoios... é preciso deixar fazer e acontecer...



Finalmente, tenho as seguintes perguntas e peço, a ambas, uma palavra ou frase de resposta para cada uma delas:


HOBBIES?

Margarida: Crossfit
 
Marta: Planear eventos, festas, mesas... adoro!
 

Local de Férias preferido?

Margarida: Algarve no Verão. Qualquer capital europeia no Inverno.
 
Marta : Não dispenso uns dias no Minho, entre Viana do Castelo e Vilar de Mouros e depois  um qualquer destino por esse mundo fora. Não dispenso o citybreak com as amigas e sempre que posso uma viagem maior com a família.
 

ADORAS? 

Margarida: Viajar com a família, lanchar com as amigas do Crossfit no final de um treino longo de sábado, conviver com os amigos, ir ao cinema… Tantas coisas!
 
Marta: Rir, viajar, adoro viajar, jantar com amigos, proporcionar jantar, amigos e família, desenhar as mesas desses jantares, e acima de tudo, que esta pandemia tanto me roubou, estar com a minha família, jantarmos, almoçarmos, viajarmos todos juntos, como tanto gostamos.

 
DETESTAS?

Margarida: Peixe 
 
Marta: Que me contrariem!
 

Descreva o teu dia perfeito quando não estás a trabalhar

Margarida: Manhã de passeio pelos locais bonitos de Fafe (e que são tantos!) com a família. Tarde de treino na nossa Box762Fafe e depois à noite uma bela jantarada com os amigos.
 
Marta:  Não ter horas para acordar, almoçar numa esplanada e já estar a receber um telefonema para jantar, sem ter horas para acabar! A situação que estamos a atravessar não me permite pensar de outra forma!
 

QUAL é tua música preferida?

Margarida: Adoro música! É muito difícil escolher só uma...Mas sou tendencialmente roqueira.
 
Marta: tantas! Podia dizer uma qualquer música dum destes grupos ou de tantos outros. Depende do dia e da hora - Beatles, nouvelle vague, beck, thievery corporation, debussy
 


 
qual foi o filme que te marcou?

Margarida: Também adoro cinema! Tenho vários filmes preferidos. Alguns que me marcaram pela época histórica e especialmente depois de ter sido mãe: “A lista de Schindler”, “O rapaz do pijama às riscas”, “A vida é bela”, …
 
Marta adoro um bom filme! Sou do tempo em que domingo significava cinema no Arrábida!
Sei lá... Sideways, Big fish, O fabuloso destino de Amélie, O pianista...
 
 
um livro?

Margarida: Só perguntas difíceis! Adoro ler! Também é difícil escolher só um livro por isso vou dizer-te o que estou a ler de momento “Os segredos que o nosso corpo revela” do Alexandre Monteiro. É muito interessante.
 
Marta As cidades invisíveis de Ítalo Calvino, Cozinha Confidencial de Anthony Bourdain...
 
 
Prato preferido?

Margarida: Sushi! Eu sei que é um paradigma que uma pessoa que deteste peixe adore sushi mas eu sou mesmo assim 
 
Marta Tanto gosto de um robalo com espuma como de um belo cozido à portuguesa. Gosto de comida do mundo, de indiana a libanesa, mas nada como a nossa portuguesa!



 
RESTAURANTES PREFERIDOS?

Margarida: “Taberna do Sushi”, “Ora Diga”, entre outros. Sou um bom garfo 
 
Marta: Tantos! Posso dizer que como experiência gostei do sketch em Londres, mas fico muito feliz com um marisquinho em Matosinhos ou com um prato tradicional em muitos dos restaurantes da nossa cidade.
 
PODES ME PARTILHAR 3 coisas que estão na tua lista de desejos?

Margarida: Viagem a Nova Iorque, fazer um cruzeiro e voltar à Disney
 
Marta Assim de repente, que esta pandemia acabe, depois, talvez ir ao Japão e levar o Manel à Disney, viagem que está em standby, desde Março do ano passado!
 

Desporto preferido?

Margarida: Toda a minha vida fiz desporto, pratiquei natação federada durante 10 anos na Associação Desportiva de Fafe e não me vejo sem fazer desporto. Desde Dezembro de 2016 que pratico Crossfit e adoro! Criei amizades para o resto da vida!
 
Marta:  caminhadas, assim em modo passeio...
 

QUAL É O TEU CLUBE?

Margarida: Futebol Clube do Porto
 
Marta: Futebol Clube do Porto
 

Se não fosses empreSÁRIA, ERAS?

Margarida: Sinceramente, ainda que pudesse ser noutra área, acho que já não me veria de outra forma que não fosse como empreendedora.
 
Marta: O espírito está lá, acho que neste momento não me faz sentido outra coisa...
 

Se tivesses a oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o quê?

Margarida: Não mudava nada. Como já tive a oportunidade de dizer, acredito que tudo o que nos acontece tem uma razão de ser e servem-nos de vivências, sejam elas positivas ou negativas.
 
Marta: Acho que nada... não quer dizer que seja ou corra sempre bem, mas faz tudo parte de um processo... o meu processo!
 



O que representa Fafe para ti?

Margarida: É a minha casa.
 
Marta: É a minha família, a minha casa, onde volto sempre! Onde tenho os meus! Os de sempre.... onde gosto de vir com os meus filhos e marido! Onde me sinto em casa!
 
Se amanhã, fosses eleita político local, que medidas no setor económico ou noutro implementarias?

Margarida: Eu gostaria de ver uma maior política de investimento, e principalmente, uma política mais estruturada e pensada, por parte do município, para alavancar as empresas e a criação de emprego. Fafe tem, na minha opinião, um potencial enorme de evolução mas parece ter parado no tempo.
 
Marta: Começava por ter maior abertura na implantação de novas empresas, de novos investimentos... maior celeridade nas resoluções burocráticas... não é uma questão apenas local, é todo o sistema que teima em não ser mais ágil, mais imediato, por forma a não perder ou descartar o potencial investidor que aqui se quer fixar.
 

Qual é a tua regra de Ouro?

Margarida: De manhã é que se começa o dia. Sou uma “morning person”. Gosto de começar cedo a trabalhar. Acho que rende muito mais o dia.
 
Marta: Fazer, sobretudo, aquilo que gosto!
 

Há algo mais que gostarias de dizer, que não foi abordado?

Margarida: Sim, como desportista que fui na minha juventude, e que continuo a ser na verdade, gostava de incentivar as crianças e jovens a praticar um desporto. 
Embora possa não parecer, praticar um desporto na infância/juventude molda-nos enquanto ser humanos e futuros profissionais e empreendedores na medida que nos ensina a superar-nos, a lidarmos com as frustrações, com as dificuldades e também a adquirir competências sociais no relacionamento com as outras pessoas.
 
Marta: Deixar uma nota de agradecimento a todos que nos ajudaram a tornar possível este nosso projeto, sobretudo à nossa equipa, família e clientes. Obrigada!


Marta Moreno & Margarida Novais Arquitectura e Engenharia no FACEBOOK







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