domingo, 10 de janeiro de 2021

“UM OUTRO OLHAR” – GIL SOARES E TIAGO RIBEIRO, DOIS AMIGOS COM VISÃO ARQUITECTÓNICA COMUNITÁRIA DE EXCELÊNCIA


BOM DIA GIL E TIAGO, DESDE JÁ AGRADECO-VOS POR TEREM DISPONIBILIDADE EM PARTICIPAR NESTA ENTREVISTA.

TOMEI a iniciativa de convidar, nas próximas semanas, vários empresários de diferentes setores que tem em comum a amizade ou laços familiar.

tenho vindo a acompanhar o vosso percurso profissional, nomeadamento através do gil, e confesso que o vosso perfil de empresários, ASSOCIADO ao setor da arquitectura e da engenharia, através da vossa empresa gerida por ambos, sensibilizaram-me a serem os primeiros a convidar para a nossa entrevista.

Neste sentido, a minha primeira pergunta é da praxe e é mais pessoal:

Gostava que cada um me partilhasse as suas origens, o seu percurso escolar e formativo. Gostavam de estudar? Tem alguém na vossa família ou amigos como modelo empreendedor?

Gil: Sou natural de Travassós-Fafe. A instrução primária foi toda feita em Travassós (e em todas as Escolas da freguesia, incluindo a sede da junta), começando na Escola de Sanfins mas, passado um mês, transitei para a segunda classe. Naturalmente, tive de ter um “exame” com um professor independente na 4ª classe para atestar que estava apto para avançar para o 5º ano devido ao facto de não ter feito a 1ª classe. Frequentei a Escola de Revelhe (5º e 6º ano) seguindo os estudos no Seminário de Nª Sª da Conceição (7º; 8º e 9º ano). Na escola Martins Sarmento, em Guimarães, frequentei Artes – Carácter Geral (10º;11º e 12º ano). Continuei os estudos, porque me faltava uma disciplina, na Escola Secundária de Fafe. A licenciatura foi na Faculdade de Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada de V.N.Famalicão.
 
Tiago: Sou natural de Antime-Fafe. Frequentei a escola primária da Carioca em Antime. Frequentei a escola Prof. Carlos Teixeira (5º e 6º anos), seguindo depois para o nova Escola de Montelongo (7º, 8º e 9º anos). No Ensino secundário frequentei a escola Secundária de Fafe onde segui a formação em Científico-Natural.
Licenciei-me em Engenharia Civil na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, tendo posteriormente tirado o mestrado curricular no mesmo estabelecimento de ensino.
 



Como surgiu a ideia de ser empreendedor?

Gil e Tiago: A base está na própria profissão! Se segues a profissão de arquiteto ou engenheiro podes ter oportunidade numa entidade pública ou empresa privada ou segues os passos naturais de empreendedor que a profissão confere! Depois é perceber a dinâmica profissional com parcerias ou sociedades.
Para além disso para ambos existe também o exemplo familiar, onde os nossos pais desde muito cedo se “fizeram-se à vida” e ainda hoje mantêm as suas empresas, o que acabou por, com o tempo, incutir em nós esta vontade de ser “mais e melhor”.


A empresa que dirigem os dois atualmente, foi criada em 2010. contem-me mais sobre a trajetória da vossa empresa até à data de hoje, partilhando as suas atividades, os seus produtos e serviços e sua dimensão em termos de mercado.

Gil - Antes de haver esta sociedade tive uma outra, tanto a nível de arquitetura como noutro ramo. Após conhecer o Tiago começamos a trabalhar juntos, não como sócios, mas sim parceiros. Depois houve uma consolidação em sociedade. São campos profissionais separados, mas complementares.

Tiago – Quando conheci o Gil estava a estagiar num outro gabinete de Arquitetura e Engenharia de Fafe, tinha acabado de finalizar os estudos académicos. Desde logo criou-se uma empatia entre nós e uma certeza de que juntos, poderíamos chegar mais longe. É certo que cada um desenvolve a sua especialidade, mas apoiamo-nos mutuamente, até porque a Arquitetura e Engenharia são atividades que se complementam e não existe uma sem a outra.


