BOM DIA GRACIETE, AGRADEÇO – TE POR TERES DISPONIBILIDADE EM PARTICIPAR NESTA ENTREVISTA. EU JÁ TE CONHEÇO A CERCA DE 20 ANOS, NO ENTANTO, CONHEÇO-TE POUCO DA TUA INFÂNCIA E PARA TAL A MINHA PRIMEIRA PERGUNTA É DA PRAXE E GOSTAVA QUE ME PARTILHASSES AS TUAS ORIGENS, O TEU PERCURSO ESCOLAR E FORMATIVO. ERAS BOA ALUNA? GOSTAVAS DE ESTUDAR? TENS ALGUÉM COMO MODELO EMPREENDEDOR?
Bom dia Filipe, antes
de mais muito obrigada pelo convite, sim já nos conhecemos à mais de 20 anos,
estava eu a iniciar a minha incursão no mundo dos empresários.
Mas recordando os meus
primeiros anos de vida… falar da minha infância é reviver momentos muito
felizes, momentos de liberdade e aventuras partilhados com uma prima da mesma
idade em Várzea Cova, onde as horas não contavam, corríamos pelos caminhos em
terra, brincávamos com os animais…. Enfim eramos verdadeiramente felizes!!! E não
posso deixar de recordar o meu porto de abrigo desses tempos, a minha querida
avó Conceição que tantos sustos apanhou… eu era uma “pestinha”.
Entretanto vim estudar
para a cidade e as coisas ficaram mais sérias… mais responsabilidade! Até ao
12º ano estudei em Fafe, depois ingressei no curso de Gestão Financeira e
Fiscal, no Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscal no Porto. Fiz o
meu percurso sempre sem grandes sobressaltos, mas relembro um sentimento que me
assolou no meu último ano de faculdade, tinha 22 anos, e nessa última queima
das fitas, só pensava …. porque não “chumbei um ano” para ficar mais um ano na
faculdade…. Adorava a cidade do Porto, toda a sua mística, os seus encantos…. como
diz alguém famoso… onde já foi muito feliz!
Foram anos onde cresci
muito, viver sozinha aos 17 anos numa cidade como o Porto foi sem dúvida um
desafio, mas tive o aconchego de alguns primos que também lá estavam e fizerem
questão de me mostrar o que era o Porto! E a responsabilidade “imposta” pelos
meus pais, que com mestria souberam sempre orientar-me e dar-me os melhores
conselhos deixando-me a liberdade de escolha para perseguir os meus sonhos.
Termino o meu curso em
1998 e fui trabalhar para uma sociedade de revisores no Porto, durante esse
período fiquei com a certeza do que não queria fazer para o resto da vida. Foi
uma experiência muito boa, que me deu um conhecimento sobre o mundo empresarial
fantástico, mas percebi que queria era estar do outro lado da equação.
A nível académico, seguiu-se uma Pós-Graduação e um MBA em Finanças, que permitiu manter a minha ligação ao Porto por mais uns tempos…. Pois, entretanto, já tinha regressado a Fafe, depois de um “ultimato” do meu Pai. Mas já conto como todo aconteceu….
Como surgiu a ideia de ser empreendedora?
Ser empreendedora, bom
…. Será que podemos escolher querer ser empreendedores?? A meu ver existem
características, e esta, sem dúvida, é uma delas, que ou nasce connosco ou
então é muito difícil sê-lo….
Ser empreendedor exige
muito de nós, muitos sacrifícios, mas acho que quando fazemos o que gostamos deixa
de ser sacrifício e o trabalho passa a ser um “prazer”.
No início da minha
vida profissional, a minha primeira experiência serviu para definir muito bem o
que queria e depois do empurrão do meu pai com o seu “ultimato” já não tinha
como fugir do meu destino…. o mundo das empresas e dos empresários!
O meu pai lançou-me um
desafio em finais de 1999/2000, a Vinhos Norte estava a iniciar a sua presença
no sector da distribuição moderna e então era necessário certificar a empresa,
uma premissa exigida por praticamente todas as cadeias.
