Bom dia PEDRO, agradeço
– te por teres disponibilidade em participar nesta entrevista. EU JÁ TE CONHEÇO
HÁ MAIS DE 20 ANOS, E TENHO VINDO A ACOMPANHAR O TEU PERCURSO PROFISSIONAL,
político e associativo, COM ORGULHO E AMIZADE e confesso que o teu recém-percurso
de empresário no setor agrícola sensibilizaram-me a te convidar para a nossa
entrevista. Neste sentido, a minha primeira pergunta é da praxe e é mais
pessoal.
Gostava que me
partilhasses as tuas origens, o teu percurso escolar e formativo. Gostavas de
estudar? Tens alguém na tua família ou amigos como modelo empreendedor?
Este modelo
de entrevistas é muito interessante para que as pessoas possam conhecer mais
aprofundadamente as empresas que existem em Fafe, bem como os seus promotores e
valorizar as iniciativas empresariais, de diferentes setores de atividade e de
múltipla dimensão, que, não raras vezes, passam despercebidas e não são
devidamente valorizadas ao nível local.
No meu caso
em particular sou nado e criado em Fafe, tendo feito o meu percurso escolar em
estabelecimentos de ensino público – Escola Primária no Santo e na Conde
Ferreira, Escola Preparatória de Fafe e Escola Secundária de Fafe – tendo
ingressado em Engenharia Agrícola, em 1989, na Universidade de Trás os Montes e
Alto Douro (UTAD) e concluído em 1994 a minha primeira licenciatura.
Paralelamente
ao meu percurso escolar e académico tive o privilégio de praticar andebol,
desde os meus 10 anos de idade, tendo sido incluído na equipa sénior da ADF
pelos meus 15 anos de idade e terminado a carreira desportiva aos 28 anos no
ACF.
Durante
este período, marcante na minha vida, tive oportunidade de jogar por diversos
anos na 1ª divisão nacional quer na ADF quer no Desportivo Francisco de Holanda
e a permeio tornar-me um dos fundadores do Andebol Clube de Fafe.
Quando
terminei a licenciatura ingressei na Cooperativa Agrícola de Fafe, onde assumi
funções de coordenação comercial e da formação profissional (1995 a 2008).
Simultaneamente e com o envolvimento e empenho de todos os colaboradores desta
instituição e com alguns elementos externos, reconstruímos e dinamizamos as
Feiras Francas de Fafe e a EXPOrural, tornando o feriado municipal num elemento
valorizador da marca do Concelho.
Pelo meio,
em 2000, concretizei um dos meus sonhos e frequentei a licenciatura de
Arquitetura Paisagista na UTAD, concluindo-a em 2005.
Entre 2008
e 2014 assumi as funções de Comandante Operacional Municipal de Fafe tendo,
para além de organizado e promovido a proteção civil municipal e o papel do
Município de acordo com a Lei de Bases da Proteção Civil, prestado apoio aos
serviços responsáveis pelos espaços verdes do Concelho e coordenado o projeto
de arborização da Quinta do Confurco.
Durante uns
tempos fui formador, projetista e consultor, tendo criado a Grão de Solo em
2016 para albergar estes serviços e também para acolher uma ideia que à muito
tempo amadurecia – criar uma empresa agrícola inovadora em Fafe e amiga do
ambiente.
No âmbito
do PDR2020 foi elaborada uma candidatura para a instalação de uma exploração
hortícola em hidropónica que mereceu aprovação em Agosto de 2019, curiosamente
quando exercia funções de vereador no Município de Fafe.
Iniciamos a
instalação em janeiro de 2020, tendo começado a produção em Julho do ano
corrente.
O
empreendedorismo adquiri-o ao longo do meu desenvolvimento profissional pois na
família direta não há uma veia empresarial conhecida, tendo no entanto um forte
apoio de todos(as) no arranque desta iniciativa.
Tens
a particularidade de ao longo de muitos ANOS teres apoiado vários empreendedores,
Como TE surgiu
a ideia de ser empreendedor?