 
Temos parcerias com outras empresas em termos de projetos mais específicos de especialidades. Começamos do zero num mercado feroz e numa época de crise. Não foi fácil o começo, pois não havia muito trabalho, muito menos para quem estava a começar!  Foram aparecendo os projetos de amigos, familiares e fomos criando uma imagem que foi muito bem aceite. Fafe foi o ponto de partida, mas começamos, desde cedo, a projetar para a Póvoa de Lanhoso, Guimarães, Trofa, Felgueiras e Braga. Braga, por exemplo, é o concelho onde temos mais projetos, neste momento! Somos abordados constantemente para novos projetos de cariz habitacional e há ruas onde já projetamos para três investidores! Uns influenciam os outros! A Zona Metropolitana do Porto é outro mercado onde nos conseguimos estabelecer, com edifícios habitacionais. Felizmente temos conseguido evoluir, tanto em número como em qualidade! Depois tivemos a sorte de entrar em projetos de maior envergadura, como Edifícios de Apoio Social, Escolar e industriais. Isso obrigou a termos de estudar uma legislação mais especifica o que nos levou a especializarmo-nos. Os projetos de âmbito turístico também são comuns e, neste momento, estamos com projetos no Gerês, Fafe, Vieira do Minho, Cinfães e Arouca.  Depois há os projetos que nos dão enorme prazer conceber, mais pequenos, mas de uma enorme importância cultural.


Quais são as dificuldades que encontram na gestão do dia a dia da vossa empresa?

A gestão do nosso tempo é uma dificuldade. Por vezes tens tudo programado e surgem imprevistos naturais deste ramo profissional que nos dificultam o planeamento interno. Outra das dificuldades é a falta de uniformização dos processos entre municípios e, por vezes, é complicado pois numas câmaras há especificidades que são possíveis executar e noutras não. Há legislação que deveria ser revista e ser mais generalista e não tão diferenciadora. O tempo de resposta de alguns municípios também nos causa dificuldades. Percebo que não seja fácil, mas terão de agilizar alguns procedimentos, tais como a entrega de processo de forma digital e informações detalhadas e disponibilizadas on-line.  O trabalho com os clientes é muito personalizado e não tens noção do tempo que um projeto pode ser apresentado, o que por vezes condiciona a gestão do gabinete. Por vezes temos de correr contra o tempo, pois, principalmente, os investidores estão sempre com pressa, o que é natural, e como temos vários e, felizmente, as vendas têm corrido bem, estamos sempre a preparar novos processos a um ritmo alucinante.





 
Quais são as maiores satisfações e desilusões que tiveram, até agora, com a vossa empresa?

As maiores satisfações são quando desde a conceção do projeto até à conclusão da obra tudo correu como planeado. Ter um cliente que se torna amigo é uma satisfação!  Sermos uma empresa que cumpre com todos os parceiros, a nível financeiro, também é muito satisfatório! As desilusões acontecem no decorrer normal deste ramo: atraso nos processos de licenciamento ou as reclamações dos clientes que querem resoluções ou estudos a tempo e horas e nem sempre conseguimos por força da carga de trabalho ou imprevistos.
 

QUAIS são os próximos desafios para a vossa empresa?

Essencialmente, continuar esta ascensão e continuarmos a termos uma boa projeção no mercado. Confessamos que gostaríamos que um dos nossos projetos fosse premiado, pelo menos, a nível nacional. Achamos que estamos nesse caminho!



 
Como se vê cada um como pessoa? Como lidam com o fracasso e o sucesso?

Gil: Acho que sou uma pessoa humilde, que está a realizar um dos sonhos da sua vida, e um amigo que podem sempre contar.  O sucesso faz parte do quotidiano, pois para isso trabalhamos e é o meu foco! Quando tudo corre bem é fácil estar agradado! O fracasso também faz parte da nossa vida profissional. Um projeto pode marcar negativamente e isso já me aconteceu! Nem sempre lidamos bem com o fracasso! Não sou perfeito e, por vezes, não consigo lidar bem com determinadas situações que não vão ao encontro das espectativas! Talvez por saber que tenho um gosto enorme no que faço e, desse modo, interiorizo o fracasso e demoro a libertar-me dele! O sucesso, na nossa profissão, não é algo que nos cause alguma sensação extra que não seja a do dever cumprido e clientes satisfeitos! Fomos formados para ter sucesso e nunca estamos preparados para o fracasso!
 