Cresci com a empresa,
lembro-me de andar sempre de volta dos colaboradores a perguntar o que podia
fazer. Acompanhei as diferentes fases de crescimento da Vinhos Norte e este
desafio do meu pai, certificar a empresa ao abrigo da ISO 9001 foi enorme, mas
muito recompensador.
E assim iniciei a
minha carreira, embrenhada na produção durante cerca de 2 anos a montar o Sistema
de Gestão da Qualidade que culminou sendo uma das primeiras empresas do sector
a ter a Certificação pela ISO9001:2000.
Paralelamente ao meu
trabalho na Vinhos Norte, fui durante alguns anos consultora na Associação
Empresarial de Fafe o que me permitiu ter sempre contacto com muitos sectores
de atividade e realidades distintas, foram anos de muitas partilhas e
aprendizagens.
A formação
profissional, foi durante 7/8 anos um escape ao mundo dos negócios, como eu
dizia relaxava-me da azafama das empresas, e era delicioso ver a reação dos
meus alunos com a partilha das experiências, não eram muitos os formadores que
tinham experiência empresarial e isso fazia a diferença perante aqueles jovens.
Nunca gostei de fazer
só uma coisa…. Mas depois chegaram os filhos e as prioridades alteraram-se.
A vossa empresa familiar, vai fazer para o ano 50 anos! Conte-nos mais sobre a trajetória da empresa até à data de hoje, partilhando-nos as suas atividades, os seus produtos e serviços e sua dimensão em termos de mercado e humano.
É verdade 50 anos, 50
anos de história….
A Manuel da Costa
Carvalho Lima & Filhos Lda. - comercialmente conhecido por Vinhos Norte -
deve o seu nome ao fundador, o meu avô, que em 1971 iniciou a atividade de
armazenista de vinhos e outras bebidas.
Com o passar do tempo
e a liderança da 2ª geração a empresa vocaciona-se para a produção de vinhos.
Desde sempre esteve inserida no meio rural, na Freguesia de Moreira do Rei e
Várzea Cova.
O core business da
Vinhos Norte centra-se na produção e comercialização de VINHO VERDE, assumindo
que passará a integrar o enoturismo como complemento, que surgiu de uma procura
natural pelo rosto por detrás das marcas de vinho e pela atração do meio
envolvente natural onde esta.
Ao longo da sua
atividade a empresa concentrou esforços na criação das condições para o
desenvolvimento da sua atividade, tendo adquirido equipamentos, aperfeiçoado o
processo produtivo e apostado na sua organização interna. A primeira marca da
empresa remonta a 1984 com a marca Norte.
A Vinhos Norte, como entidade empresarial, está fortemente inserida na sua envolvente social, particularmente devido à sua localização na aldeia de Várzea Cova. A maioria dos seus colaboradores pertence a esta aldeia ou aldeias vizinhas e a sustentabilidade é um dos valores da empresa. Todo o desenvolvimento dos produtos tem como constante preocupação adquirir a máxima eficiência em todo o processo produtivo. A empresa está equipada de um laboratório de análises de vinhos e mostos, que também disponibiliza aos pequenos produtores da região, contribuindo assim para uma melhoria dos vinhos da mesma e o desenvolvimento de uma rede de colaboração.Na sua vertente
interna, a empresa favorece e promove a formação dos seus colaboradores,
alargando as suas competências e polivalências, o que permite uma rotação dos
postos de trabalho.
A Vinhos Norte tem uma
forte presença no mercado português, particularmente nas regiões Norte e
Centro. Pretende ser reconhecida como uma empresa familiar com uma paixão
genuína pelos vinhos que produz, reconhecidos pela sua qualidade e
diferenciação.
Quais são as dificuldades que encontras na
gestão do dia a dia do vosso negócio familiar?
Sendo uma empresa
familiar, por vezes é difícil separar o negócio da família, das relações, das
prioridades de que cada um. Mas também, esse é o segredo do sucesso, pois temos
a paixão genuína pelos vinhos, apesar de cada um ter uma perspetiva diferente o
objetivo é o mesmo.
