terça-feira, 30 de março de 2021

A PÁSCOA DAS PORTAS FECHADAS

A páscoa das paredes lavadas a lixívia, das cortinas a estender ao sol e das pratas areadas já lá vai… A páscoa de flores brancas pela casa, das colchas estendidas à janela e pétalas espalhadas na porta. Essa páscoa que cheira a cabrito assado e pão de ló pela manhã, que cheira a gente pela casa adentro, a toque de sineta e a melodia de aleluia. A páscoa que anuncia a primavera, a renovação, o perdão, o amor incondicional… a páscoa que areja a casa como se anunciasse novos tempos, que limpa as humidades da vida e que sacode o pó da alma. Essa páscoa é a que nos falta. A páscoa que trazemos no corpo, gravada em memórias de infância, da roupa colorida a estrear, das cortinas amaciadas ao sol e da forma solene com que estendíamos a toalha branca para almoçar. A do beijo no cruz a quem nos curvamos em ato de oração, a páscoa da gratidão! É isso que nos falta… e a ela voltaremos. Como sempre fazemos quando precisamos de conforto. Voltamos ao que nos faz falta, ao que nos preenche e nos acolhe, ao que nos aceita e nos perdoa, ao que nos faz ter uma fé movedora de impossibilidades… é a isso que sempre voltamos. Aconteça o que acontecer. Demore o tempo que demorar. Que nunca nos esqueçamos que há sempre uma páscoa onde voltar… limpar, abrir as portas, agradecer e engalanar. Que possamos ter sempre uma páscoa que nos receba e nos deixe beijar em jeito de gratidão. Que se abra a porta novamente, e mesmo que não seja para ficar, que seja porque não mais nos apetece sair.  

Clara Paredes Castro 

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NOTA: este espaço de opinião às terças-feiras vai ficar temporariamente suspenso devido à minha candidatura à Junta de Freguesia de Fafe. O Jornal de Fafe é um projeto plural, livre e apartidário e assim deve continuar, assim como continuarei como leitora assídua e defensora da sua liberdade de expressão.

 A liberdade é o direito de fazer o próprio dever.” Auguste Comte







 

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