JORNALdeFAFE: ÁGUAVIVA - DO BAILE AO FADO, OS 35 ANOS DO GRUPO MAIS "INTERNACIONAL" DE FAFE

Fomos conhecer melhor o grupo Água Viva, com uma agradável "conversa" com o José Carlos Moreira: "Com vinte anos, ou seja, há quarenta e cinco anos, inscrevi me no grupo Nuno Álvares, como coralista, mais tarde passei para o Elmo 74,que era uma das atividades do grupo, na parte musical. Cantei no coral e no Elmo 74,durante mais ou menos 12 anos. Por essa altura, comecei também, juntamente com Marina, a cantar umas cá canções com a viola, tendo na altura animado vários eventos. Entretanto o Maurício que andava na academia Atalaia, se não estou em erro, ainda as aulas eram na casa da cultura se não estou enganado. Como ele andava a prender piano, eu lembrei me de lhe comprar teclado, começamos a ensaiar músicas populares e outras dos anos setenta e começamos os três a fazer espetáculos já com cachet. Mais tarde juntou se o outro meu filho Henrique e a Teresa, que também tinham muito jeito para cantar e o Henrique tocava viola e então formamos o grupo água viva. Como grupo água viva, percorremos o país principalmente nas zonas norte e trás os montes, também fizemos várias incursões ao estrangeiro, tais como França, Itália, Suíça, Espanha, tivemos vários convites para irmos ao Brasil, mas nunca fomos, pois era complicado e a Marina trabalhava e eu também. Tivemos o água viva, cerca de 12 anos, depois acabei por vender o grupo ao Maurício e ao Ricardo da Fafe música, mas só funcionou três anos e o Maurício decidiu acabar com o grupo, dedicando se apenas a fazer som. Pelo meio tive outros projetos, com um rapaz de Guimarães, pai do guitarrista Manuel oliveira, formamos o trio módecima, com o qual fizemos vários espetáculos, era um projeto mais intimista, com duas violas, uma caixa de ritmos e três vozes, era giro. Também pelo meio destas peripécias, como era da PSP, cheguei andar a aprender música, e fazia espetáculos para os comandos, tais como o dia da PSP, festas de natal, etc. Por fim, ficamos eu e a Marina, como Duo ÁguaViva, mas também esse projeto já acabou. Agora, como toco um pouco de guitarra portuguesa e também canto uns fados e gosto de fado, formei um grupo de fados, ao qual dei o nome de água-viva. Ainda fizemos vários espetáculos, em restaurantes, para as câmaras, etc, mas foi pouco tempo, pois entretanto apareceu esta pandemia e temos estado Parados."
SR JOSÉ CARLOS MOREIRA , EM PRIMEIRO LUGAR, QUERO AGRADECER A SUA DISPONIBILIDADE E AMABILIDADE ACEDENDO PARTICIPAR NESTA ENTREVISTA/CONVERSA. AGORA O GRUPO ÀGUA VIVA PASSOU A UM NOVO REGISTO, O FADO, DESDE A FUNDAÇÃO ATÉ AQUI, OS AGUA VIVA EXISTEM FAZ QUANTOS ANOS? COMO SURGIRAM OS ÁGUAVIVA?

Então, o grupo Águaviva nasceu sensivelmente há trinta e dois anos. E começou porque eu e a Marina cantávamos no Grupo Nun’ Alvares no conjunto musical. Entretanto o Maurício andou a aprender a tocar piano e então comprei-lhe um teclado. Ele, com onze anos começou a acompanhar-nos. Eu com a viola e ele com o teclado formámos o Grupo Águaviva. Mais tarde, juntou-se a nós o meu filho Henrique, que cantava e tocava viola, e a minha filha Teresa que cantava. E juntos cantámos cerca de doze anos.

PORQUÊ O NOME, ÁGUAVIVA?

Quanto à origem do nome, foi inspirado num grupo espanhol que nós gostávamos muito que eram os “Aqua Viva”.

QUANTOS ELEMENTOS TEM ATUALMENTE O GRUPO?