Quais são as maiores satisfações e desilusões
que tivestes com a vossa empresa?
A vida das empresas, é
como outra vida com coisas boas e coisas menos boas, mas o sentido positivo e o
querer faz acontecer.
Ver nascer um novo
produto, é uma das maiores satisfações. Estamos em plena vindima, momento em
que começamos a desenhar os novos produtos, escolhem-se as uvas, separam-se os
lotes de vinho e depois… depois deixamos a natureza trabalhar para que se
transformem em grandes vinhos.
Levá-los à casa e à
mesa dos apreciadores é o culminar de todo o processo e a maior das satisfações.
As desilusões, bem,
essas dissipam-se no tempo, mas como costumo dizer as relações humanas são de
uma complexidade enorme capazes do melhor e do pior.
Quais são os próximos desafios para a vossa
empresa?
Neste momento temos um
grande desafio, um vírus que mudou toda a nossa vida, a nossa liberdade, a
nossa realidade. A empresa reagiu, adaptou-se às novas formas de interagir com
o mundo.
O negócio da nossa
empresa assenta em proporcionar experiências sendo o vinho o elemento central, os
jantares vínicos, as provas, as feiras de vinhos quer nacional quer a nível
internacional, mas este ano tudo se alterou.
As provas de vinho e
tudo o resto começou a ser online, e tudo se move virtualmente, tentando
transmitir as várias sensações e vivências.
Estrategicamente
elegemos o enoturismo como foco para os próximos anos, na medida em que existe
uma procura cada vez maior por experiências vínicas e por ambientes rurais e
genuínos.
Quais são as características pessoais mais
importantes para a vossa empresa? Isto é, que importância dás às relações
internas e externa na empresa? E para ti como empresário, quais são os
contactos mais importantes? Fornecedores, clientes, pessoas de influência?
Atualmente, considero
as relações humanas a base do sucesso seja com os colaboradores, com os clientes,
os fornecedores, onde a ética e a transparência são fundamentais.
O desenvolvimento das
ferramentas de comunicação, nomeadamente os e-mails, o telemóvel, tornou numa
fase inicial as relações de proximidade, o contacto entre as duas partes, mais
impessoal mais distante, pois o e-mail resolvia com muita rapidez vários assuntos
de uma forma séria, mas tornando mais distante a relação humana.
Hoje, e tendo por base
a minha principal função, a área comercial da empresa, é fundamental nutrir a
relação entre as partes, faço muitos quilómetros só para reunir 15/30 minutos
com um cliente, mas esse cuidado, essa proximidade faz toda a diferença.
Como te vês como pessoa? Como lidas com o
fracasso e o sucesso?
Sou uma pessoa
tranquila, que encara a vida sempre com um pensamento positivo, gosto de
festejar as vitórias, empolgo-me com o sucesso, mas aprendo muito quando algo
corre menos bem.
Consegues conciliar, no teu dia a dia, a vida profissional e pessoal?
Na sua maioria sim, tenho
dias muito preenchidos, mas nunca descoro a minha vida pessoal, temos de saber
que o tempo passa muito rápido e sem os momentos dedicados à família a vida não
faz sentido.
Já tive uma grande
lição, porque quando algo corre menos bem, deixamos tudo para estar com os
nossos, e o trabalho, os compromissos, os problemas, todos eles se resolvem sem
a nossa presença.
No teu percurso de empresária, queres partilhar um momento único positivo ou negativo ou até anedótico que te marcou?
