Um templo setecentista de
rara beleza que fechou as suas portas ao povo em plena democracia, iniciando um
percurso indesejado que conduziu ao abandono, apesar de algumas intervenções de
conservação feitas pelos seus actuais proprietários.
Enquanto templo e na
qualidade de património arquitectónico religioso com 264 anos de existência, a
capela de São José já não carece de protagonismos de ocasião... Roga, antes, pela
preservação…
Desde 1756 aos anos 70 do
século XX, esta elegante capela, sendo particular, recebia fiéis e era palco de
uma festividade em honra do padroeiro onde não faltava o animado arraial
Nos séculos XVII e XVIII assiste-se, sobretudo na região minhota, a um aumento significativo da prática
religiosa cristã. Tornava-se imperioso que a Igreja católica correspondesse àquela
extraordinária crença das populações, tanto mais que a maior procura das
práticas religiosas motivou um aumento significativo das receitas para a
Igreja, enriquecendo-a ainda mais. Grande parte dos templos minhotos foram
remodelados e novas igrejas e capelas foram edificadas. Pessoas mais abastadas
deram o seu contributo para este fenómeno sem precedentes, promovendo a
construção de lugares de culto, nomeadamente pequenas capelas, anexadas às suas
moradias.
Não bastava edificar
o templo, era condição “sine qua non”
legar à Igreja uma parte significativa da riqueza dos novos benfeitores em nome
de “Deus”.
José de São Paio,
abastado proprietário, morador no lugar do Tojal, junto à Ponte Nova, requereu,
em 18 de Fevereiro de 1753, a construção de uma capela em honra do seu nome. O
pedido alega que o preconizado templo serviria também os moradores dos lugares
de Portugal e Moinhos do Ferro.
José de São Paio viu
autorizado o seu pedido em 15 de Abril de 1753. O documento incluía uma
escritura pública com o dote para a fábrica e conservação da capela do qual
citamos aqui o excerto seguinte: … “Sua
propriedade de casas, campo e hortas, com suas árvores de vinho, fruto e sem
ele, e com suas oliveiras, chamado de Portugal, da mesma freguesia de Santa
Eulália Antiga de Fafe, o que tudo disse era herdade dízima a Deus de que se
não paga renda alguma, que bem vale cento e cinquenta mil réis e rende a meada,
um ano por outro, cinco mil réis…”
Cerca de dois anos depois da autorização, em Dezembro de 1755, a capela estava erigida.
No dia 4 de Fevereiro
do ano seguinte, foi expedida uma licença para a prática cultual. “… Acha-se acabada e com perfeição, com retábulo
de pedra, bem lavrada, forrada e rebocada, tem paramentos próprios e não
necessita mais que de licença de Vossa Alteza Sereníssima para poder benzer-se
e celebrar-se os ofícios divinos…” Um excerto da informação que o pároco de
Fafe, José Lopes de Paiva, enviou para o Arcebispado Primaz de Braga, em 25 de
Janeiro de 1756.
A licença, que custou
180 réis, foi emitida cinco dias depois por D. José, Arcebispo de Braga. “… Concedemos a licença a ele dito pároco
para que, na forma do ritual Romano, possa benzer a capela de São José de que
trata, e ao depois de benta nela se possam celebrar os ofícios divinos…”
A capela de S. José
abriu ao culto em 30 de Janeiro de 1756, quase três anos depois do pedido de
construção.
Algumas
características arquitectónicas deste templo revelam um arcaísmo pouco usual em
setecentos. O belíssimo retábulo, todo ele em granito lavrado, é um caso raro
em capelas do século XVIII.
Eduardo Pires
Oliveira referiu: … “Esta capela de S.
José assume-se assim, não só como mais um templo importante para o culto de uma
parte significativa da freguesia de Santa Eulália de Fafe mas, também, como um
templo mandado edificar por gente de certas posses, por alguém que preferiu
mandar levantar uma capela em pedra lavrada, adornada por alguns elementos
fortemente decorativos, em vez de um templo construído de pedra irregular,
coberta por reboco e cal branca que teria sido muitíssimo mais barato, mas
também muito menos espectacular”.
Recortes de jornal
Jornais: O Desforço e Notícias de Fafe
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