domingo, 15 de novembro de 2020

“UM OUTRO OLHAR” – PEDRO VALENTE, UM EMPREENDEDOR VERDE




Bom dia PEDRO, agradeço – te por teres disponibilidade em participar nesta entrevista. EU JÁ TE CONHEÇO HÁ MAIS DE 20 ANOS, E TENHO VINDO A ACOMPANHAR O TEU PERCURSO PROFISSIONAL, político e associativo, COM ORGULHO E AMIZADE e confesso que o teu recém-percurso de empresário no setor agrícola sensibilizaram-me a te convidar para a nossa entrevista. Neste sentido, a minha primeira pergunta é da praxe e é mais pessoal.

Gostava que me partilhasses as tuas origens, o teu percurso escolar e formativo. Gostavas de estudar? Tens alguém na tua família ou amigos como modelo empreendedor?

Este modelo de entrevistas é muito interessante para que as pessoas possam conhecer mais aprofundadamente as empresas que existem em Fafe, bem como os seus promotores e valorizar as iniciativas empresariais, de diferentes setores de atividade e de múltipla dimensão, que, não raras vezes, passam despercebidas e não são devidamente valorizadas ao nível local.

No meu caso em particular sou nado e criado em Fafe, tendo feito o meu percurso escolar em estabelecimentos de ensino público – Escola Primária no Santo e na Conde Ferreira, Escola Preparatória de Fafe e Escola Secundária de Fafe – tendo ingressado em Engenharia Agrícola, em 1989, na Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD) e concluído em 1994 a minha primeira licenciatura.

Paralelamente ao meu percurso escolar e académico tive o privilégio de praticar andebol, desde os meus 10 anos de idade, tendo sido incluído na equipa sénior da ADF pelos meus 15 anos de idade e terminado a carreira desportiva aos 28 anos no ACF.

Durante este período, marcante na minha vida, tive oportunidade de jogar por diversos anos na 1ª divisão nacional quer na ADF quer no Desportivo Francisco de Holanda e a permeio tornar-me um dos fundadores do Andebol Clube de Fafe.

Quando terminei a licenciatura ingressei na Cooperativa Agrícola de Fafe, onde assumi funções de coordenação comercial e da formação profissional (1995 a 2008). Simultaneamente e com o envolvimento e empenho de todos os colaboradores desta instituição e com alguns elementos externos, reconstruímos e dinamizamos as Feiras Francas de Fafe e a EXPOrural, tornando o feriado municipal num elemento valorizador da marca do Concelho.

Pelo meio, em 2000, concretizei um dos meus sonhos e frequentei a licenciatura de Arquitetura Paisagista na UTAD, concluindo-a em 2005.

Entre 2008 e 2014 assumi as funções de Comandante Operacional Municipal de Fafe tendo, para além de organizado e promovido a proteção civil municipal e o papel do Município de acordo com a Lei de Bases da Proteção Civil, prestado apoio aos serviços responsáveis pelos espaços verdes do Concelho e coordenado o projeto de arborização da Quinta do Confurco.

Durante uns tempos fui formador, projetista e consultor, tendo criado a Grão de Solo em 2016 para albergar estes serviços e também para acolher uma ideia que à muito tempo amadurecia – criar uma empresa agrícola inovadora em Fafe e amiga do ambiente.

No âmbito do PDR2020 foi elaborada uma candidatura para a instalação de uma exploração hortícola em hidropónica que mereceu aprovação em Agosto de 2019, curiosamente quando exercia funções de vereador no Município de Fafe.

Iniciamos a instalação em janeiro de 2020, tendo começado a produção em Julho do ano corrente.

O empreendedorismo adquiri-o ao longo do meu desenvolvimento profissional pois na família direta não há uma veia empresarial conhecida, tendo no entanto um forte apoio de todos(as) no arranque desta iniciativa.

 

Tens a particularidade de ao longo de muitos ANOS teres apoiado vários empreendedores, Como TE surgiu a ideia de ser empreendedor?

