Bom dia margarida e marta, desde já, agradeço–vos pela disponibilidade em participar nesta entrevista.
tenho vindo a acompanhar o vosso percurso
profissional, e confesso que o vosso perfil de empresárias, ASSOCIADO ao setor
da arquitectura e da engenharia, através das vossas empresas geridas
individualmente, mas que para o cidadão comum são uma única empresa,
sensibilizou-me a serem as próximas a convidar para a nossa entrevista.
Gostava que cada uma Das duas partilhasse
comigo as vossas origens, o vosso percurso escolar e formativo. Gostavam de
estudar ou eram mais virados para o trabalho prático? Têm alguém na vossa família ou amigos como modelo
empreendedor?
Margarida: Antes de
mais gostaríamos de agradecer o teu convite e a oportunidade para conversarmos
um pouco sobre nós e mostrarmos aquilo que fazemos.
O meu percurso escolar foi realizado, na sua maioria, em Fafe. Fiz a escola primária na antiga e velhinha escola P3. Do 5º ao 9º ano frequentei a Escola Profº Carlos Teixeira e entre o 10º e 12º ano a Escola Secundária de Fafe. O percurso universitário foi realizado na Universidade do Minho onde me licenciei em Engenharia Civil em 2006.
Ainda na Universidade fui convidada para dar aulas
como monitora e começou aí o meu percurso profissional em 2005. O último ano na
universidade foi bastante desafiante, entre ter aulas e dar aulas, mas bastante
recompensador também. A minha ligação à Universidade do Minho continuou e após
terminar o curso realizei a minha especialização em Térmica de Edifícios e
também uma pós-graduação em Reabilitação Sustentável das Construções.
Sempre
gostei de estudar, fui sempre boa aluna e mesmo depois da licenciatura nunca
deixei de apostar na formação contínua. Na minha opinião é fundamental
para o nosso trabalho como engenheiros a constante atualização de
conhecimentos.
Marta: Desde já obrigada pelo convite!
O meu percurso escolar começou em Fafe na antiga “Delegação escolar”, onde frequentei a primária, seguindo-se a escola Prof. Carlos Teixeira desde o 5º ao 9º ano. Daí, como em Fafe na altura não havia o agrupamento de Artes, fui para a escola Francisco de Holanda do 10º ao 12 º, em Guimarães, com o intuito de ingressar no curso de Arquitectura.
Era determinada e entrei na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP). Fiz o primeiro estágio no antigo IGESPAR, frequentei algumas formações da ordem dos arquitectos e conclui um curso de aptidão pedagógica, que me permitiu uma experiência única e sociológica de lecionar desenho técnico num curso de carpintaria.
Sempre tive na família grandes exemplos de empreendedorismo, de trabalho e de muita dedicação, com quem tenho o privilégio de conversar muitas vezes sobre o tema, e que pelos bons exemplos que transmitem, me permitiram avançar neste projeto.
Como surgiu a ideia de ser empreendedora?
Margarida: Foi um processo natural depois de 8 anos a trabalharmos em gabinetes distintos de engenharia e arquitectura, embora já em cooperação, foi a evolução espectável de quem “queria fazer mais”.
Marta: Foi natural. Já tínhamos trabalhado juntas várias vezes, já conhecíamos a forma de trabalhar uma da outra e, portanto, o passo seguinte era fazê-lo num mesmo espaço, perspetivando novas oportunidades que haveriam de estar inerentes a esta “ligação formal”.
atualmente, cada uma das duas gere a sua própria empresa, desde 2019, no mesmo local, em fafe.
No entanto, noto que uma grande parte das pessoas, pensa que ambas gerem uma única empresa. contem-me mais sobre a trajetória da vossa empresa até à data de hoje, partilhando as suas atividades, os seus produtos e serviços e sua dimensão em termos de mercado.
