quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

“os TRASTES, é ver e ouvir!"

 

“os TRASTES” foram criados como intuito de enaltecer e valorizar a música tradicional portuguesa. Atualmente este grupo é composto por sete elementos, e caracterizam-se pelo rigor musical e pela animação e dinamismo em palco, que conciliado com uma grande produção (som, luz, vídeo led) resulta em performances ao vivo extraordinárias!!! A mistura de instrumentos tradicionais (concertina, cavaquinho, guitarra portuguesa) com baixo elétrico, bateria, flauta transversal e trombone conferem ao grupo uma sonoridade única e eclética. Apesar da ainda breve carreira “os TRASTES” são presença assídua nas rádios e televisões nacionais, onde se destacam participações em vários programas da televisão Portuguesa. “os TRASTES”, já realizaram vários espetáculos do norte a sul do país e contam já com três singles gravados: Menina d´Ouro" e "Serenata" e o mais recente "Vira das Raparigas". Para conhecermos melhor “os Trastes”, falamos com alguns dos elementos da banda, que nos ajudaram a perceber melhor, como tudo funciona, com este grupo, que já é considerado por muitos como a grande revelação da música tradicional Portuguesa.


Meus amigos, queremos em primeiro lugar agradecer a vossa disponibilidade e amabilidade acedendo participar nesta entrevista ao jornal de Fafe. E para começar, quero que nos contem, por favor, como surgiram os Trates?
Luís Miguel: numa conversa por telemóvel entre mim e o Zé, em plena autoestrada, onde surgiu a pequena ideia de criar um grupo "típico / tradicional" para-nos “divertirmos” no verão, "ganhar uns trocos" para poder beber umas cervejas e comprar um maço de tabaco (hehe). A ideia inicial foi a criação de um grupo meramente típico / tradicional", mas o caminho não nos levou para isso… 
Miguel Gonçalves: Alguns membros já frequentavam outros grupos em comum, e o projeto foi surgindo com o intuito de criar algo diferente e de maior valorização da música tradicional e popular portuguesa
Porquê o nome, os Trastes? 
Miguel Gonçalves: Os 'Trastes' são os travessões ao longo da escala dos instrumentos de corda dedilhada (guitarra, cavaquinho, braguesa, bandolim...) que definem a altura do som emitido por cada corda.
Joana Silva: Claro que existe também um duplo significado, que está associada à nossa prestação em palco, muito animada, divertida e brincalhona.
Quem são os Trastes?
Miguel Gonçalves: Os Trastes surgiu de um grupo de músicos da Universidade do Minho e alguns músicos de outros grupos em que também partilhamos palcos. Inicialmente o grupo era composto por: o José Teixeira, Guitarrista de Fafe, n'Os Trastes baixista e segunda voz; o Luís Leite, Guitarrista de Fafe, Vocalista e Guitarrista d'Os Trastes; o João Ramos (Caiaio) de Fafe, no Cavaquinho; o Bruno Leite de Felgueiras, na Concertina; eu, Miguel Gonçalves de Barcelos, Baterista do Grupo. Posteriormente ingressam no grupo: a Joana Silva de Ponte de Lima, na Flauta e segundas vozes; a Lisete Correia de Viana do Castelo, o ingresso mais recente para Trombone e segundas vozes.
João Ramos: Nós “os trastes” somos um grupo de jovens que como tantos outros gostamos de música, mas como a maior parte de nós já tínhamos andado em alguns "conjuntos" de música popular ou tradicional portuguesa resolvemos constituir um grupo de música tradicional portuguesa. Alguns dos elementos já se conheciam outros foram-se conhecendo como por exemplo na universidade. Em 2016 foi quando tudo isto começou. Apesar de termos a sede em Fafe nem todos nós somos daqui. Eu já conhecia o Bruno que vive em Felgueiras nosso tocador da concertina pois andávamos noutro grupo de música, o José Teixeira e o Miguel conhecia-os de andarmos aqui em Fafe na escola e noutras brincadeiras. Através deste projeto também conheci o nosso excelente baterista Vítor Miguel Gonçalves, de Barcelos a menina Joana, sempre muito profissional e também com “raízes” na música tradicional já que ela vem de Ponte de Lima. O nosso mais recente elemento a Lisete. Às vezes quando ensaiamos ou temos que nos juntar por algum motivo também tem que fazer alguns quilómetros porque ela é natural de Viana do castelo. Mas costuma-se dizer que quem anda por gosto não cansa, e aqui temos uma prova disso. Acho que faz sentido andarmos neste projeto de música tradicional portuguesa, visto que a maioria dos elementos são do nosso lindo e maravilhoso Minho. Dá-nos muito gosto e amamos este projeto.


