Ao que parece nem para a origem do Carnaval há consenso. Os
romanos tinham algo parecido com os atuais carros alegóricos, os chamados “carros
navais” em formato de navio de madeira, onde levavam homens e mulheres nus a
desfilar pelas ruas. A versão mais comum diz que o termo vem da expressão “carnem
levare” que significa algo como “ficar livre da carne”, uma explicação que tem mais
a ver com os cristãos, porque a data marca a despedida dos excessos e o jejum
que se aproxima na Quaresma. Mas as origens e desdobramentos do Carnaval não
têm necessariamente a ver com a religião. O Carnaval é uma festa de origem pagã
e na antiguidade simbolizava a passagem do inverno à primavera, da escuridão à
luz, do velho ao renascido. Nos hebreus
era a festa das sortes; nos gregos antigos, as “bacanais”; em Roma, as “saturnais”,
dedicadas ao deus da agricultura e para os gauleses, a celebração da grande
despedida do inverno. Em comum, a festa, a música, a dança, o disfarce… e os excessos!
O Carnaval permitia aos foliões escapar das punições usando disfarces, como em
Itália, onde no século XV os nobres usavam máscaras para poder andar na
gandaia nos bailes da corte, sem que se descobrisse a sua identidade.
Certo é que o Carnaval é sinónimo de reversão, com as normas
de comportamento a serem suspensas e aceites… infelizmente apenas por 3 dias! Desde
os primórdios, o Carnaval é a época onde foliões e carnavalescos aproveitam
para satirizar a situação político-económica, chamar a atenção para questões de
interesse social, recortar importantes acontecimentos históricos ou
simplesmente vestir as roupas da mulher e andar de tacão alto, com os pêlos a saírem
da meia de renda e o batom a rivalizar com a barba de três dias. Vá lá… é
carnaval! Os foliões podem sempre alegar que a celebração afeta o seu
comportamento, deixando-os enlouquecidos. E convenhamos, a loucura é sempre uma
boa explicação para os excessos. E depois, nada como um bom desvario seguido de
um ato de penitência… uma cruz de cinza na testa e eis por excelência, a quarta-feira
de arrependimento do pecado e do início do jejum carnal.
Hoje as máscaras são sinónimo de proteção, mas os disfarces continuam por aí, os excessos são cada vez mais desejados e a liberdade de festejar sem estar mascarado é um sonho adiado. Sem corso carnavalesco podemos sempre apreciar o desfile de alegorias em que as redes sociais se transformam e basta um olhar mais atento para ver de tudo: as sátiras, os porta-bandeiras, os sambistas, os bobos da corte, os palhaços, os travestis, … todos à espera de um bom entrudo chocalheiro, onde as figuras mascaradas todas de igual se esbarram umas nas outras, cometendo as mais diversas tropelias, só para ver quem chocalha mais alto! Afinal não é só no Carnaval... na vida real, ao que parece, também ninguém leva a mal...certo?!
Clara Paredes Castro
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