segunda-feira, 16 de novembro de 2020

CASA DO SANTO VELHO a mais antiga da cidade


A casa do Santo Velho, localizada na Avenida das Forças Armadas, em pleno centro da cidade, é a mais antiga da cidade. A sua construção remonta ao século XVII.

Até 1698 a casa pertencia a Manuel Rodrigues dos Santos e sua mulher Rosa dos Santos de Sampaio e Melo. Nesse mesmo ano, em 20 de Abril, uma renovação de prazo feita pelo Mosteiro da Costa em Guimarães, reconheceu João dos Santos como legitimo herdeiro da Casa do Santo.

Este interessante conjunto arquitectónico de características solarengas, foi sede de um conjunto de quintas que ocupavam uma vasta área que, aos poucos, durante o século XX, a expansão da urbe foi ocupando com a abertura de novas artérias onde se construíram prédios, casas e estabelecimentos de ensino preparatório e secundário.

A casa do Santo Velho, assim designada após a construção da casa do Santo Novo (actual Casa Municipal de Cultura) em 1869, foi propriedade de um dos mais abastados homens do concelho de Fafe no século XIX, José Leite Pinto de Saldanha e Castro.

O conjunto arquitectónico do Santo Velho desenvolveu-se pelo corpo central em “L” com dois pisos: o inferior, outrora ligado à produção agrícola, com cozinha dotada de uma imponente chaminé de tradição minhota e o piso nobre para habitação.


A entrada principal, que dá para um pátio frontal, é marcada por um belo portal, formado por duas pilastras que sustentam um frontão triangular, rematado por três fogaréus. No tímpano, sobre uma ampla porta de arco abatido, ostenta um bem trabalhado brasão de armas dos Ribeiros e Queirós, com escudo de fantasia, assente em cartela decorativa com volutas e motivos vegetalistas; elmo de grade, com viro.

Segundo o investigador Luís Gonzaga Ribeiro Pereira da Silva, estas armas têm origem na Casa de S. Nicolau de Basto: “De um antepassado que teve Carta de Brasão, na qual constavam estes apelidos”.

Em finais do século XIX, encostada ao lado exterior da fachada principal, prolongada por um muro ameado, foi construída uma pequena capela, pertencente à casa, dedicada a Nossa Senhora do Carmo, de linhas simples. A fachada tem porta e janela de arcos plenos que são encimadas por um frontão triangular com um pequeno brasão religioso no meio do tímpano.

 



Esta casa seiscentista, símbolo de uma nobreza rural tão enraizada em toda esta região minhota, é um dos principais atractivos do património arquitectónico da cidade, cujos herdeiros, mantendo a mesma atitude nobre dos seus antepassados, restauraram a preceito em 2008.

A casa do santo Velho foi classificada como Imóvel de Interesse Público em 1986.

 

 

 

NOTÍCIA GENEALÓGICA

 A casa do Santo Velho é indissociável da sua homónima Nova.

Desde a segunda metade do século XIX ambas estiveram intrinsecamente ligadas à história de várias gerações de uma numerosa e nobre família que, em muitos momentos influenciou a própria história local de Fafe.

Deixamos aqui a transcrição integral da “Notícia Genealógica” publicada no 1º número dos Cadernos Culturais da Câmara Municipal de Fafe em 1986.

 

“A casa antiga brasonada do Santo, hoje denominada do Santo Velho, remonta aos finais do século XVII, sendo a sua origem conhecida já em 20 de Abril de 1698 quando o Mosteiro da Costa em Guimarães renovou um prazo do Santo, em Fafe, a João dos santos, solteiro, que herdara de Manuel Rodrigues dos Santos e mulher Rosa dos Santos de Sampaio e Melo. Uma filha deste casal, D. Rosa dos Santos de Sampaio e Melo, casou com Francisco Ventura de Abreu Bacelar Sousa, o qual era oriundo da Casa Nobre da Fonte da Breia, em S. Nicolau, Cabeceiras de Basto. Na descendência destes conta-se D. Maria Barbara de Abreu Bacelar, que em 1797 casou com Jerónimo Tomás de Castro Abreu e Magalhães, da Casa do Casal em S. Nicolau, Cabeceiras de Basto.