Margarida: Na
realidade a nossa história como parceria técnica começou em Junho de 2014
quando decidimos partilhar um espaço e, cada uma, trabalhar em nome individual
nos comummente chamados recibos verdes. Portugal atravessava um momento de
recessão ainda sob influência da Troika e nenhuma de nós sabia muito bem como
esta “aventura” iria evoluir. Por esse motivo optámos por esta solução de
parceria em detrimento da fundação de uma empresa. Além disso, o facto das
nossas áreas serem perfeitamente distintas, embora altamente complementares,
também pesou nesta decisão de parceria.
A evolução do trabalho tem sido, desde então, muito positiva e crescente, e em 2019 avançámos ambas para a criação das nossas próprias empresas. Com as metodologias de trabalho bem definidas achámos por bem continuarmos em “modo parceria”. Portanto, eu criei a InTime Engenharia, Lda. com foco nos projetos de engenharia e certificação energética e a Marta a Marta Moreno Arquitectura, Lda. com os projetos de Arquitectura e Design de Interiores. Eu tenho 2 engenheiros a trabalhar comigo e que têm sido muito importantes para, em conjunto, fazermos evoluir esta empresa.
Marta: Como em tudo, gostamos de dar passos seguros e consistentes. Abrimos o nosso espaço ainda numa altura de crise económica, inicialmente só as duas e como trabalhadoras independentes. O trabalho foi surgindo e cedo me apercebi que a equipa teria que aumentar para lhe conseguirmos responder mais eficazmente. Nessa altura juntou-se a nós o Rogério, também arquitecto e, com o tempo, a restante equipa, hoje composta por 2 arquitectos e 2 designers (equipa de arquitectura) e 3 engenheiros (equipa de engenharia).
Em 2019, sentimos que estaria na altura de avançamos para empresas, cada uma com a sua, mas sempre com espírito de co-working e parceria, que se mantém até hoje.
Quais são as dificuldades que encontram na gestão do dia a dia das vossas empresas?
Margarida: A área da
construção é, por si só, profundamente masculina e penso que, no início, a
maior dificuldade foi talvez mostrar o nosso valor. Éramos duas “miúdas”, apesar da
experiência na altura já ser de alguns anos, e bem …. éramos mulheres.
Felizmente fomos sempre respeitadas mas confesso que por mais de um par de
vezes senti discriminação em contexto de obra.
Neste
momento, o desafio creio que passa mais pela gestão do excesso de trabalho. Não
acontecerá só connosco obviamente, mas temos assistido a uma pressão muito
grande para entregas muito rápidas de trabalho. É tudo “para ontem”! O cliente
hoje em dia não quer ou não pode esperar. E isso torna-se desgastante em
estruturas pequenas como a nossa. Estamos sempre no “red-line” como costumo
dizer.
Marta: O primeiro, que penso ser transversal a todas as empresas da área, a burocracia que está associada à atividade. Legislação nem sempre assertiva, em constante alteração e nada “simplex”.
Depois,
e talvez o mais desafiante, gerir o trabalho, determinar prioridades e não
deixar que a equipa esmoreça, desanime.
Quais são as maiores satisfações e desilusões que tiveram, até agora, com as vossas empresas?
Margarida: Até ao
momento não posso dizer que tenha tido alguma desilusão, muito pelo contrário.
Temos crescido de forma contínua e sustentada. É claro que há momentos
mais difíceis, mas até esses acredito que servem, mais que não seja, de
aprendizagem, de perceber que “da próxima vez vamos fazer de maneira
diferente”.
Marta:
Como em tudo, há momentos bons e momentos menos bons, há projetos que
correm bem e outros que correm menos bem e clientes fáceis e outros nem por
isso, mas em tudo isto tentamos sempre retirar um ensinamento, ver o lado
positivo, ainda que às vezes possa parecer difícil. A maior satisfação é quando
o projeto e obra correm bem e no fim o requerente passa de cliente a amigo. É
muito gratificante!
Quais são os próximos desafios para as vossas empresas?