Durante muitos anos fui (e ainda sou) consultor de investimento em diversos setores empresariais – agricultura, turismo e indústria – tendo apoiado o surgimento e o desenvolvimento de diversas empresas pelo que esta experiência multifacetada e o envolvimento na gestão da cooperativa, me proporcionaram conhecimentos e confiança para avançar com a Grão de Solo.

A ideia já era antiga e tendo pelo meio do percurso de vida vivenciado com explorações hidropónicas, assim como maior disponibilidade para assumir novos desafios, surgiram as condições necessárias para lançar a iniciativa empresarial.


A empresa que diriges atualmente, foi criada em 2016, no entanto, conta-nos mais sobre a trajetória da tua empresa até à data de hoje, partilhando as suas atividades, os seus produtos e serviços e sua dimensão em termos de mercado.

A Grão de Solo foi criada em 2016 para albergar serviços que até então prestava como profissional liberal e também para acolher uma empresa agrícola inovadora em Fafe.

Em 2016 e em 2018 submetemos candidatura ao programa PDR2020, tendo esta sido aprovada em 2019, iniciada a execução no início de 2020 e arrancado a produção em Julho do corrente ano.

Atualmente a Grão de Solo presta serviços de consultoria de investimento, elabora projetos paisagísticos, presta apoio à dinamização de empresas e na sua exploração agrícola, com área de estufa de 4000m2, produz tomate e feijão verde em hidroponia, ou seja, sem solo.

Em termos de dimensão é uma pequena empresa agrícola, enquadrando-se nas micro empresas e tem por foco fornecer uma parte significativa das necessidades de hortícolas aos Fafenses.

Por curiosidade afirmamos que se cada Fafense consumir anualmente, em média, 2kg do nosso tomate teremos a nossa produção potencial escoada.



Quais são as dificuldades que encontras na gestão do dia a dia da tua atual atividade hortícola?

Como trabalhamos com produtos frescos e com grande influência das condições climatéricas para o seu desenvolvimento (mesmo sob coberto), a maior dificuldade será assegurar/conciliar os timings entre a colheita e o escoamento da produção. Claro está que no presente momento, associado ao arranque da iniciativa empresarial, a conquista e a credibilização/confiança do mercado é um desafio e ao mesmo tempo uma dificuldade.

Por outro lado a competitividade com base no preço e a concentração da distribuição que hoje rege o consumo de bens alimentares obriga os empresários do setor a encontrar modelos e canais de escoamento que assegurem a rentabilidade da operação mas que dispersam a atenção nas pequenas unidades de produção.

 

Quais são as maiores satisfações e desilusões que tiveste, até agora, com a tua empresa?

A maior satisfação tem sido o reconhecimento da qualidade e preço do nosso produto pelos consumidores e a maior desilusão, expectável, não é tão importante e não interessa referir para não ferir suscetibilidades aos potencialmente visados.

 

Quais são os próximos desafios para a tua empresa?

Continuar a afirmação no mercado, alargar e solidificar a relação com os nossos clientes de maior dimensão e aumentar as vendas ao consumidor final, comprovando-lhe que o nosso bem alimentar é amigo do ambiente e do consumidor – em hidroponia reduzimos até 70% o consumo de água para a produção de 1kg de alimento, os alimentos têm conservação mais prolongada e diminuímos drasticamente a aplicação de produtos fitofarmacêuticos, face à agricultura convencional – associado ao conhecido chavão “fresco mais fresco não há” (de manhã colhemos para estar na mesa das famílias ao jantar, serão benefícios que pretendemos ver reconhecidos e comprovados pelos nossos clientes.

Simultaneamente será um desafio para a empresa promover o alargamento da estrutura produtiva local em sistemas hidropónicos, apoiar e acompanhar a instalação de novos empreendedores e continuar a prestação de serviços nas diversas áreas de intervenção – agricultura, turismo e indústria.