Deste matrimónio nasceu em 1800 uma filha, Leonor de Castro Abreu e Magalhães, a qual casou com António Leite Pinto Saldanha de Miranda, viúvo, da Casa de Ambrões, freguesia de S. Jorge da Várzea, em Felgueiras. Em 1827, deste matrimónio nasceu José Leite Pinto Saldanha de Castro, que casou com sua prima direita D. Maria dos prazeres de Castro Abreu e Figueiredo. Deste enlace nasceram nada menos de 19 filhos. O fidalgo José Leite, vendo aumentar a família e que a casa do Santo Velho era pequena, resolveu construir a majestosa Casa do Santo Novo que ficou concluída em 1869.

O 1º filho que ali nasceu foi o Dr. José Leite Saldanha de Castro que em 1907 casou com D. Maria das Dores de Meireles Teixeira Coelho, da Casa do Campo, em Molares, Celorico de Basto.

E por ele haver tocado em partilhas metade da Casa do Casal da Breia, em S. Nicolau de Basto, foi para ali residir, onde faleceu a 10 de Junho de 1940. Deixou 8 filhos vivos: 3 tinham morrido em criança.

A filha mais velha de José Leite Pinto Saldanha de Castro e de D. Maria dos Prazeres foi a D. Lucrécia Júlia Leite de Castro que casou, no oratório da Casa do Santo Novo em 1977, com António Ferreira da Silva Brito, 1º Visconde da Ermida.

As casas do Santo, quintais e quintas anexas ficaram em herança ao filho Padre António e filhas solteiras de José Leite Pinto Saldanha de Castro e esposa, dos quais em 1923 apenas sobreviviam 0 Dr. José Leite, Fernando de Castro Abreu e Leite, D. Maria dos Prazeres Leite de Castro e D. Emília Augusta Leite de Castro.

Mais tarde, a Casa do Santo Velho e boa parte da do Santo Novo ficaram a pertencer à irmã mais nova, D. Emília Augusta Leite de Castro, que casou em 1926 com o Dr. Carlos Morais de Miranda.

Em testamento, D. Emília Augusta Leite de Castro, falecida em 1954, deixou o usufruto da Casa do Santo Velho a sua sobrinha D. Lucrécia Ferreira da Silva Brito e a raiz a suas segundas sobrinhas D. Maria José, D. Maria Fernanda e D. Maria Helena Pinto da Fonseca Ferreira da Silva Brito, filhas do eng.º António Ferreira da Silva Brito, 2º Visconde da Ermida. Em 1980, faleceu a filha mais nova, D. Maria Helena, tendo ficado portanto desde aí a Casa do Santo Velho a pertencer às outras duas irmãs, D. Maria José e D. Maria Fernanda Pinto da Fonseca Ferreira de Brito. Só esta última casou e teve 3 filhos.

A Casa do Santo Novo e os quintais anexos, com cerca de 20.000m2, após a morte de D. Emília Augusta Leite de Castro ocorrida em 1954 na mesma casa, foram vendidos à Câmara Municipal de Fafe, para aí ser construída a Escola Técnica.

A compra foi efectuada em 1958 pelo então presidente da Câmara, prof. Manuel Cardoso.

A Casa do Santo Velho tem um importante portão encimado pelo brasão com as armas de Ribeiros – Queirós e Vasconcelos.

Tinha estes apelidos D. Joana Cândida, 1ª esposa do citado António Leite Pinto Saldanha de Miranda.

É curioso referir que, para efectuar uma grande reparação na Casa do Santo Velho, José Leite Pinto Saldanha de Castro recebeu um conto e duzentos mil réis de seu tio e tio de sua mulher, Fernando de Castro Abreu e Magalhães, o qual declarou em 1856 lhe perdoaria a divida logo que ficasse concluída a Casa do Santo Novo, localizada no “sítio da Quebrada”.

Dos dois casamentos deste Fernando de Castro há numerosos descendentes: da Casa de Cabeça de Porca, em Felgueiras; e de bastantes ramos brasileiros”.

 

Jesus Martinho

 

A casa do Santo Velho antes do restauro, anos 90 séc. XX


 

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