terça-feira, 3 de novembro de 2020

ISTO NÃO ESTÁ BOM NEM PRÁ INGRÍCULA

Vou falar do que não sei…. como se costuma dizer, não percebo muito de ingrícula. Mas sei que a minha terra é marcadamente rural, que tem esse jeito e trejeitos de ser evoluída, mas com a mão ainda no machado, o olhar no calendário das colheitas e o cheiro de quem adivinha a chuva, se as nuvens fogem para barroso. Por todas as freguesias há ainda um gosto especial de fabricar as terras, de ter produtos próprios pró caldo e ouvir o cantar dos galos pela manhã. A cidade também ela mantém muitos recantos retalhados e agora, com a pandemia, houve até quem passasse a ter pequenas hortas nas varandas dos prédios.

Isto a propósito do mercado biológico de Fafe que, sempre que acontece, me faz sentir uma lufada de ar fresco em relação ao que se pode fazer para valorizar os produtores locais que tão arduamente plantam sementes de saúde e colhem produtos de qualidade. Isto a propósito do quão pouco isto é para tudo o resto. Volto a dizer… falo do que não sei, mas ainda bem! É preciso que quem não sabe, pergunte muito, para os que pensam saber tudo, oiçam alguma coisa. Como se apoiam os agricultores desta nossa terra, como se promove a sua formação, o seu escoamento de produtos, a sua especialização? Como se incentivam os jovens agricultores, as grandes produções que, fruto dos apoios europeus, começaram a despontar concelho fora e muitas delas a precisar de enxerto para se manterem de pé? Dos pequenos, sei de muitos que são do tempo da carreira João Carlos Soares, que os trazia às quartas-feiras à feira para escoar as suas tronxudinhas, as nabiças, os ovinhos caseiros e os tomates fresquinhos e que agora, na iminência do fecho das feiras e da circulação mais limitada do povo, vão usar os produtos para alimentar os porcos, também eles a rarear cada vez mais.. assim como a “malhada” e a “marela” que tanto mugiam por esse concelho adiante, enquanto largavam seus fertilizantes naturais estrada fora…

Sei pouco sobre agricultura, mas sei que podíamos fazer muito mais! O nosso prato típico digno de festival continua sem ter a certificação da carne que lhe dá origem, uma ambição da confraria ainda não concretizada. Sei que os riscos ambientais do abandono dos terrenos agrícolas são enormes, sei que Cooperativa Agrícola de Fafe e a Cooperativa dos Produtores de Mel de Fafe tentam fazer o seu papel e com muita dificuldade. Sei que a agricultura biológica apresenta potencialidades económicas interessantes, pelo aumento da procura, mas que tem de ser enquadrada com uma ligação ao turismo rural e a uma rede sustentada de criação de produtos com qualidade.

Isto não está bom para ninguém, nem prá ingrícula, mas até que podia estar! E não é com olhinhos no céu à espera que as nuvens pr’a Amarante tragam tempo galante... É preciso preparar a terra, fazer a sementeira, regar, orar e ter paciência! Porque, como dizia Vergílio Ferreira, (isto para não ter de citar Saint Exupéry e a sua rosa), “O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou. 

Clara Paredes Castro


Fonte: retirada de um artigo digital (aqui)

 

Fonte: Manuel Meira / Município de Fafe




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