terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

O ARCO ÍRIS DA VIDA

Escolhido como o símbolo máximo da resistência à pandemia, o arco-íris salta do imaginário infantil para o nosso quotidiano, como uma espécie de representação de uma sonhada vitória da luz sobre a escuridão. Na verdade, a cor sempre teve esse efeito em nós. Associamos cores às emoções, às sensações, aos gostos e paladares, aos sentidos, às estações... As cores identificam posições políticas, escolhas clubísticas, ruborizam rostos de esforço, de prazer ou de timidez, empalidecem pessoas por medo, doença ou tristeza, identificam chakras, rotulam vinhos, mostram áureas, ditam moda, escondem defeitos. A cor posiciona marcas, representa países, ajuda a mudar o visual. A cor tem tons e intensidades como a música, tem variações como o humor, identifica géneros em azul e rosa e até dá nome a peixes como o salmão. Passamos as noites em branco, estendemos tapetes vermelhos, trememos como varas verdes e temos sangue azul. Escolhemos dar carta branca, ver a vida cor de rosa ou ficar verdes de inveja. O sorriso é muitas vezes amarelo e o humor pode bem ser negro.

Processamos pelo nervo ótico um feixe de radiação eletromagnética que, mais que uma frequência de onda, nos reflete um estado de espírito. Na verdade, são os nossos olhos que definem a cor, mas é muitas vezes a nossa alma que a identifica. Quem nunca sentiu a vida a preto e branco quando tudo à volta era colorido, quem nunca se viu sem luz quando tudo parecia tão claro, quem não conhece alguém que perante um arco-íris só consegue dizer que chove.

As cores têm esse dom de serem apreciadas de forma diferente por todos, com gostos e privilégios, com escolhas e decisões. Uma mulher identifica 40 tons de verde, desde o “musgo” ao “limão”, enquanto que para um homem adjetivar um “verde tropa” já é uma exceção. O sol na realidade é branco e a atmosfera da terra faz com que pareça amarelo. ​As cores são essa suave contradição que serve para nos mostrar que a realidade não é preto no branco e há um Joan Miró dentro de cada um de nós, pronto a dar-lhe os tons, as variações e as alternâncias… Sim! Somos nós que definimos o que pode ser garrido, deslavado, caloroso, suave, envolvente ou apenas escuro e sombrio… basta percebermos que o mundo é maravilhosamente colorido quando escolhermos olhar a vida pela lente da cor e não aceitamos ficar presos a um daltonismo de alma, que nada identifica ou distingue. Porque as pessoas são também elas cor... com total ausência de luz ou de uma claridade que se sobrepõe a todas as outras. Quentes, frias ou neutras, muitas vezes numa pouco definida e indistinta sombra de cinzas. Mas há sempre um arco-íris… e felizes os que têm essas pessoas das sete cores… as que se misturam em água e sol quando tudo à volta parece escurecer, as que se erguem em curva para dar cor à vida, as que são vermelho-amor, laranja-sabor, amarelo-luz, verde-esperança, azul-imensidão, índigo-intuição e violeta-infinito. Porque são essas as que nos relembram a cada aparição, que é possível a tal vitória da luz sobre a escuridão. 

 Clara Paredes Castro



Sem comentários:

Enviar um comentário