quinta-feira, 12 de novembro de 2020

ALEXANDRA FONSECA, FAFE FOI A CIDADE QUE ME ACOLHEU E ME CONVIDOU A FICAR …


DIRECTORA PEDAGÓGICA DA ESCOLA BAILADO DE FAFE
  
ALEXANDRA FONSECA 

SOCIÓLOGA, BAILARINA, COREÓGRAFA, PROFESSORA E GESTORA CULTURAL 


ALEXANDRA FONSECA, LICENCIADA EM SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES, PELA UNIVERSIDADE DO MINHO, EM 1997. Certificada PELA ROYAL ACADEMY OF DANCE EM TEACHING BALLET, DESDE 1998. PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO CULTURAL, ESCOLA DE GESTÃO DO PORTO, EM 2001. ALEXANDRA, EM PRIMEIRO LUGAR, QUERO AGRADECER A SUA DISPONIBILIDADE E AMABILIDADE ACEDENDO PARTICIPAR NESTA ENTREVISTA. DIRECTORA PEDAGÓGICA DA ESCOLA DE BAILADO DE FAFE, SOCIÓLOGA, BAILARINA, COREÓGRAFA, PROFESSORA E GESTORA CULTURAL.  ESTAMOS CERTOS? ONDE ARRANJA TEMPO, PARA ISSO TUDO?
Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer o convite, e espero de alguma forma tornar este momento, num momento interessante de leitura para todos os leitores. Bem, em relação às nomenclaturas, ressalvo que sou apenas a Alexandra, que criou, idealizou e vem materializando uma escola, e por isso, aquilo fui fazendo, e continuo a fazer, como formação é representativo daquilo que sou. Não consigo dissociar…Ser socióloga tem mais a haver com o pensamento, com a forma como vejo as coisas e as concretizo… Ser bailarina, professora, criadora, produtora, é aquilo que sou a tempo inteiro, quando olho para as coisas, quando sinto as coisas, quando apreendo as coisas…depois, só tenho que levá-las para dentro do estúdio. Tudo o resto é organização e planeamento! E, talvez, uma coisa que tenho vindo a aprender, DELEGAR, nada fácil para quem gosta de controlar todos os processos e estar em todo o lado ao mesmo tempo… Claro, e não consigo fugir dos clichés, um bom suporte familiar desde sempre foi fundamental, um marido que gosta e entende o meio cultural e artístico, amigos que sempre apoiaram as loucuras, mas também o estar nos momentos certos e reais, e esta vontade de fazer mais e melhor que vem de dentro e que não se explica… Estranha forma de vida, talvez!
PODE POR FAVOR, COLOCAR OS NOSSOS LEITORES, A PAR DA SUA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL?
A história de como lecionar chegou à minha vida, é de certa forma curiosa. De facto, a minha primeira experiência como professora aconteceu no meu 11º ano, então com 16 anos, substituindo as professoras que se encontravam grávidas nessa altura, e viram algo em mim para desempenhar essa tarefa. Ainda de forma um pouco leviana e em estado de graça, no ano seguinte acabei por ser convidada de novo, a substituir, numa outra escola, a professora  que estava grávida também,  aqui na cidade de Fafe. Então, todo o meu processo de evolução foi um pouco ao contrário, pois  já dava aulas, enquanto ainda era aluna, e foi fazendo ao mesmo tempo todo o trabalho académico. (Bem, tive professores excepcionais na faculdade, que aturaram os meus horários e as minhas entregas de trabalhos fora de horas; E amigos incondicionais, que tornaram bem mais simples a conclusão do ensino académico, e que perduram até hoje  e seguem o meu trabalho. E assim, cheguei à cidade de Fafe, muito nova e com a tarefa de mudar o paradigma do que era a dança, e transformar a escola de então numa forma de ser e estar mais séria e com trabalho mais criterioso. Mas, o trabalho foi árduo, não só pela dificuldade na mudança de mentalidades, mas também pelas horas extraordinárias de trabalho , de viagens,  sem fins-de-semana…uma loucura, mas boa!, e ficam as histórias das longas e deliciosas viagens  de autocarro pela nacional, principalmente às  sextas-feiras , com galinhas, couves e curvas aceleradas, ou as viagens com os trabalhadores da fábrica cavalinho, no último autocarro para Guimarães e  que tiveram que esperar por mim muitas vezes, claro está, não sem comentários de desagrado, por chegarem tarde ao trabalho, bem inúmeras histórias que ficam na memória e que me foram construindo como pessoa. Convidada a ficar quer, por parte dos alunos, quer pelos seus encarregados de educação, pois a escola iria fechar,  nasce assim, em 1997, a Escola Bailado de Fafe. E, desde então, tenho vindo a desenvolver, com professores e bailarinos nacionais e internacionais, projectos coreográficos e pedagógicos dos quais se destacam, Pedro e o Lobo (Janeiro 2008), em parceria com a Academia De Música José Atalaya, La Sylphide (Julho 2009), As Princesas-tributo a Pina Baush e Merce Cunningham (Julho 2011), Coppélia (Julho 2014), Lago dos Cisnes (Julho 2017) e o “Quebra Nozes” (Janeiro 2019), para nomear alguns. Digamos que ainda não acabei a minha aprendizagem, nem os projectos para o futuro. Vejo-me como um “work in progress”.



