Nasci, cresci e vivo num bairro. E quem conhece esta realidade sabe o quanto isso nos faz ver a vida de uma forma diferente. Os bairros de Fafe fervilham atividade, convívio e vida! A "Torralta" fez de mim muito do que sou hoje, foi uma autêntica escola, com dezenas de jovens a fazer da rua o seu espaço e a aprenderem a ser pessoas. Todos os vizinhos nos chamavam pelo nome, berrava-se da janela para chamar para jantar, o atual estacionamento foi viveiro de grandes craques da bola, criavam-se alcunhas e grupos, o elástico e o espeto não eram materiais de costura e bricolage, mas instrumentos para grandes batalhas, juntávamo-nos para organizar festas e os dias pareciam não ter fim. Recordo tudo isso com a nostalgia de quem, ainda hoje, quando come uma bica, se lembra das caminhadas noturnas até à Parefa, com um pacote de Planta na mão, para a fazer derreter no pão ainda quente.
Saí da "Torralta" para a Pegadinha e eis-me bairrista de novo! Aos poucos foi-se
construído a mesma amizade e companheirismo. As janelas abertas em noites de
verão, as conversas de varanda em varanda e os miúdos na rua a jogar à bola ou ao
esconde. Em épocas de confinamento, a importância dos bairros tornou-se ainda
mais evidente e esta vivência de escadas, janelas e varandas mas, acima de tudo,
de sorrisos, pessoas, vozes e alegria, faz dos vizinhos uma família de código
postal.
Fafe tem esta
riqueza profunda dos bairros que a compõem, todos eles tão distintos, mas tão
assumidamente genuínos. Há diferenças dos que são destemidamente da Feira Velha,
do Retiro, da Cumieira e de Pardelhas. Há um lado aguerrido na Cisterna, Bouças,
Fonte da Cana, Santo Ovídeo ou Calvelos. Girando a rosa dos ventos vemos na Alvorada,
Castelhão e Ponte da Ranha, uma forma de ser singular e diferente de todos os outros. Passamos
o centro, desde a Torralta, à Granja, Devesinha, S. Jorge, Paraíso, até aos limites
da freguesia, onde a Fábrica de Ferro, Pegadinha e Sol Poente dão mostras do
quão apegados são às suas fronteiras e vizinhança.
Esta diversidade de bairros, carregados de história e proatividade, deve ser potenciada! Esta arrogância salutar, de querer defender o que é seu, ajudou a construir Fafe e a ser hoje, a cidade que é... Saibamos nós proteger esta riqueza e ajudar os bairros a manter a sua identidade, com o orgulho que devem preservar. Fafe é esta linda manta de retalhos, de bairros cheios de vida, atividade e energia, num jeito tão puro de ser, tal como eu me sinto, fafense e bairrista.
Clara Paredes Castro
Parabéns pelo artigo ! Gostei, particularmente, da parte :”Girando a roda dos ventos vemos na Alvorada, Castelhão e Ponte da Ranha, uma forma de ser singular e diferente de todos os outros...”
ResponderEliminarObrigada Sm. Temos uma cidade recheada de boa gente em todos os pontos cardeais ;)
ResponderEliminarParabéns, Clara, que bom recordar.
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