terça-feira, 17 de novembro de 2020

O MEDO QUE NOS PARALISA

E eis que o vírus nos bateu à porta com toda a força! E o que era previsível é agora real, com a incidência de casos nas duas últimas semanas em Fafe, a ser superior a 2200 casos por 100 mil habitantes. Não há agora como negar... vivemos tempos difíceis onde todos somos forçados a enfrentar o medo. E o medo que foi criado para nos defender do perigo, torna-se também o nosso maior inimigo, ou porque nos paralisa ou porque nos desafia! A pandemia veio com promessas de arco iris e canções inspiradoras que nos diziam que íamos todos ficar bem. Um confinamento no início do ano pôs-nos à prova como humanos, como sociedade, como pais, como companheiros e como amigos. Todos falhámos e todos nos superámos. Entre receitas de pão, aulas de fitness caseiro e sessões de zoom, mal ou bem, lá ficamos com a certeza que afinal até se podia bem com tudo isto. E eis que chega o verão e o sol que tudo cura… vitaminados poderíamos erguer de novo a nobre nação! Mas não. Como as marés vivas de outono, a segunda vaga da pandemia atingiu-nos, quando ainda estávamos relaxadamente à beira mar plantados. E vem o medo… de novo. O medo que nos expõe a verdade, que nos mostra o quão pouco damos valor à vida, ao abraço, ao afeto, à palavra, ao perdão. O medo que nos paralisa a liberdade, o conforto, o convívio, a união. E vem o vírus… de novo. O vírus que nos diz que não. E dizer que não é das coisas mais difíceis que queremos ouvir. Na era das vacinas, dos seguros de saúde, do dinheiro que tudo pode. Não! Não sabemos o que é viver sem consumo, sem multidões, sem escolhas. E de repente paralisamos. E eis que o medo, aquele que foi criado para nos proteger, vem para nos inquietar e de repente todos temos de lidar, quando até aqui, o medo estava reservado aos traumas e imprevistos. Mas é a biologia que nos diz que não podemos com tudo, porque só a vida nos pode desafiar. Porque afinal já nos importa a mercearia da esquina, o café de todos os momentos, o restaurante de todos os convívios, o concerto adiado e o fim de semana cancelado. Porque afinal já nos importa o agora e o presente, porque o futuro nem a deus pertence e nenhum de nós é dono do seu destino, como é da sua vontade. E é no medo, no silêncio, na dor, na solidão, na doença e no perigo que temos a oportunidade de ser a coragem, a voz, o conforto, a presença e o sentido. Ser tempo, cuidado e amor. A nós, ao próximo e ao outro. E ainda assim, muitas vezes não somos. Ainda assim… temos medo de ser!

Clara Paredes Castro 

Foto ilustrativa: Freepik Content


 

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