QUAIS AS SUAS PRINCIPAIS REFERÊNCIAS MUSICAIS? QUAIS OS MÚSICOS QUE MAIS A INFLUENCIAM?

Como deve calcular, oiço muita música, e um pouco de tudo, e, de facto, por vezes sinto uma enorme necessidade do silêncio, da música das coisas, do vento, do nada. Mas, sim, tenho uma playlist, que me acompanha sempre,  com os The National, XX  e, em Português Tiago Bettencourt. Depois , tenho vozes, às quais me ligo e que me tocam de alguma forma, Manuel Cruz, Tim Booth (James), Antony Hegart ( Antony and the Jonhsons), e a voz de Valter Lobo, inconfundível, e que alunas minhas já utilizam para criarem aulas ou coreografias. Nas minhas aulas, a presença assídua fica a cargo do compositor André Barros e a Noiserv, convidados de honra que me permitem criar e recriar histórias, exercícios, ou simplesmente ficar… Nos trabalhos coreográficos,  e sempre que possível, tento encontrar músicos para criações originais, (obrigada Rui Dias, por teres dito sim às últimas criações e teres feito o nosso trabalho crescer), quando não dá, pesquisa, pesquisa, e pesquisa até encontrar a sonoridade certa. Não poderia nunca esquecer a música clássica, e descobrir os bailados e seus compositores com os alunos, que é sempre um desafio interessante.

E BAILARINOS, QUAIS AS MAIORES REFERENCIAS?

Bem, em relação à dança, já não é tão simples a escolha.

Não consigo pensar a dança sem alguns dos marcos históricos,  e começo já avançando no tempo,  a pensar nas bailarinas do período romântico, que pela sua persistência, sofrimento e capacidade de fazer melhor, permitiram termos guardados até hoje bailados com Giselle e La Sylphide., ou Isadora Duncan, e anos mais tarde, Martha Graham, e suas contribuições para a dança moderna, numa mudança do pensar a dança e o movimento, ou Pina Baush e esta coisa de que tudo é dança, esta forma  de contar histórias a dançar, e a forma como conseguia fazer com que o mundo parasse e o tempo só existisse no tempo do palco, e que foram a base para pudermos ver agora os coreógrafos  da actualidade arriscar o corpo, a mente e o sentido das coisas…  Wayne Mc Gregor, Christal Pite, Sidi Larbi Cherkaoui, Peeping Tom, Akram Khan,  entre muitos outros que nos fazem pensar, questionar, avançar, crescer, ou simplesmente ser.

Gosto de seguir o trabalho de alguns dos bailarinos da nossa Companhia Nacional, quer pela proximidade que fomos ganhando com os projectos desenvolvidos em conjunto, quer pela resiliência que vão demonstrando em quererem ficar neste país, e pelo trabalho que vão desenvolvendo para serem mais e melhor, apesar da invisibilidade. Gosto de pensar e ver o trabalho Da Sofia Dias e Vítor Roriz, interessante, desafiante, lindo. Depois,  bem, tenho  guardado na memória alguns bailarinos, fantásticos bailarinos, que conheci e que me tocaram pelos pequenos gestos , pela  humildade e acessibilidade, apesar do seu estatuto, e que me fazem pensar sempre em querer ser melhor pessoa e professora, Federico Bonelli(bailarino do Royal Ballet),Aída Vainieri (tanztheatre Wuppertal Pina Baush) e Agnés lopez Ríos (CND, Espanha).