Atualmente, o Grupo, enquanto Banda de baile terminou. Resta o Grupo de fados Águaviva, que é composto por uma guitarra portuguesa que sou eu, um viola de fado, que é um amigo de Guimarães, o Manuel Abreu. Quanto a fadistas, eu canto alguns fados de Coimbra, a Marina também canta algumas coisas, embora não goste muito de fados de Lisboa, só de Coimbra. Depois, dependendo do tempo, do local, da importância do evento, tenho algumas colaboradoras como a Palmira, a Rosa Veloso, etc.

QUE BALANÇO FAZ DESTES ANOS TODOS DOS ÁGUA VIVA?
Quanto à minha avaliação (balanço) do Grupo Águaviva, é, obviamente, muito boa, permitiu-me, além de ganhar bastante dinheiro, conhecer muita gente, alguns países, etc, que de outra forma não teria conhecido. É claro que nem tudo foi um mar de rosas, também houve alguns espinhos, mas no geral foi muito positivo. Trabalhámos muito mas valeu a pena.

PERCORRERAM O PAÍS, TAMBÉM FIZERAM VÁRIAS INCURSÕES AO ESTRANGEIRO, EM PAÍSES COMO FRANÇA, ITÁLIA, SUÍÇA, ESPANHA … ALGUM SÍTIO ONDE GOSTAVAM DE ATUAR MAS QUE NUNCA TENHAM IDO?

País onde gostaria de ter ido e nunca fui, apesar de ter sido convidado várias vezes, é o Brasil. Acho o povo brasileiro muito alegre, muito sensível à música, ou seja, para mim todo o brasileiro é música. Nunca lá fomos porque era muito complicado na altura. Mais tarde, há poucos anos, voltei a ser convidado, mas tenho muito medo de andar de avião e não fomos.

DE TODOS OS ESPETÁCULOS, HOUVE ALGUM QUE VOS MARCASSE EM ESPECIAL?

Os espetáculos que mais me marcaram foram dois. Um, em Paris, em 1999, numa sala bastante grande e havia por ali perto, num raio de vinte ou trinta quilómetros, vários artistas portugueses a atuar, como Nel Monteiro, Jorge Ferreira, etc. Acontece que à medida que iam acabando nas outras associações, as pessoas vinham para a sala onde nós estávamos, até que a sala cada vez tinha mais gente e não nos deixavam acabar de tocar. Era mais uma , mais uma, até que foi preciso ir lá a polícia acabar com a festa. A outra foi em Bordéus, mais propriamente em Brive, onde fomos várias vezes, uma delas um espetáculo num mercado enorme, e tinha tanta gente que também não queriam que terminássemos, e mais uma vez foi precisa a intervenção da Polícia para dispersar a multidão.

COMO CARACTERIZA O ATUAL MOMENTO QUE SE VIVE NA MÚSICA PORTUGUESA? É DIFÍCIL VIVER DA MÚSICA NO NOSSO PAÍS?

Perguntas-me se se pode viver da música em Portugal. Bem, honestamente acho que não, é quase impossível. Tem, obviamente os artistas com nome firmado, principalmente os que passam nas televisões. Direi até que alguns ganham muito dinheiro, mas são muito poucos, não tem expressão

ALÉM DA MÚSICA, O QUE MAIS O CARACTERIZA?

Além da música sou um cidadão comum, com uma característica base, que é a honestidade. De resto, vou vivendo os meus dias, um de cada vez.

QUAIS AS SUAS PRINCIPAIS REFERÊNCIAS MUSICAIS?

Quanto às minhas referências musicais, sou muito eclético, gosto de vários estilos musicais. Adoro música clássica e no geral gosto de música bem tocada e bem cantada.

QUAL A SUA OPINIÃO DA MUSICA QUE SE FAZ NA ACTUALIDADE?

A música que se faz agora, sinceramente não gosto. Não tenho feitio para cantar este tipo de música, não entendo nem a música nem o poema, que quase não existe nas músicas de agora.

CORONA VIRUS É ?

Em relação ao vírus, devo dizer que tenho algum receio, sim, mas assusta-me muito também a economia e a falta de empregos.