Tenho alguns
momentos que me marcaram, mas existe um momento em particular que me “formatou”
enquanto pessoa e empresária. Estava eu a dar os meus primeiros passos… e integrei
um programa de Formação para empresários através da ADRAVE (em que fostes tu
que me incentivaste a participar com a Vinhos Norte) éramos vários empresários
da região do Ave que integramos uma “visita de estudo” ao sul de Espanha, à
região de Cáceres. E no programa tivemos um encontro com uma associação
empresarial local espanhola que organizou uma apresentação sobre técnicas
comerciais e colaborativas. Então fiquei tão “pequenina” quando o orador
espanhol apresentou a sua estratégia para chegar às nossas ex-colónias
africanas, Angola, Moçambique principalmente, disse ele – nós espanhóis sabemos
vender, não temos é facilidade nas línguas, como tal vamos “usar” os
portugueses para chegar a África, pois eles falam a língua mãe mas não sabem
vender! Muito resumidamente, senti-me tão “pequenina” enquanto portuguesa!! Mas
aprendi que realmente temos de reconhecer os nossos pontos fortes e fracos para
saber ultrapassar certas barreiras, e que só colaborando alcançamos os nossos
objetivos.
Se tivesses um conselho a dar a um jovem
empreendedor perante o estado atual da Economia, qual seria?
Nos anos em que dei
formação, principalmente na vertente profissional, sempre dizia aos meus
formandos, que o fator critico para o sucesso era lutar pelos nossos sonhos, e
aí colocar empenho e persistência pois caímos muitas vezes, mas cada queda nos
faz mais fortes e nos mostra o caminho a seguir. É o mesmo conselho que dou aos
jovens empreendedores pois existe sempre lugar para mais um, desde que seja bom
e para isso não basta querer é preciso muito trabalho, dedicação e empenho.
Falo por experiência
própria, em 2008, no inico de uma crise fundei uma empresa – Infinit Label, Lda
uma gráfica especializada em autoadesivo – onde o investimento orçou cerca de
800 M€ e toda a envolvente parecia hostil devido à grande crise que se
desenhava. Mas como já referi com muito empenho, dedicação e planeamento a empresa
cresceu e tornou-se muito player influente no mercado, principalmente na sua
especialização de rótulos auto adesivos para os mercados dos vinhos.
A crise atual associada à Pandemia COVID-19,
afetou-vos na vossa forma de trabalhar? na competitividade da empresa, nas
relações com os clientes? De forma negativa ou positiva?
Sim, tal como já
referi anteriormente a empresa teve de reinventar as suas formas de atuar no
mercado e para já em termos de impacto tem sido positivo, pois sentimos que
além de estar longe fisicamente de alguns clientes, o envolvimento e a
proximidade passou a ser maior com uma presença online muito forte.
Fizemos algumas “lives”
com provas de vinhos que tiveram um alcance muito grande em visualizações e
interações, que usando as ferramentas tradicionais – nomeadamente – as feiras
de vinhos não conseguiríamos alcançar um publico tão alargado.
Vamos passar para uma parte mais pessoal da
entrevista, tenho as seguintes perguntas e peço-te uma palavra ou frase de
resposta para cada uma delas:
Hobbies?
Neste momento são os
hobbies dos filhos… o meu tempo livre dedico-o a acompanhá-los.
Local de Férias preferido?
Brasil
Adoras?
O ser genuíno, autêntico
Detestas?
Hipocrisia
Prato preferido?
Não tenho….
Restaurante preferido?
A casa da minha
mãe…..
Desporto preferido? Qual é o teu clube?
Golfe, Futebol
Club do Porto
Se não fosses empresária, eras?
Professora
O que representa Fafe para ti?
A cidade onde
moro com qualidade de vida.
Se tivesses a oportunidade de mudar algo no teu
percurso profissional, seria o quê?
Sinceramente, acho que
não mudava.
Se amanhã, fosses uma eleita político local, que
medidas no setor econômico ou outro, implementavas?
Sinceramente não me
vejo nessa posição, mas se isso acontecesse desenvolveria mecanismos de apoio
às empresas no seu dia a dia, como por exemplo “desburocratizar” todos os
processos que muitas vezes impedem a criação/crescimento das empresas, um
aproximar dos empresários ao poder local…
Qual é a tua regra de Ouro?
Estar nos
negócios com ética.
Há algo mais que gostarias de dizer, que não foi
abordado?
Sim, o meu muito obrigada por este convite e dar-te os parabéns por esta iniciativa.
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