QUAL A SUA OPINIÃO DO ESTADO DA CULTURA EM PORTUGAL ?
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CORONA VIRUS É ?
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COMO TEM PASSADO ESTES MESES EM CONFINAMENTO?
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A POSSIBILIDADE DE SER INFECTADA ASSUSTA? ATÉ QUE PONTO?
*** Se me permite vou agrupar todas estas questões numa mesma resposta e terminar respondendo ao estado da cultura em Portugal, que esta pandemia pôs a nu, trazendo a lume as décadas de políticas culturais inexistentes,  a inocuidade de pensamentos e soluções para reais problemas, e uma insurdescência que me causa urticária, e simultaneamente me entristece. Começo por dizer que não é uma questão de medo de ser infectada que me faz pensar o meu dia-a-dia, mas mais de responsabilidade pelos outros e de respeito pela vida humana. O meu confinamento e, provavelmente também o próximo, não foi, nem eventualmente será, muito diferente do passado pela maioria das pessoas. Fiz um pouco de tudo, desde as tarefas domésticas (mesmo aquelas grandiosas de mudar mobília, ou arrumações que nem na Páscoa…), até às coisas que vamos adiando fazer, como aquele livro que nunca tivemos tempo para ler, recuperar aquela criação ou história que queríamos contar e que se perdeu no tempo, e…pensar…muito. Talvez na próxima, recomeçar a escrever… Mas, e voltando ao corona vírus, é “nonsense”, para mim. Este constante transformar o que deveria ser a cultura da responsabilidade e do respeito pelo outro, numa cultura do medo, que se desenvolve em mensagens subliminares de culpa, irrita-me profundamente. Este discurso constante, vazio de conteúdo prático e válido, mas cheio de inconsistências não ajuda a combater a simplicidade e rapidez deste vírus. Corona vírus vai acabar por ser sinal de desafios…desafios para os jovens, que devem pensar e decidir que mundo querem, que organização social, política, que educação, que cultura…como querem ser representados… Desafios para as  duas gerações seguintes, que vão ter que reentrar num mundo de trabalho para sempre alterado, e em que reinventar nem sempre é solução. Desafios, enfim, para um mundo que vive  desde há muito uma crise de valores, de falta de ética, lado a lado, com uma crise económica, a que se junta esta pandemia…tempestade perfeita para a mudança e para o brilhar de um sol mais forte no futuro…talvez. E chegamos então ao estado da cultura em Portugal…décadas sem efectivas políticas culturais, onde a dança tem um papel menor. Num país, de forma geral, culturalmente pobre, em que ainda hoje, século XXI, temos de ouvir o ministro da educação dizer que gosta muito de dança e que até tinha jeitinho para a dança quando era pequeno, só pode dar nisto… A arte e os artistas a tentarem sobreviver, não na arte, mas na vida fora dos palcos tentando não passar fome, e sobreviver ao dia de hoje. Não posso dissociar a cultura da educação, pois uma alimenta-se da outra, ou deveria, numa sociedade coerente, que pensa a educação e o desenvolvimento das suas crianças. A revolta torna-se mais premente quando, em contacto com outras realidades, percebemos o longe que estamos de sociedades mais maduras, mais sensíveis , mais responsáveis. E, nada tem que ver com muito ou pouco dinheiro…apenas com falta de vontade e de querer fazer! Ser artista em Portugal tornou-se um acto de coragem, não de uma profissão, não uma forma de vida. Ainda hoje me perguntam duas vezes o que faço, sim…, qual é mesmo a minha Profissão… Triste Portugal este…. Mas, acredito, que se conseguir mudar uma cabeça, deixar uma semente nos que me rodeia, o processo de mudança será mais curto e mais fácil!
O PALCO TRAZ FELICIDADE ?
Sim, ainda me move, ainda me faz sentir bem…quando deixar de sentir o prazer de subir a palco , e não ter mais que dizer…então está na altura de retirar. È uma ideia pacífica, natural e convivo bem com isso.


