terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O NATAL É QUANDO, AFINAL?

Muito se tem falado do atípico natal deste ano e de todas as contingências para o celebrar. Desde sempre ouvimos dizer que o natal é quando o homem quiser, mas agora apercebemo-nos que nem isso!

A história diz-nos que o natal começou como uma celebração do solstício de inverno, nas festas em honra de saturno, o NATALIS INVICTI SOLIS ou aniversário do sol invicto. O Papa Júlio I resolveu antecipar a festa do nascimento de Jesus de 6 de janeiro para esta data, numa tentativa de converter os romanos ao cristianismo, sem deixar de lhe associar uma festa. Os romanos definitivamente sabiam gozar bem a vida! Além disso, Dionísio o monge erudito matemático, criador da contabilização AC/DC (Antes de Cristo e Depois de Cristo) não considerou o ano 0 na sua contagem, porque na Europa não se conhecia este número criado pelos árabes. Numa boa teoria da conspiração, à moda de Hollywood, poderíamos até dizer que afinal ainda estamos em 2019! Sabemos que as cores associadas ao natal têm alguma ligação histórico-cristã, porque o vermelho simboliza o sangue de cristo, o dourado a luz e o verde, o renascimento e a esperança. Mas nem na história dos magos nos podemos fiar, porque na bíblia não é explicita a referência aos três. Ouro, incenso e mirra foram os presentes entregues, mas só na idade média aparecem os nomes e o upgrade para reis.

Conclui-se, portanto, que sim, o natal é quando um homem quiser, como, quando e onde puder! Mas acima de tudo que o natal são sabores, celebrações e memórias e essas ninguém nos pode tirá-las. Seja o sabor do jantar de família na tasca depois de fechar as portas ao povo, seja o cheiro do lume no natal da aldeia, de prato na mão porque não cabíamos 40 à mesa, seja o bacalhau assado na brasa, comido com broa no almoço da véspera, para dar energia à tarde toda passada em frente ao fogão.  

Só quando nos deixamos crescer é que nos esquecemos de tudo isto e queremos voltar a ser crianças. Só quando deixamos de escrever desejos de natal é que nos esquecemos da alegria que é receber. Só quando deixamos de sonhar é que nos esquecemos do que realmente queremos oferecer aos outros e não é na lista de compras que o vamos encontrar. Na França, por exemplo, é tradição de natal irmos fazer as pazes com alguém, simbolizando a reconstrução de elos e o início de uma nova jornada. Já na Irlanda faz-se um percurso a 12 pubs e deixa-se torta de carne e cerveja Guiness na chaminé ao Pai Natal, em vez das bolachinhas e do leitinho morno. 

Seja em tradição, em história, em memórias, seja em contagem AC/DC (Antes do Covid e Depois do Covid) o que realmente interessa é o natal que cada um de nós é capaz de viver dentro de si, celebrando um aniversário de luz invicta, despertando a capacidade de procurar a estrela que guie a direção dos seus sonhos e entregando o "ouro", "incenso" e "mirra" a quem mais amam, sejam eles traduzidos em tempo, espaço, amor ou apenas e só em futuro.

Clara Paredes Castro 











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