Tiago: A honestidade e a humildade são os pilares essenciais. Sempre tive uma educação conservadora assente nestes pilares. Considero-me uma pessoa naturalmente calma, amigo do amigo e que ao longo destes anos aprendeu a controlar o lado impulsivo. A vida trata de nos ensinar a ser mais e melhores. No nosso ramo de atividade o sucesso tem de estar presente, porque considero que quando um trabalho chega ao fim e todos estão agradados, aí sim, alcançamos o sucesso. Como é claro existem trabalhos que nos deixam um sabor especial quando concluídos, quer pela dimensão, quer pela exposição pública. Quanto ao fracasso, este serve para aprender com os nossos erros e melhorar. Não vejo o fracasso como uma coisa má, vejo sim como uma escola de vida. Quem nunca sentiu o fracasso, não sabe o sabor de uma vitória.
 


Conseguem conciliar cada um, no vosso dia-a-dia, a vida profissional e pessoal?

Gil: Não é fácil conciliar, pois não tenho tempo necessário para me dedicar à família, amigos e outros projetos pessoais! Adoro estar ligado ao associativismo e percebo que cada vez tenho menos tempo. Não abandono, mas aviso das minhas limitações! Agora, que vou ser pai, terei de pensar a forma como irei gerir o meu tempo para me dedicar mais à família! Os amigos compreendem!
 
Tiago: Não é nada fácil conciliar o tempo pessoal e profissional. Tento diariamente dar o meu melhor em ambos os campos, contudo a profissão ganha sempre. Ainda assim existem momentos familiares que nenhum trabalho me fará desistir deles, porque a família é o nosso pilar.
 


Se tivessem um conselho a dar a um jovem empreendedor perante o estado atual da Economia, qual seria?

Gil e Tiago: Vamos especificar a questão no nosso ramo e referir que não é fácil, mas também ao longo destes anos nunca o foi! Costumamos dizer que a parte mais importante é a aprendizagem. Ninguém se consegue instalar no mercado de trabalho sem conhecimento de causa e perceber a dinâmica de mercado e, na maior parte das vezes, sem os amigos! Não chega elaborar desenhos fantásticos, pois muitos profissionais também os fazem!  A nossa profissão vai mais além disso! Há muita legislação a aprender! Aconselhamos a estabelecer parcerias ou sociedades, e ir trabalhando com o mínimo de custos possíveis! Os primeiros tempos são de esforço e se não conseguirem estabilidade financeira, não será fácil! Mas não abdiquem de tentar, nem que seja na garagem de casa! Mas antes aproveitem os estágios e formações para aprender e mesmo isso não chega! É preciso ser bom profissional e bom comercial! Todos os dias são páginas de aprendizagem! Não julguem que sabem tudo, não sejam arrogantes e, muitas vezes, terão de ter a humildade de fazer trabalhos menos bons mas perceberão que dos pequenos podem vir os grandes projetos de arquitetura e engenharia! Antes de começarem um projeto informem-se, peçam ajuda nos serviços. Nunca façam nada sem perceberem as leis da edificação e urbanização!  Antes de serem arquitetos e engenheiros sejam vocês mesmos. Interajam com a sociedade. Não se armem em “doutores” e “melhores” que os outros!



Finalmente, transitando a nossa entrevista para uma parte mais pessoal, pretendia saber qual é vossa opinião, sobre o planeamento urbanístico em fafe, as suas fragilidades e suas potencialidades?

O Planeamento Urbanístico, na sua forma de ser, em Portugal não é muito usual em municípios como o de Fafe. Mas isso terá de ser revisto e começarmos a planear os espaços com continuidade, rigor e não aleatoriamente. Será necessário criar um gabinete específico com estratégias ou acompanhamento de determinados processos. O território terá de ser bem planeado nas próximas revisões do PDM e achamos que já é altura dos autarcas se unirem e criarem uma força para reivindicarem mais espaços de construção para as aldeias. O espaço urbano está a ficar preenchido sem espaços de expansão, tanto na vertical como na horizontal! Continuo a afirmar que os Municípios terão de ver a questão do espaço habitacional de outra forma: não se admite que, por exemplo, junto a estradas infraestruturadas não seja possível construir. Gasta-se dinheiro e não se criam oportunidades! É um mal nacional, mas as autarquias terão de perceber a importância disso e fazerem pressão!