QUAL O SEU PERCURSO NA DANÇA?
Começo por dizer que ainda não terminou, e que ainda hoje encontro professores que me inspiram, e, que ainda hoje, gosto de aprender, de me sentir a aluna e que me mostrem caminhos vários e me deixem percorrê-los. Acho que fui sempre assim, insatisfeita com o que me davam para aprender e procurando outros caminhos, outras imagens, outras formas de pensar. Acho que iniciei os  estudos em dança em 1979, nas técnicas de dança clássica e de dança moderna,  e tal como disse, tentei ir até ao fim dos exames como aluna, o meu último exame foi em 2002. Só mais tarde, em 1995, tive contacto com a técnica de dança contemporânea  com professores como  Aldara Bizarro, Vasco Macide, Alain Gruttaduria, nesta procura constante por querer saber mais. E, penso que terá vindo desta altura, e da dificuldade que era ter contacto com bailarinos, professores, e mesmo espectáculos de dança, (sim, cedo percebi o que significava viver longe e fora dos grandes centros, e então para  o acesso a cultura era desesperante), que pensei que a minha escola teria que proporcionar de forma acessível todos estes contactos, longe dos comentários sempre jocosos…mas vens mesmo de onde…e onde fica isso…só me apetecia responder…em Marte!!!!Mas, fui conquistando um espaço, construindo esta forma de estar na dança, consistente, responsável e lutando pela dignificação das artes performativas, e dos seus actores, defendendo  o seu estatuto e lugar no mundo e nas pessoas, sempre que posso e com todas as pessoas com quem contacto. Alegro-me de ter conhecido e trabalhado com seres humanos incríveis  como a bailarina e professora Lianne McRae  ( que podemos receber mais do que uma vez na nossa escola), Ricardo Ambrózio ( Untamed, Portugal ), com quem trabalhamos regularmente, Esteban Fourmi ,(the Place, em Londres), que me mostrou que a idade não é impedimento para ser, e, uma pessoa enorme que encontrei em Munique à dois anos atrás, numa formação em Dramaturgia para a Dança, Hildegard de Vuyst, que me permitiu pensar que é possível defender esta forma de pensar a dança relacionada com todo o saber  e com todo o ser. Rui Reis Lopes, bailarino da extinta Gulbenkian, e as histórias deliciosas de uma história da dança em Portugal e de um legado que desaparece,  histórias  de viagens que levaram a nossa dança longe, bem além fronteiras e que se evaporou, assim, do nada e por nada. Foram muitas as minhas influências neste percurso que ainda vai a meio. Para todos eles, muito obrigada!

É FACIL SER PROFESSORA DE DANÇA?

Para mim é. Ser professora é fácil e natural. Ter uma escola, não.




DETESTA?APAIXONADA VAI ATÉ ONDE?

Detesto hipocrisia, falta de ética, a falta de respeito exaspera-me. Adoro sorrisos e abraços. Detesto beterraba, mas adoro o cheiro da terra depois de um dia de chuva. Detesto palavrões, mas adoro sotaques. Detesto mediocridade, passividade. Adoro a luta e a vontade. Adoro o sol, e a chuva, sentir o vento na pele e o frio da neve. Adoro a lareira! Sou uma apaixonada pelas coisas  e pelas pessoas, e vou até ao fim do mundo por aquilo em que acredito.

GOSTA DE FUTEBOL? QUAL O SEU CLUBE?

Sim, gosto de futebol, desde miúda. Maria-rapaz, de jogar futebol e caricas (para quem é desse tempo)., subir…e cair…das árvores, bem tudo a que tive direito. Para além da dança do jogo, adoro observar o comportamento humano… gestos e momentos infindáveis, num jogo de futebol. Hoje em dia, um pouco alterado por força das questões monetárias, mas enfim, a essência está lá e a imprevisibilidade ainda surpreende. Fui ao primeiro jogo com o pai, talvez aos 6,7 anos, e com o irmão mais velho que o pai convidou primeiro, por isso tive que impor a minha presença, já com o sentimento de igualdade a vir ao de cima (sempre questionei o facto de porquê haver coisas de menino e de menina…), e quem ficou adepta regular e assídua até hoje foi a rapariga. O mano não gostava de futebol, para tristeza do pai que teve que levar sempre a rapariga, Por isso, sou sócia desde cedo, número 2565, e posso dizer que o meu coração só tem duas cores, Preto e Branco. E, sim, é verdade que o sentimento vitoriano não se explica, sente-se e vive-se, mesmo nunca ganhando nada… VSC… acho que sou mais vitoriana que propriamente vimaranense, se é possível. Não pensei muito nisso, ainda.
ESCOLA DE BAILADO DE FAFE?