Margarida: Na minha
empresa pretendo continuar a apostar na formação contínua dos meus colaboradores e
dotá-los, tanto quanto possível, de cada vez mais “softskills” e autonomia para
que possamos procurar e investir em novas áreas de negócio. Entendo que é
essencial para a evolução de uma empresa a procura constante de novos nichos de
trabalho.
Marta
neste momento estou a abrir um novo espaço, dedicado apenas à área de
design de interiores, no centro da cidade, que espero que venha enriquecer
aquilo que hoje já conseguimos oferecer- arquitectura, engenharia e interiores,
mas agora num local, espero, mais aprazível e com área para showroom.
Como se vê cada umA como pessoa? Como lidam com o fracasso e o sucesso?
Margarida: Eu
considero-me uma pessoa muito positiva. Sou do tipo “copo meio cheio”.
Pessoalmente não entendo as situações menos boas como “fracassos”. Ainda que
haja, sem dúvida, momentos menos positivos, entendo que faz mais sentido encará-los como
experiências. Se correr tudo bem, ótimo! Se algo correr mal tento tirar
uma aprendizagem disso.
Marta sou muito terra a terra. Não crio grandes expectativas, mas também não sou pessimista. Tenho a sorte de estar rodeada de “gente” boa e capaz que me anima nos momentos menos bons e festeja comigo nos de sucesso. Termos uma boa ancorarem é meio caminho para sabermos lidar com as duas situações. Sou na maior parte dos dias bem disposta e extrovertida, mas não me “queiram” ver em dias maus!
Conseguem conciliar cada uma, no vosso dia-a-dia, a vida profissional e pessoal?
Margarida: Ainda que o meu marido possa discordar, tento fazê-lo. Confesso que sou um bocadinho “workaholic”! Estou a tentar melhorar esse meu aspeto menos positivo.
Marta: Nem sempre é fácil, mas faço um esforço para que isso aconteça diariamente. Prezo muito o meu trabalho, mas prezo ainda mais a minha família. É um equilíbrio ténue que se aprende a gerir com o tempo e com aquilo que a vida nos vai mostrando como prioritário a cada altura.
Se tivessem um conselho a dar a um jovem empreendedor perante o estado atual da Economia, qual seria?
Margarida: Façam! Mexam-se! Não estejam à espera que as coisas vos caiam no colo! A sorte dá muito trabalho como se costuma dizer. Tenham uma atitude proactiva e apostem na vossa formação e na diferenciação em relação ao que já existe no mercado.
Marta: Se querem, se estão certos que querem, vão! Trabalhem! O esforço, normalmente, é recompensado! Optem por áreas diferenciadas, mas que vos deem prazer!
Finalmente, transitando a nossa entrevista para uma parte mais pessoal.
sendo vocês as duas, jovens empresárias com colaboradores todos eles licenciados, num território de baixa densidade; pretendia saber qual é vossa opinião, sobre a juventude e o talento em fafe, as suas fragilidades e suas potencialidades?
Margarida: Não tenho
dúvida que Fafe tem jovens muito talentosos mas que por vezes se podem perder
na burocracia que cá existe. Faz-nos falta políticas de apoio a jovens
empreendedores e à fixação de empresas na região.
Marta: Como em tudo e em todo lado, há bons e maus profissionais, há maiores e menores talentos... se fosse apenas pela amostra que temos a trabalhar connosco diria que Fafe tem apenas gente com talento e gente capaz... mas para isso é preciso incentivos, é preciso oportunidades, é preciso apoios... é preciso deixar fazer e acontecer...
HOBBIES?
Sei lá... Sideways, Big fish, O fabuloso destino de Amélie, O pianista...
PODES ME PARTILHAR 3 coisas que estão na tua lista de desejos?
Se não fosses empreSÁRIA, ERAS?
Se tivesses a oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o quê?
Se amanhã, fosses eleita político local, que medidas no setor económico ou noutro implementarias?
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