 
Finalmente, tenho as seguintes perguntas e peço, a ambos, uma palavra ou frase de resposta para cada uma delas:
Hobbies?

Gil: Ler e escrever um livro.

Tiago: Leitura, cinema e séries. Tenho uma perdição por séries e a falta de tempo para as ver deixa-me um sabor amargo.

Local de Férias preferido?

Gil: Algarve

Tiago: Londres

Adoras?

Gil: Caminhar com amigos nas margens do Rio Vizela

Tiago: Uma boa conversa com amigos e honestidade

Detestas?

Gil: Desonestidade

Tiago: Ingratidão e desonestidade

Descreva o teu dia perfeito quando não estás a trabalhar

Gil: Passear com a minha namorada num centro histórico

Tiago: Passear com a minha família à beira mar



Qual é tua música preferida?

Gil: Love of my life - Queen

Tiago: Neste aspeto temos um gosto idêntico: Queen – Bohemian Rapsody

qual foi o filme que te marcou?

Gil: “Braveheart - o desafio do guerreiro” de Mel Gibson.

Tiago: “O rapaz do Pijama ás Riscas” de Mark Herman.

Prato preferido?

Gil: Salada Russa

Tiago: Muitos, sou um bom garfo.

RestauranteS preferidoS?

Gil: Neta do Rei e Guarani.

Tiago: Gosto de vários, não vale a pena estar a especificar, porque cada um tem o seu toque especial.



PODES ME PARTILHAR 3 coisas que estão na tua lista de desejos?

Gil: Um filho; Escrever um Livro; Comprar um moinho no rio Vizela.

Tiago: O meu desejo será ter um segundo filho se a vida o permitir, relativamente a outros desejos a vida vai me proporcionando a realização de alguns sonhos antigos e à media que as coisas vão acontecendo vou saboreando esses bons momentos. O meu maior desejo é viver a vida e ser feliz ao lado dos meus.

Desporto preferido?

Gil: Futebol

Tiago: Formula 1

Qual é o teu clube?

Gil: F.C. Porto

Tiago: S.L. Benfica

Se não fosses empresário, eras?

Gil: Professor.

Tiago: Provavelmente estaria na mesma ligado ao setor da construção civil, porque em toda a minha vida só desejei trabalhar neste ramo.

Se tivesses a oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o quê?

Tiago: Acho que não mudava nada. Tudo o que me aconteceu trouxe-me até este ponto onde me encontro agora e provavelmente se tivesse mudado alguma coisa iria estragar tudo.

Gil: Aprendemos com os erros e evoluímos com as virtudes. Concordo com o Tiago!



O que representa Fafe para ti?

Gil: a Saudade quando cá não estou.

Tiago: FAFE é a minha Cidade Natal, o meu porto de abrigo. Posso gostar muito de sair e viajar, mas o regresso a Fafe é sempre especial. Não trocaria Fafe por nenhuma outra cidade.

Se amanhã, fosses um eleito político local, que medidas no setor económico ou noutro implementarias?

Gil: Começava com o essencial: nos cargos de assessoria colocava profissionais competentes nas diversas áreas. Eles, certamente, fariam um bom trabalho em conjunto comigo.  

Tiago: Falando do sector que mexe comigo diretamente, nunca permitiria existir um técnico a analisar a dar pareceres sem ter experiência no ramo comprovada. Infelizmente, por vezes, deparamo-nos com questões em que quem lá está não entende como o dia a dia de uma empresa é tão difícil e tão burocrático. Temos de ser pragmáticos e olhar para o fundo do problema, nem sempre a legislação serve para resolver um dado problema, é preciso saber olhar para ele e encontrar uma solução.

Qual é a tua regra de Ouro?

Gil: Carpe Diem

Tiago: Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.

Há algo mais que gostariam de dizer, que não foi abordado?

Em Portugal a arquitetura e engenharia estão bem conceituados. Há excelentes profissionais e isso nos leva, cada vez mais, a sermos melhores! Ganha a imagem do país, da cidade, da aldeia! A humildade, a capacidade de trabalho, a perseverança… são fundamentais ao sucesso. Seja em que ramo for! 

Agradecemos-te Filipe a oportunidade e esperamos que mais profissionais deem o seu testemunho nestas áreas!




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