Onde e quando ensaiam?
 
Miguel Gonçalves: Infelizmente o número de concertos ainda não justifica ensaios regulares, fazemos ensaios conforme os concertos com mais incidência antes do primeiro concerto de cada época. Os ensaios são em Fafe, dependendo do espaço que vamos tendo à disposição para cada ensaio.
Joana Silva: Normalmente ensaiamos num sítio que, carinhosamente apelidamos de “Couto”. Mudamos de local recentemente para um armazém situado na Fábrica de Ferro, que continuamos a apelidar de “Couto”. Em relação ao número de ensaios, fazemo-lo de forma consciente e proporcionais com o número de concertos.
Que balanço fazem destes 4 anos de atividade? 
Luís Leite: Houve, sem dúvida, um enorme crescimento da banda ao longos destes últimos 4 anos. Não só a nível de produção/espetáculo, como a nível profissional por parte dos músicos, da performance em palco e dos arranjos musicais que a gente tem levado a palco, todos eles feitos pelo José Teixeira.
Fico muito grato. Mais grato ainda fico quando se refere ao Paulo Matos por ser um agente ativo no crescimento da banda!
Sei que já atuaram em várias localidades, do nosso País, desde eventos com dimensão mais reduzida, até aos eventos de maior dimensão. De todos os espetáculos, houve algum que vos marcasse em especial?
Luís Leite:  Sem dúvida, para mim, os dois espetáculos nas Feiras Francas da cidade de Fafe (16 de maio)! Tanta gente… via-se que o pessoal curtia. Até os mais jovens (!), a dançar a nossa música com a cerveja na mão, inesquecível!
José Teixeira: Penso que um momento marcante foi o concerto em Vilar de Perdizes, no Congresso de Medicina Popular logo no nosso primeiro ano. Porque foi quando ganhamos consciência que não eramos apenas mais grupo típico! Tínhamos subido a palco ainda poucas vezes, e nessa altura os concertos que fizemos foram todos com apenas cinco elementos e uma sonoridade comum à generalidade dos grupos de música tradicional. Nesse concerto tu desafiaste-nos a fazer algo ainda melhor, mais bem trabalhado e adicionar novas sonoridades. Penso que esse foi um momento de viragem que nos mostrou o melhor caminho a seguir. Tenho também de mencionar os concertos em Fafe, em especial quando subimos ao palco do Teatro-Cinema, porque aqui sentimos sempre um carinho especial do público. Sentimos que aqui, apesar de sermos da casa conseguimos fazer “milagres”, contrariamente ao que diz o proverbio.
Algum sítio onde gostavam de atuar, mas que nunca tenham ido?
Luís Leite:  A brincar, o que eu mais desejava talvez seria atuar numa queima das fitas de Coimbra, Porto ou no Altice Arena. Num modo mais sério, se me permitem, no dia principal das Festas da Sra. de Antime (Fafe).
José Teixeira: Existem grandes palcos nacionais, como os Coliseus por exemplo, nos quais qualquer artista pretende atuar, assim como em festivais de grandes dimensões, neste caso associados à World Music. Mas, pelo gozo que dá subir ao palco em Fafe, e à semelhança do prazer que nos deu fazer os concertos nas últimas Feiras Francas [2018 e 2019] sem dúvida que deitar a “casa abaixo” nas Festas do Conselho era um gosto que gostávamos de ter.