Durante
muitos anos fui (e ainda sou) consultor de investimento em diversos setores
empresariais – agricultura, turismo e indústria – tendo apoiado o surgimento e
o desenvolvimento de diversas empresas pelo que esta experiência multifacetada
e o envolvimento na gestão da cooperativa, me proporcionaram conhecimentos e
confiança para avançar com a Grão de Solo.
A ideia já era antiga e tendo pelo meio do percurso de vida vivenciado com explorações hidropónicas, assim como maior disponibilidade para assumir novos desafios, surgiram as condições necessárias para lançar a iniciativa empresarial.
A empresa que diriges
atualmente, foi criada em 2016, no entanto, conta-nos mais sobre a trajetória
da tua empresa até à data de hoje, partilhando as suas atividades, os seus
produtos e serviços e sua dimensão em termos de mercado.
A Grão de
Solo foi criada em 2016 para albergar serviços que até então prestava como
profissional liberal e também para acolher uma empresa agrícola inovadora em
Fafe.
Em 2016 e
em 2018 submetemos candidatura ao programa PDR2020, tendo esta sido aprovada em
2019, iniciada a execução no início de 2020 e arrancado a produção em Julho do corrente
ano.
Atualmente
a Grão de Solo presta serviços de consultoria de investimento, elabora projetos
paisagísticos, presta apoio à dinamização de empresas e na sua exploração
agrícola, com área de estufa de 4000m2, produz tomate e feijão verde em
hidroponia, ou seja, sem solo.
Em termos
de dimensão é uma pequena empresa agrícola, enquadrando-se nas micro empresas e
tem por foco fornecer uma parte significativa das necessidades de hortícolas
aos Fafenses.
Por
curiosidade afirmamos que se cada Fafense consumir anualmente, em média, 2kg do
nosso tomate teremos a nossa produção potencial escoada.
Quais são as
dificuldades que encontras na gestão do dia a dia da tua atual atividade
hortícola?
Como
trabalhamos com produtos frescos e com grande influência das condições
climatéricas para o seu desenvolvimento (mesmo sob coberto), a maior
dificuldade será assegurar/conciliar os timings entre a colheita e o escoamento
da produção. Claro está que no presente momento, associado ao arranque da
iniciativa empresarial, a conquista e a credibilização/confiança do mercado é
um desafio e ao mesmo tempo uma dificuldade.
Por outro
lado a competitividade com base no preço e a concentração da distribuição que
hoje rege o consumo de bens alimentares obriga os empresários do setor a
encontrar modelos e canais de escoamento que assegurem a rentabilidade da
operação mas que dispersam a atenção nas pequenas unidades de produção.
Quais são as maiores
satisfações e desilusões que tiveste, até agora, com a tua empresa?
A maior
satisfação tem sido o reconhecimento da qualidade e preço do nosso produto
pelos consumidores e a maior desilusão, expectável, não é tão importante e não
interessa referir para não ferir suscetibilidades aos potencialmente visados.
Quais são os próximos
desafios para a tua empresa?
Continuar a
afirmação no mercado, alargar e solidificar a relação com os nossos clientes de
maior dimensão e aumentar as vendas ao consumidor final, comprovando-lhe que o
nosso bem alimentar é amigo do ambiente e do consumidor – em hidroponia reduzimos
até 70% o consumo de água para a produção de 1kg de alimento, os alimentos têm
conservação mais prolongada e diminuímos drasticamente a aplicação de produtos
fitofarmacêuticos, face à agricultura convencional – associado ao conhecido
chavão “fresco mais fresco não há” (de manhã colhemos para estar na mesa das
famílias ao jantar, serão benefícios que pretendemos ver reconhecidos e
comprovados pelos nossos clientes.
Simultaneamente
será um desafio para a empresa promover o alargamento da estrutura produtiva
local em sistemas hidropónicos, apoiar e acompanhar a instalação de novos
empreendedores e continuar a prestação de serviços nas diversas áreas de
intervenção – agricultura, turismo e indústria.