COMO TEM PASSADO ESTES MESES EM CONFINAMENTO?

O meu confinamento é quase igual à vida que tinha antes. Continuo a passear o meu cão pelos montes pela manhã. Durante o dia estou entretido no meu quintal e à noite nunca saio, a não ser que tenha trabalho musical, o que agora não tem acontecido.

A POSSIBILIDADE DE SER INFECTADO ASSUSTA-O? ATÉ QUE PONTO?Claro que a possibilidade de ser infetado me assusta, e por isso tenho todo o cuidado, mas o que tiver que ser será.

DE QUE FORMA A PANDEMIA AFETOU A BANDA?

Em termos de Banda, nada, visto que já tinha parado. Quanto aos fados, claro que afetou. Tive que cancelar alguns espetáculos e outros que com certeza, em situações normais teriam aparecido.

O QUE PRETENDEM TRANSMITIR AO PÚBLICO COM OS VOSSOS ESPETÁCULOS?

Os nossos espetáculos, presentemente, são, apenas, para ajudar a passar uma noite ou tarde divertida, e nesse aspeto, creio que temos conseguido sempre esse objetivo.

O QUE PODE O PÚBLICO ESPERAR DE UMA ATUAÇÃO VOSSA?

Olha, sinceramente, não sei o que o povo espera de nós. Acho que espera que façamos um bom espetáculo.

O PALCO TRAZ FELICIDADE ? O QUE PODE ESTRAGAR A FELICIDADE EM PALCO?

Naturalmente, alguma coisa que corra mal, como por exemplo problemas de som, uma falha muito visível, enfim...há muita coisa para fazer com que corra mal. Olha, uma das coisas das quais tive sempre muito medo é de ter pouco público. Não sei tocar para pouca gente. Felizmente, nos meus espetáculos tive sempre muito público, mesmo em situações em que cheguei a tocar durante vários anos no mesmo local, às vezes duas e três vezes no mesmo ano.

UMA HISTORIA DE BACKSTAGE, QUE SE RECORDE ASSIM Á PRIMEIRA … E QUE NOS QUEIRA CONTAR ?

Histórias de bastidores, não me lembro de nenhuma digna de assinalar.

O PRIMEIRO CONCERTO?

O primeiro concerto foi no Sto. Amaro da Pica, contratados pelo Sr. Valdemar. Correu muito bem. A partir daí, fomos lá tocar vários anos seguidos, creio que tantos como durou o Grupo.

O ULTIMO CONCERTO?

O último foi no quartel dos Bombeiros de Fafe, com o duo e com o grupo de fados foi no evento “há musica na arcada” em Fafe.

ADORA?

Tem dias que adoro, outros nem por isso …

DETESTA ?

detestar nunca.

APAIXONADO VAI ATÉ ONDE?

Até ao infinito.

GOSTA DE FUTEBOL ? QUAL O SEU CLUBE ?

Não. Detesto futebol. Não tenho clube. Acho que o futebol é incompatível com a música.

ACREDITA EM DEUS ?

Essa é uma questão muito complicada e eu tenho muito medo de pensar assim, mas , na verdade, não acredito em Deus nem em Fátima, nem nada disso.

SE FOSSE UM “ACTOR” POLITICO EM FAFE, O QUE FARIA EM PRIMEIRO LUGAR? E EM SEGUNDO LUGAR ?

Não sei. Não temo estofo para político. A política é a arte do possível e eu sou mais tudo ou nada.

AOS SEUS AMIGOS DIZ, VISITA FAFE PORQUE?

Obviamente para visitar a Barragem de Queimadela, o Jardim do Calvário, o museu de Sta. Rita e , naturalmente provar a vitela assada à moda de Fafe.

MUITO OBRIGADO PELO TEMPO E CARINHO DEDICADO AOS NOSSOS LEITORES, UMA MENSAGEM PARA ELES ?

Bom, para os cotas como eu, não tenho nada a dizer. Para os jovens, direi que tenham muito cuidado na maneira como vivem a sua juventude, pois a forma como vivemos enquanto jovens, vai refletir-se mais tarde, podem crer.