O Teatro-Cinema é um dos principais
motivos de interesse arquitectónico da cidade de Fafe, constituindo, para a
época da sua abertura, um importante marco cultural. Era mesmo considerado pela
imprensa da época “Um dos melhores teatros do norte do País” e o melhor da
província.
A iniciativa de adquirir um velho
teatro existente no local e de o reconstruir deve-se ao ilustre fafense Dr. José
Summavielle Soares, que assim dotou a então vila de Fafe de uma soberba casa de
espectáculos que orgulhava (e ainda hoje orgulha) os fafenses. Concluída a obra
em Dezembro de 1923, a sua inauguração apoteótica ocorreu em 10 de Janeiro
seguinte, com a apresentação da peça “O Grande Amor”, pela companhia de Aura
Abranches.
A sua fachada, de decoração invulgar,
é de harmonioso recorte. Pintada em tom rosa e com desenhos de cúpidos alados,
como que a simbolizar o amor às artes.
A arquitectura do interior é em forma
de ferradura, com um tecto abobadado e decorado com motivos pictóricos alusivos
a músicos famosos (Chopin, Rossini, Haydn e Mozart), além da figuração do
firmamento.
O teatro tem uma lotação aproximada
de 300 lugares, incluindo a plateia, as frisas e os camarotes. Como espaço
lateral, destaca-se o magnifico salão nobre no 1º andar, a toda a largura do
edifício, onde na época áurea da vida social, se realizavam bailes de Carnaval,
manifestações de cultura e recreio e outras reuniões onde se juntava a
sociedade fafense mais ilustre.
As melhores companhias de teatro do
país da primeira metade do século XX por aqui passaram: Aura Abranches no dia
da inauguração, Lucília Simões, Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro, Chaby
Pinheiro, Maria Matos, entre outras.
Pouco depois da sua inauguração,
concretamente em Abril de 1924, também já exibia cinema. Naturalmente, mudo. Só
nos anos 30 chegaria o sonoro e em 1955 o Cinemascope.
Ao longo de mais de 50 anos, o
Teatro-Cinema apresentou inúmeros espectáculos de teatro e milhares de filmes,
além de manifestações de diversa índole.
Aquela casa foi ainda sede de
importantes comícios da oposição ao regime salazarista, aquando dos seus
principais momentos, designadamente as campanhas de Norton de Matos (1949) e
Humberto Delgado (1958), e as eleições a que concorria a Oposição Democrática,
em 1969.
Com o andar dos tempos, o edifício
foi-se degradando e deixou de ter condições para a exibição cinematográfica,
pelo que foi encerrado ao público em 1981, por determinação da Direcção Geral
de Espectáculos, por ameaçar ruína.
Encerrado durante 28 anos, a
Câmara Municipal conseguiu finalmente, em 2001, depois de aturadas negociações,
adquirir o imóvel, pelo montante de 2,5 milhões de euros.
Em 2008, foi adjudicada à Casais, S. A. a empreitada de recuperação do imóvel pelo valor de € 4.175.111,89. Todo o conjunto do Teatro-Cinema foi devida e pormenorizadamente restaurado no âmbito das obras de requalificação, bem como dotado das mais modernas condições de funcionamento e de utilização.
Por outro lado, em seu redor foi construído um edifício para apoio técnico às actividades do Teatro-Cinema e que inclui a instalação da Academia de Música José Atalaya.
O novo edifício inclui ainda uma sala polivalente – batizada com o nome de Manuel de Oliveira, em homenagem ao saudoso realizador português, com capacidade para cerca de 150 pessoas. Além da exibição de cinema, nessa sala realizam-se audições musicais e outros eventos.
TEATRO
DE FAFE
«… O Teatro de Fafe era um edifício velho, condenavel,
mas o adorável folho de Fafe sr. dr. José Summavielle Soares, adquiriu-o, fez
dele o teatro mais moderno, mais luxuoso, mais elegante, mais confortável que
em terras de província não existe e que nos grandes meios poucos existirão que
forneçam ao artista e ao publico tantas comodidades. Para isso não se tem
poupado a despesas, dotando o teatro com tudo quanto há de melhor.
A pintura é a mais fina, feita por artistas do Porto. O
mobiliário é luxuoso, artístico, confiado a uma das mais acreditadas casas do
Porto – “A Japonesa, Limitada».
Situado na rua Mgr. Vieira de Castro, em frente à
majestosa habitação do sr. Summavielle, o teatro, para ficar nas condições em
que fica, não podia senão ser adquirido por este senhor, pois que os terrenos laterais
e posterior, para onde cresceu o palco e onde se formaram os camarins,
pertencem ao sobredito senhor.
Adquirindo a velha casa de espectáculos, o grande e
admirável impulsionador de Fafe prestou mais um bom serviço a esta linda e
encantadora terra, pois a dotou com um edifício admirável que muito o honra e
que, se mais coisas não tivesse a perpetuarem-lhe o nome, o novo teatro era o
suficiente para isso.
Ampliado o palco, como dissemos, o teatro sofreu uma
transformação completa. Quem conhecia o velho casario e hoje ali entre,
defronta com um paraíso. Essa modificação excede a espectativa. Duas ordens de
camarotes, frisas, plateia vedada, com um pano de boca moderno, o geral
convidativo – o Teatro de Fafe há-de sobressair com a profusão de luz que vai
ter em noites de gloria como vae ser a da inauguração que nos dizem está para
os primeiros dias de Dezembro.
Ali há higiene, segurança contra incêndios: sim porque o
teatro está reconstruído nas mais modernas condições.
A entrada preserva contra os gelos do inverno.
O salão nobre vae ficar uma coisa surpreendente,
original, ultrapassando o timbre do luxo.
O frontispício está sofrendo uma pintura artística,
adaptável a asa de espectáculos.
Eis o que, em breves palavras, se nos oferece dizer do
Teatro de Fafe.
E, para rematar, vamos antecipando as mais entusiásticas
felicitações ao sr. dr. José Summavielle Soares».
IN: Jornal “O Desforço”, 8 Novembro 1923
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