Em alguns dos vossos temas ao vivo, mesmo quando interpretam os vossos originais, nota-se que se preocupam com a modernização e exploração do vira tradicional minhoto, ou de “sons tradicionais” de outras regiões do nosso país. É notória a uma certa influência "erudita", que como é obvio também marca a formação dos elementos da vossa banda. Como definem esse vosso excelente trabalho, que fazem com as músicas?
Luís Leite:  Sim, sem dúvida. Nota-se isso principalmente nos arranjos que o Zé faz. depois tentamos a execução de forma simples e directa, para que o publico nos perceba e se divirtam.
José Teixeira: Temos realmente uma influência erudita. Normalmente os arranjos ficam a meu encargo, pelo menos no que diz respeito a estruturas, instrumentação e na composição da parte dos instrumentos de sopro (flauta e trombone). Como a minha formação é erudita acabo por inserir sempre elementos desta, não dá para fugir. E na verdade até apreciamos essa sonoridade. Como é obvio depois todos os elementos introduzem também alterações e como a maior parte de nós tem formação superior em música erudita acaba também por se tornar ainda mais notório. 
Em alguns espetáculos, que vos acompanhei (acho que em todos mesmo!!!) uma das "marcas" que me fica na memória, é a alegria do publico que assiste, que é notória … o que representa para vocês terem sempre o publico alegre, a cantar e dançar durante a vossa actuação?
Luís Leite: Paulo, não há palavras para descrever a adrenalina em cima de um palco com um público a curtir e a dançar. Depois, fora disso, há sempre a família fora do palco, a convivência que a gente tem… claro que nem sempre está tudo ok, mas é mesmo assim, em todas as famílias há problemas. mas a sensação de ver o publico a participar é única ... são momentos de partilha fantásticos e não dá mesmo para descrever ...
Sei que chegou a estar marcado a gravação de um concerto para edição de um DVD, que seria o vosso primeiro trabalho editado, devido ao mau tempo, acabou por não se realizar, depois apareceu este grande problema, que é o covid19, que vos obrigou a parar tudo. Em que “ponto” está esse trabalho?
José Teixeira: Sim, é verdade. O nosso concerto no âmbito do Festival gastronómico da Vitela à moda de Fafe seria o pretexto para a gravação de um DVD ao vivo que há muito desejamos fazer. Infelizmente esse concerto foi inviabilizado por motivos climatéricos e não foi possível reagendá-lo com as condições ideais, culpa da maldita pandemia.
Quais os vossos canais de promoção?  
Miguel Gonçalves: Os canais de partilha são o Youtube, Facebook, Instagram, algumas rádios regionais. Quanto à promoção propriamente dita, a meu ver os concertos têm sido a maior promoção, a rede social tem servido apenas para partilha de conteúdo do grupo.


Além da música, o que mais vos caracteriza? 
Luís Leite: Sensibilidade.
José Teixeira: Rigor.
O que pretendem transmitir ao público com os vossos espetáculos? O que pode o público esperar de uma atuação vossa?  
Luís Leite: Alegria e nostalgia. Não sei... que os façamos felizes durante 2 horas.
José Teixeira: O objetivo é levar a palco músicas “NOSSAS”, músicas de sempre, mas renovadas, com novas roupagens. Despertar o gosto pela nossa música em qualquer um que nos ouça, ou veja ao vivo.
De que forma a pandemia afetou a vossa banda?
Luís Leite: Bastante, mas estamos erguidos para o próximo 2021!!!!!!
José Teixeira: Foram cancelados todos os concertos. Outros tantos que ainda estávamos a apalavrar ficaram também sem efeito. E para mim o pior de tudo foi o cancelamento de um concerto que ia acontecer em março e que nem conseguimos anunciar … Estávamos a trabalhar um concerto com orquestra, tínhamos os arranjos todos elaborados que deram um trabalhão inacreditável! tínhamos ensaios feitos e íamos começar a ensaiar com orquestra na semana em que surgiram os primeiros casos. Com é obvio cancelamos, e tão cedo não poderemos remarcar pois exige uma logística de perto de uma centena de músicos, que nesta época não é possível juntar de forma segura.
Coronavírus é?
Luís Leite: Para nós e para todos profissionais do espetáculo é um desastre total.
A possibilidade de seres infetado … assusta-te?
Luís Leite: Ora, já estive infetado e não foi fácil, mas correu tudo bem. Costumo dizer que foi como ter ido à “guerra” e não ter levado um tiro.
José Teixeira: Claramente assusta-me, mais pela possibilidade de infetar pessoas mais frágeis. Mas encontro-me esperançoso com as notícias relacionadas com a vacina. Que venha o melhor!
Uma história de backstage, que se recordem assim á primeira e que nos queiram contar?
José Teixeira: Num dos nossos primeiros concertos, não tendo sistema de som disponível para ser montado na data tivemos de contratar uma empresa que foi montar na véspera e responsabilizamo-nos por guardá-lo madrugada dentro, tendo em conta o valor avultado destes sistemas. Assim sendo, ficamos toda a madrugada de “vigia” e tivemos de fazer o concerto de direta, o que não impediu uma excelente borga e animação durante o concerto. 
Fora do palco, o que mais gostas de fazer?
Luís Leite: De certa forma tentar ser feliz.
José Teixeira: Tentamos todos o mesmo penso eu, assim como o Luís!
É difícil viver da música no nosso país?
Luís Leite:  Talvez… a banda por exemplo não vive disto, mas há uma cena que tenho a certeza: é preciso ter muita sorte.
José Teixeira: É deveras! Não é fácil vingar profissionalmente num meio artístico. Muito menos fora dos grandes círculos artísticos como Porto e Lisboa.