 

Quais são as características pessoais mais importantes para a tua empresa? Isto é, que importância dás às relações externas na tua empresa? E para ti como empresário, quais são os contactos mais importantes? Fornecedores, clientes, pessoas influentes?

Uma das características mais importante será o planeamento exaustivo para atingir os objetivos definidos, não descurando a permanente comunicação do produto e das suas características junto de potenciais clientes.


Como te vês como pessoa? Como lidas com o fracasso e o sucesso?

Acho que não serei o único a não gostar do fracasso mas não me conformo com ele pelo que perante os fracassos, bem como perante adversidades não previstas, procuro analisá-las, partilhando-as e aconselhando-me junto de pessoas que me inspiram confiança, definindo imediatamente estratégias e um plano de ação para as ultrapassar.

Com o sucesso toda a gente vive bem mas quando satisfatoriamente atingidos os objetivos faço exatamente o mesmo que perante os fracassos, analiso, procuro informação e defino novos objetivos a atingir.

 

Consegues conciliar, no teu dia-a-dia, a vida profissional e pessoal?

No universo empresarial e ainda por cima associando a minha participação cívica em algumas coletividades locais, torna o dia a dia um pouco atribulado e perturba a vida pessoal/familiar mas com a boa vontade e compreensão lá se vai conciliando.

 

No teu RECÉM percurso de empresário, queres partilhar um momento único positivo ou negativo ou até anedótico que te marcou?

Nada de relevante tenho para partilhar exceto o espanto de algumas pessoas quando viram plantas a crescer e a produzir sem solo.

 

Se tivesses um conselho a dar a um jovem empreendedor perante o estado atual da Economia, qual seria?

Pois com este cenário muito poucos contavam mas a “fórmula” é a mesma conhecer o mercado e os canais de comercialização, aferir das oportunidades e das ameaças, validar as forças e ter especial atenção ás fraquezas, consolidar as necessidades técnicas e financeiras para o investimento a realizar, dominar as técnicas de produção, constituir a equipa e traçar objetivos tangíveis…. Depois é acreditar, estar atento e desenvolver o trabalho para alcançar os diversos patamares, correspondentes aos objetivos intermédios, para chegar a bom porto.

 

Finalmente, transitando a nossa entrevista para uma parte mais pessoal, pretendia saber qual é tua opinião sobre as oportunidades e potencialidades do setor agrícola existentes em fafe?

O setor agrícola em Fafe tem uma forte âncora que felizmente vai sendo resistente ao passar do tempo mas sobre a qual urge fazer um trabalho claro, objetivo e que envolva todos os intervenientes no processo – a vitela.

Propositadamente refiro apenas a vitela pois o nosso afamado prato gastronómico terá que proporcionar valor acrescentado a toda a cadeia desde a produção à sua coinfecção e, acontecendo, trará maior dinâmica e desenvolvimento a todos os setores de atividade.

Infelizmente, no que ao setor agrícola e florestal concerne, o concelho de Fafe nunca teve uma estratégia de médio e longo prazo de intervenção/dinamização no território rural, exceto alguns episódios avulsos, pelo que sendo claro que um território é tanto mais competitivo e resiliente quanto mais forte for o seu setor primário, terá que se apostar e promover o desenvolvimento empresarial neste setor.

Fafe não foge à regra da realidade da generalidade do Entre Douro e Minho pelo que com imaginação e profissionalismo na definição de uma estratégia de intervenção para o setor agro-florestal-turismo e com a população a apoiar e empenhada será possível dinamizar o empreendedorismo em território rural, aumentar a empregabilidade e os rendimentos e, tendo também por consequência intrínseca beneficiar a qualidade paisagística de Fafe, fomentar a fixação de população e aumentar a qualidade de vida no Concelho.

Face às características orográficas do Concelho as potencialidades diferem entre freguesias mas as oportunidades no setor agrícola, tendo em consideração as características da propriedade rural, serão predominantemente na vinha, pecuária extensiva, horticultura, plantas aromáticas e, não no sentido lato, fruticultura, sendo transversal em todas as freguesias a possibilidade de instalação de pequenas unidades de transformação alimentar e o elevado potencial florestal.

