Na ressaca da celebração do dia da mulher e com o aproximar das eleições volta sempre a velha questão do envolvimento das senhoras na vida política. As autárquicas são muitas vezes a porta de entrada para um universo que só teria a ganhar com a aposta no feminino, mas esta porta não tem depois uma continuidade, faltando a escada de crescimento na carreira política.
Sendo Portugal, um dos países da
europa com a maior taxa de mulheres trabalhadoras desde os anos 60, não se
entende que esta proatividade, dinamismo e presença não se reflitam nas opções
políticas. A introdução das quotas mais parece uma medida de estimulação idêntica
às do desemprego, imposta por necessidade e como uma forma de resolver o
assunto em termos estatísticos, sem grande perspetiva estratégica do que possa
ser o futuro. Se não vejamos…. começamos por eleger maioritariamente meninas
para delegadas de turma, mas são os rapazes que vão para a presidência da
associação de estudantes. As professoras estão em maioria nas escolas, mas são
os homens que ocupam os cargos de direção, as mulheres proliferam no desporto
como atletas e treinadoras, mas poucas chegam à direção dos clubes. As senhoras
estão ativamente nas empresas, nas indústrias, nos serviços, mas continuam a estar
em minoria nas direções sindicais. Por outro lado, quem é maioritariamente o
encarregado de educação? Quem vai às consultas com os filhos e dependentes,
quem presta apoio na velhice? Quem nos atende nos hospitais? Quem nos recebe
nos supermercados?
O que é que desmotiva as mulheres
a querem mais, a serem mais ambiciosas, a estarem mais presente na gestão, na
direção e também na vida política? A verdadeira igualdade de oportunidades é uma
questão muito mais cultural do que legal e é por isso, que o empoderamento feminino
deve ser estimulado bem cedo. Vamos incutir nas meninas a importância da
liderança, vamos mostrar às adolescentes como é revigorante ser participativa, vamos permitir às mulheres serem continuamente interventivas e assim reconhecer, quem abre ao mundo o
caminho da vida. Tivemos uma padeira de
Aljubarrota a mostrar como se traça o caminho da vitória e enfermeiras a
lançarem-se de paraquedas nos anos 60 e ainda temos de andar a fazer contas
para deixar as mulheres liderar, como se fosse um free pass com data de validade até darem provas de merecimento. São
mais de 40 décadas de democracia! Ramalho Eanes em 1979 indigitou Maria de
Lurdes Pintasilgo e depois? Durão Barroso foi o primeiro a nomear para pastas
de alta relevância, como as finanças e os negócios estrangeiros e depois? Passos
Coelho indigitou mulheres para cargos tradicionalmente masculinos como a
defesa, administração interna, agricultura, finanças e justiça e depois? Hoje
em dia, apenas 1/3 do parlamento tem presença feminina e em 308 presidências de
câmara apenas 32 são de mulheres. Isto representa um recuo civilizacional que
legitima a ausência de participação das mulheres na política e contradiz a
natureza que nos deu mais resistência à dor, maior resiliência para ultrapassar
obstáculos, uma inteligência prática e sensibilidade para humanizar a política
e o mundo. Precisamos das mulheres, na liderança, na tomada de
decisões, no reforço de um regime democrático paritário, justo e inclusivo,
para uma agenda pública na perspetiva feminina. A melhor forma de começar tudo
isto? Por nós… mulheres! Se não somos nós a valorizar o feminino, como queremos
que os outros o façam? Miguel Esteves Cardoso dizia que a mulher portuguesa é melhor que o homem,
não por ser mulher, mas por ser mais portuguesa. Está na hora de assumirmos
perante a nossa nobre nação, esta nobre missão de ser mulher e nela, elevar a
vida pública, empresarial, desportiva, social e política.
Clara Paredes Castro
(republicado a partir de um original de outubro de 2017, in Notícias de Fafe... e ainda incrivelmente atual)
Foto: Reprodução/Instituto Francês - If Cinéma
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