Quais são as
características pessoais mais importantes para a tua empresa? Isto é, que
importância dás às relações externas na tua empresa? E para ti como empresário,
quais são os contactos mais importantes? Fornecedores, clientes, pessoas
influentes?
Uma das
características mais importante será o planeamento exaustivo para atingir os
objetivos definidos, não descurando a permanente comunicação do produto e das
suas características junto de potenciais clientes.
Como te vês como
pessoa? Como lidas com o fracasso e o sucesso?
Acho que
não serei o único a não gostar do fracasso mas não me conformo com ele pelo que
perante os fracassos, bem como perante adversidades não previstas, procuro
analisá-las, partilhando-as e aconselhando-me junto de pessoas que me inspiram
confiança, definindo imediatamente estratégias e um plano de ação para as
ultrapassar.
Com o
sucesso toda a gente vive bem mas quando satisfatoriamente atingidos os objetivos faço exatamente o mesmo que perante os fracassos, analiso, procuro
informação e defino novos objetivos a atingir.
Consegues conciliar, no
teu dia-a-dia, a vida profissional e pessoal?
No universo empresarial e ainda por cima
associando a minha participação cívica em algumas coletividades locais, torna o
dia a dia um pouco atribulado e perturba a vida pessoal/familiar mas com a boa
vontade e compreensão lá se vai conciliando.
No teu RECÉM percurso
de empresário, queres partilhar um momento único positivo ou negativo ou até
anedótico que te marcou?
Nada de relevante tenho para partilhar exceto o espanto de algumas pessoas quando viram plantas a crescer e a produzir sem
solo.
Se tivesses um conselho
a dar a um jovem empreendedor perante o estado atual da Economia, qual seria?
Pois com este cenário muito poucos contavam mas a “fórmula” é a mesma
conhecer o mercado e os canais de comercialização, aferir das oportunidades e
das ameaças, validar as forças e ter especial atenção ás fraquezas, consolidar
as necessidades técnicas e financeiras para o investimento a realizar, dominar
as técnicas de produção, constituir a equipa e traçar objetivos tangíveis….
Depois é acreditar, estar atento e desenvolver o trabalho para alcançar os
diversos patamares, correspondentes aos objetivos intermédios, para chegar a
bom porto.
Finalmente, transitando
a nossa entrevista para uma parte mais pessoal, pretendia saber qual é tua
opinião sobre as oportunidades e potencialidades do setor agrícola existentes
em fafe?
O setor agrícola em Fafe tem uma forte âncora que felizmente vai sendo
resistente ao passar do tempo mas sobre a qual urge fazer um trabalho claro,
objetivo e que envolva todos os intervenientes no processo – a vitela.
Propositadamente refiro apenas a vitela pois o nosso afamado prato
gastronómico terá que proporcionar valor acrescentado a toda a cadeia desde a
produção à sua coinfecção e, acontecendo, trará maior dinâmica e desenvolvimento
a todos os setores de atividade.
Infelizmente, no que ao setor agrícola e florestal concerne, o concelho
de Fafe nunca teve uma estratégia de médio e longo prazo de intervenção/dinamização
no território rural, exceto alguns episódios avulsos, pelo que sendo claro que
um território é tanto mais competitivo e resiliente quanto mais forte for o seu
setor primário, terá que se apostar e promover o desenvolvimento empresarial
neste setor.
Fafe não foge à regra da realidade da generalidade do Entre Douro e Minho pelo que com imaginação e profissionalismo na definição de uma estratégia de intervenção para o setor agro-florestal-turismo e com a população a apoiar e empenhada será possível dinamizar o empreendedorismo em território rural, aumentar a empregabilidade e os rendimentos e, tendo também por consequência intrínseca beneficiar a qualidade paisagística de Fafe, fomentar a fixação de população e aumentar a qualidade de vida no Concelho.
Face às características orográficas do Concelho as potencialidades diferem
entre freguesias mas as oportunidades no setor agrícola, tendo em consideração
as características da propriedade rural, serão predominantemente na vinha,
pecuária extensiva, horticultura, plantas aromáticas e, não no sentido lato,
fruticultura, sendo transversal em todas as freguesias a possibilidade de instalação
de pequenas unidades de transformação alimentar e o elevado potencial
florestal.