Quais as vossas principais referências musicais?  
Joana Silva: Influenciamo-nos em grupos portugueses e internacionais que desenvolvem o mesmo trabalho que nós. Reinventar músicas tradicionais.
Tens fé em deus? 
Luís Leite: Sim.
José Teixeira: Não acredito em Deus, mas respeito muito a fé de todos. Acho que é importante ter fé, não necessariamente numa pessoa ou figura específica. Podemos ter fé ás vezes no nosso próprio caminho ou no nosso objetivo de vida. Pelo menos e assim que gosto de pensar. 
Apaixonado vais até onde?
Luís Leite: Já estive apaixonado… Mas gostava de estar uma última vez e dizer “apaixonado", desta vez, vou até ao fim do mundo”.
Estava projectada uma grande produção para os vossos concertos em 2020, querem nos contar um pouco do que seria esta tour 2020? Vai ser para manter em 2021?
José Teixeira: Em 2020 tínhamos apostado na grandiosidade do cenário, trabalhando com dezenas de m2 de projeção visual em painel vídeo-led. Esse “cenário virtual” criado propositadamente para cada musica fica ao encargo da artista Mariana Santiago, uma excelente profissional fafense e uma referência na videografia. Sem dúvida que queremos manter esta aposta na próxima época.
Quantos concertos cancelaram em 2020?
Luís Leite: Devido à pandemia tivemos 32 concertos cancelados e muitos outros que não chegaram a estar 100% marcados, porque a pandemia chegou em março, altura que já se estava a trabalhar muita coisa para o ano corrente. Certo é que a 31 de março de 2020, dos 32 concertos que já estavam marcados, apenas 12 passaram para 2021 e mesmo esses já não sabemos se vão poder acontecer … sobre este tema, nem sequer é bom pensar muito, vamos ver o futuro ...


Qual é o maior desafio que enfrentam?
Luís Leite: Na minha opinião, lutar contra a indústria da música mal feita e tóxica.
Se te falar em Fafe, o que te vem á cabeça?
Luís Leite: Que amo Fafe.
Se fosses um “ator” político em Fafe … o que farias em primeiro lugar? e em segundo lugar?
José Teixeira:  Não é uma pergunta fácil, até porque normalmente, estando deste lado pensamos de forma tendenciosa ... Acho que o objetivo principal numa cidade é potencializar o melhor que temos e fazemos de forma a tornarmo-nos uma referência nesses aspetos. Como pessoa ligada à arte acho que seria importantíssimo o melhor aproveitamento das salas do concelho de forma a conseguirmos uma programação artística regular e diversificada, dado palco ao melhor da terra e "além-fronteiras" adequada à população.
Muito obrigado pelo tempo dedicado aos nossos leitores. Uma mensagem para eles
Luís Leite: Obrigado antes de mais ao Jornal de Fafe e ao Paulo Matos por esta linda entrevista. Aos leitores um grande abraço da banda e até 2021.





















VIDEO:
os Trastes Vira das Raparigas 


VIDEO:
os Trastes | Serenata 



VIDEO:
os Trastes | Menina d´Ouro



VIDEO:
os Trastes | Rapsódia Nossa (Há Volta - RTP)


VIDEO:
os Trastes | Espanholada à Portuguesa 



Paulo Matos 
Jornal de Fafe |10/12/2020


Fotos de: 
os Trastes | Município de Fafe | Manuel Meira 
Jornal de Fafe 10/12/2020

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