Escolhido como o símbolo máximo da resistência à pandemia, o
arco-íris salta do imaginário infantil para o nosso quotidiano, como uma
espécie de representação de uma sonhada vitória da luz sobre a escuridão. Na
verdade, a cor sempre teve esse efeito em nós. Associamos cores às emoções, às
sensações, aos gostos e paladares, aos sentidos, às estações... As cores
identificam posições políticas, escolhas clubísticas, ruborizam rostos de
esforço, de prazer ou de timidez, empalidecem pessoas por medo, doença ou
tristeza, identificam chakras, rotulam vinhos, mostram áureas, ditam moda,
escondem defeitos. A cor posiciona marcas, representa países, ajuda a mudar o
visual. A cor tem tons e intensidades como a música, tem variações como o
humor, identifica géneros em azul e rosa e até dá nome a peixes como o salmão.
Passamos as noites em branco, estendemos tapetes vermelhos, trememos como varas
verdes e temos sangue azul. Escolhemos dar carta branca, ver a vida cor de rosa
ou ficar verdes de inveja. O sorriso é muitas vezes amarelo e o humor pode bem
ser negro.
Processamos pelo nervo ótico um feixe de radiação
eletromagnética que, mais que uma frequência de onda, nos reflete um estado de
espírito. Na verdade, são os nossos olhos que definem a cor, mas é muitas vezes
a nossa alma que a identifica. Quem nunca sentiu a vida a preto e branco quando
tudo à volta era colorido, quem nunca se viu sem luz quando tudo parecia tão
claro, quem não conhece alguém que perante um arco-íris só consegue dizer que
chove.
As cores têm esse dom de serem apreciadas de forma diferente
por todos, com gostos e privilégios, com escolhas e decisões. Uma mulher
identifica 40 tons de verde, desde o “musgo” ao “limão”, enquanto que para um
homem adjetivar um “verde tropa” já é uma exceção. O sol na realidade é branco e
a atmosfera da terra faz com que pareça amarelo. As cores são essa suave
contradição que serve para nos mostrar que a realidade não é preto no branco e
há um Joan Miró dentro de cada um de nós, pronto a dar-lhe os tons, as
variações e as alternâncias… Sim! Somos nós que definimos o que pode ser
garrido, deslavado, caloroso, suave, envolvente ou apenas escuro e sombrio…
basta percebermos que o mundo é maravilhosamente colorido quando escolhermos
olhar a vida pela lente da cor e não aceitamos ficar presos a um daltonismo de
alma, que nada identifica ou distingue. Porque as pessoas são também elas
cor... com total ausência de luz ou de uma claridade que se sobrepõe a todas as
outras. Quentes, frias ou neutras, muitas vezes numa pouco definida e
indistinta sombra de cinzas. Mas há sempre um arco-íris… e felizes os que têm
essas pessoas das sete cores… as que se misturam em água e sol quando tudo à volta
parece escurecer, as que se erguem em curva para dar cor à vida, as que são vermelho-amor,
laranja-sabor, amarelo-luz, verde-esperança, azul-imensidão, índigo-intuição e
violeta-infinito. Porque são essas as que nos relembram a cada aparição, que é
possível a tal vitória da luz sobre a escuridão.
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