Para além da vitela temos outras âncoras associadas ao setor,
nomeadamente, a mancha de carvalhal e a Barragem de Queimadela que poderão
proporcionar maior visibilidade a iniciativas, públicas e privadas, bem
estruturadas e claras.
já deu para ver que tens espírito empreendedor e de causas e para tal pretendia te propor o seguinte desafio. Amanhã, é lançado uma 2ª edição do Orçamento Participativo Fafense, qual seria o projeto que submetarias a voto na área ambiental ou noutra área que achas mais oportuna?
Com ou sem orçamento participativo a construção de corredores verdes a
irradiar da cidade de Fafe mereceriam a minha especial atenção.
Finalmente, tenho as
seguintes perguntas e peço-te uma palavra ou frase de resposta para cada uma
delas:
Hobbies?
Envolver-me
em novos desafios que, preferencialmente, promovam o bem estar em Fafe.
Preparar
roteiros turísticos para a família.
Local de Férias
preferido?
Qualquer local em Itália
Adoras?
Praticar
andebol, participar na construção de projetos com equipas motivadas e partilhar
momentos com amigos e família
Detestas?
Incompetência
e laxismo
Descreva o teu dia
perfeito quando não estás a trabalhar
Estar num
convívio familiar ou a passear em locais com paisagens (urbanas e naturais)
enriquecedoras.
Qual é tua música
preferida?
Não guardo
nenhuma música em especial preferindo responder que The Cure, U2 e Nirvana são
o meu som preferido.
qual foi o filme que te
marcou?
A Vida é
Bela, de Roberto Begnini
Prato preferido?
Tal como
com o vinho e como sou bom garfo, depende do momento e do contexto. Quando
tenho convidados em Fafe, por norma, confio a degustação à Vitela à Moda de
Fafe.
Restaurante preferido?
Qualquer um
com boa cozinha e com atendimento simpático e pouco formal.
PODES ME PARTILHAR 3
coisas que estão na tua lista de desejos?
Que passe
rapidamente esta pandemia e que não se morra da cura; a felicidade das minhas
filhotas; manter a animosidade e satisfação nos trabalhos e desafios em que me
envolvo.
Desporto preferido?
Andebol
Qual é o teu clube?
Não tenho
“dores” especiais por nenhum clube e fico sempre muito satisfeito com o sucesso
que os nossos clubes e atletas individuais alcançam. A Associação Desportiva de
Fafe e o Andebol Clube de Fafe ocuparão sempre um lugar especial nas minhas
preferências.
Se não fosses
empresário, eras?
Era
Arquiteto Paisagista e Engenheiro Agrícola
Se tivesses a
oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o quê?
Não mudava
nada de especial pois todas as pessoas e circunstâncias contribuíram para o meu
desenvolvimento pessoal e profissional… mesmo os que me atrapalhavam
individualmente e/ou às equipas em que estava envolvido.
O que representa Fafe
para ti?
O meu pequeno mundo.
Se amanhã, fosses um
eleito político local, que medidas no setor económico ou noutro implementarias?
Implementaria estratégias de curto e médio
prazo para a fixação de iniciativas empresariais nos setores primário e
secundário que tivessem necessidade de mão de obra especializada e criaria
redes dinâmicas e inclusivas de promoção e contato dos diversos agentes económicos
e das instituições públicas existentes no concelho.
Aceleraria a digitalização e desburocratização
dos serviços municipais, bem como apostaria na construção dos corredores verdes
e na sua íntima relação com as iniciativas empresariais associadas ao turismo e
lazer e não descansaria enquanto não se instalasse uma unidade de transformação
agro industrial, pelo menos de média dimensão, que estimulasse o setor
primário.
Qual é a tua regra de
Ouro?
Ouve tudo e
todos mas decide pela tua cabeça.
Há algo mais que
gostarias de dizer, que não foi abordado?
Obrigado por este momento. Foi divertido e espero que fiquem a conhecer-me melhor.
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