Aquando de uma reforma realizada nos anos 40, pela extinta
Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais, foram recuperados alguns
exemplares escultóricos, trabalhados em granito, que integravam a decoração
artística do templo primitivo dos inícios do século XIII.
Entre esses elementos, cravados num muro periférico do
templo, destaco um relevo cinzelado em granito que representa a figura de uma
mulher, “exibicionista”, inserida em moldura circular, de cabelos longos,
mostrando, exuberantemente, o seu corpo desnudo, ostentando o seu sexo.
A voragem do tempo e a imprudência que conduziu à exposição
deste e outros elementos à inexorável acção dos agentes de erosão, já não
permitem ver, com clareza, os “atributos femininos” que o artista, certamente,
evidenciou.
Trata-se de um espécime singular da iconografia do românico
fafense da primeira metade do século XIII. Um exemplar raro da arte decorativa
erótica do românico nacional.
A escultura erótica estava muitas vezes presente, no exterior
e/ou no interior das igrejas daquela época. Uma herança ligada a rituais
pagãos, que, certamente, mais do que provocar o fiel, seria uma advertência para
não se sentirem tentados pelo sexo “pecaminoso”.
«São entre outros cristãos imundos, os que mais se entregam à
luxúria e às fornicações», escreveu o eminente investigador, António Resende de
Oliveira, a propósito da mentalidade medieval do período em foco.
A Igreja terá entendido que a representação artística evidenciando
os males do indivíduo, seria uma forma de controlar mentalidades a favor do
cristianismo.
Confrontar os fiéis com o bem e o mal, o céu e o inferno,
terá sido uma prática comum nos templos românicos, e o de Arões não foi
excepção.
Para rematar este apontamento, deixo expressa a minha
inquietação e preocupação pelo mau estado de conservação daquele “mostruário” de
grande valor patrimonial, junto ao único Monumento Nacional do concelho de
Fafe.
Está mais que na hora de recolhe-lo em porto seguro, antes
que lamentemos a perda de um testemunho, que já resistiu à passagem de quase
oito séculos!
Jesus Martinho
A mesma escultura nos anos 40 do século passado
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