Para além da vitela temos outras âncoras associadas ao setor, nomeadamente, a mancha de carvalhal e a Barragem de Queimadela que poderão proporcionar maior visibilidade a iniciativas, públicas e privadas, bem estruturadas e claras.


já deu para ver que tens espírito empreendedor e de causas e para tal pretendia te propor o seguinte desafio. Amanhã, é lançado uma 2ª edição do Orçamento Participativo Fafense, qual seria o projeto que submetarias a voto na área ambiental ou noutra área que achas mais oportuna?

Com ou sem orçamento participativo a construção de corredores verdes a irradiar da cidade de Fafe mereceriam a minha especial atenção.

 

Finalmente, tenho as seguintes perguntas e peço-te uma palavra ou frase de resposta para cada uma delas:

Hobbies?

Envolver-me em novos desafios que, preferencialmente, promovam o bem estar em Fafe.

Preparar roteiros turísticos para a família.

Local de Férias preferido?

Qualquer local em Itália

Adoras?

Praticar andebol, participar na construção de projetos com equipas motivadas e partilhar momentos com amigos e família

Detestas?

Incompetência e laxismo

Descreva o teu dia perfeito quando não estás a trabalhar

Estar num convívio familiar ou a passear em locais com paisagens (urbanas e naturais) enriquecedoras.

Qual é tua música preferida?

Não guardo nenhuma música em especial preferindo responder que The Cure, U2 e Nirvana são o meu som preferido.

qual foi o filme que te marcou?

A Vida é Bela, de Roberto Begnini

Prato preferido?

Tal como com o vinho e como sou bom garfo, depende do momento e do contexto. Quando tenho convidados em Fafe, por norma, confio a degustação à Vitela à Moda de Fafe.

Restaurante preferido?

Qualquer um com boa cozinha e com atendimento simpático e pouco formal.

PODES ME PARTILHAR 3 coisas que estão na tua lista de desejos?

Que passe rapidamente esta pandemia e que não se morra da cura; a felicidade das minhas filhotas; manter a animosidade e satisfação nos trabalhos e desafios em que me envolvo.

Desporto preferido?

Andebol

Qual é o teu clube?

Não tenho “dores” especiais por nenhum clube e fico sempre muito satisfeito com o sucesso que os nossos clubes e atletas individuais alcançam. A Associação Desportiva de Fafe e o Andebol Clube de Fafe ocuparão sempre um lugar especial nas minhas preferências.

Se não fosses empresário, eras?

Era Arquiteto Paisagista e Engenheiro Agrícola

Se tivesses a oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o quê?

Não mudava nada de especial pois todas as pessoas e circunstâncias contribuíram para o meu desenvolvimento pessoal e profissional… mesmo os que me atrapalhavam individualmente e/ou às equipas em que estava envolvido.

O que representa Fafe para ti?

O meu pequeno mundo.

Se amanhã, fosses um eleito político local, que medidas no setor económico ou noutro implementarias?

Implementaria estratégias de curto e médio prazo para a fixação de iniciativas empresariais nos setores primário e secundário que tivessem necessidade de mão de obra especializada e criaria redes dinâmicas e inclusivas de promoção e contato dos diversos agentes económicos e das instituições públicas existentes no concelho.

Aceleraria a digitalização e desburocratização dos serviços municipais, bem como apostaria na construção dos corredores verdes e na sua íntima relação com as iniciativas empresariais associadas ao turismo e lazer e não descansaria enquanto não se instalasse uma unidade de transformação agro industrial, pelo menos de média dimensão, que estimulasse o setor primário.

Qual é a tua regra de Ouro?

Ouve tudo e todos mas decide pela tua cabeça.

Há algo mais que gostarias de dizer, que não foi abordado?

Obrigado por este momento. Foi divertido e espero que fiquem a conhecer-me melhor.

Sem comentários:

Enviar um comentário