A escola bailado de Fafe, instituição de ensino artístico,  tal como já mencionado, nasce em 1997, na cidade de Fafe. Fafe foi a cidade que me acolheu e me convidou a ficar...quando cheguei a Fafe em 1991, ainda com a dança como sendo algo que fazia parte de mim, mas apenas para mim. Encontrando-me a iniciar o curso de sociologia das Organizações, paralelamente aos estudos em dança e ao curso de professores da Royal Academy of Dancing, o projeto ebf nasce quando percebi que tinha algo para partilhar e para dizer para além do meu egocentrismo, e que se calhar, da mesma forma que a dança mudou a minha vida, eu, no meu micro-universo, poderia tocar a vida de outras pessoas, (acho que a minha veia sociológica aparece aqui, e marca toda a evolução da escola e do meu pensamento sobre a dança, a cultura, a arte e os seus papéis na sociedade). A escola nasce neste contexto e vai crescendo comigo... Até hoje! Primordial para a escola, são as linhas orientadoras das quais não abdico:

Formação. O desenho curricular da ebf está concentrado nas três disciplinas principais, técnica de dança clássica, técnica de dança moderna e técnica de dança contemporânea. A formação proposta é acessível a todos que queiram investir de forma mais séria na dança, quer seja pelo puro prazer de dançar e conviver, quer seja pela vontade de encarar a dança como possível profissão, e veja a dança como, o seu futuro! Paralelamente, o convite a outros professores e coreógrafos, nacionais e internacionais, têm sido uma constante, pois o contacto com realidades e trabalhos diferentes são demasiado importantes para formar o carácter, para além da técnica dos alunos.

Profissionalização com a ligação à BUZZ, cia de dança. Fundada em 2006, a Buzz Companhia de dança, resulta de uma aposta na via profissionalizante dos alunos, e o seu contacto com o mundo artístico e a realidade da logística de produção de espetáculos, etapa esta que me parece crucial para a valorização pessoal e expansão dos alunos e da escola.

Ligação à Comunidade e ao ser social, desenvolvendo projectos com e para a comunidade, sejam eles de criação coreográfica ou pedagógicos. Desde o início que não fazemos o caminho sozinhos, mesmo porque o público é fundamental para o artista. Por isso, tudo que diga respeito a mostrar, a dar a conhecer e a informar, para fora da escola é também necessário. Assim, desde logo ir aos infantários e escolas (e, agradeço o empenho e o querer dar a todos os seus alunos o contacto com projectos de dança e movimento), da cidade de Fafe, Jardim de Infância Montelongo, Santa Casa da Misericórdia, entre outros. Destaco ainda O pedro e o lobo, em 2008, em parceria com a Academia José Atalaya;De portas abertas, em junho de 2019, sobre a violência e bullying nas escolas, com a Escola Montelongo, e, também em 2019, com a Câmara Municipal de Fafe, o projecto Cidades Educadoras, sobre viver a cidade.

O último projeto que abraçamos é o “Ensino através do movimento”, e que está a ser construído com o Agrupamento de escolas de Montelongo, a partir do 1ºciclo, em que o trabalho dos conteúdos programáticos é desenvolvido através do movimento, potenciando o conhecimento físico, mental, em suma global do aluno.

Dentro desta trilogia, nasce o projeto “Easter Dance Week”,em 2015, que nos permite trazer à nossa escola professores , bailarinos e coreógrafos convidados nacionais e internacionais, e ir a palco e trazer a palco dança...profissional.

Iniciamos o ”Here and Now”,em 2014, projeto de formação continua de contacto com profissionais ao longo do ano, normalmente de um ou dois dias intensivos. OO outro projeto, e do que tudo que fiz é o que mais me preenche enquanto pessoa, são as “Galas” solidárias, idealizada em conjunto com o bailarino Tiago Coelho, da CNB. Isto, pelas pessoas que encontrei, bailarinos, trabalhadores nas instituições com quem trabalhamos; isto, pela ligação criada com a CNB(Companhia Nacional de Bailado); isto, pela possibilidade que nos dá, não só de levar a mais gente o ballet clássico, mas também ajudar de forma direta quem realmente precisa. Não posso esquecer o momento em que subiu ao palco do Teatro Cinema de Fafe “ A perna esquerda de Tchaikovsky”, da Companhia Nacional, e poder proporcionar aos nossos alunos trabalharem com Barbora  Hruskova, uma produção louca, mas deliciosa. Outro projecto que nos é caro, são os “Summer Intensives”, que, saindo da nossa zona de conforto, da nossa cidade, do nosso país, permitem aos alunos o contato com outros bailarinos, com outros coreógrafos, e beber um pouco do panorama da dança internacional, criando também histórias de viagens que ficam para contar mais tarde.



OS SEUS ALUNOS (AS)?

Já foram algumas centenas… mas, todos os anos e ainda agora, encontro seres diferentes, que vejo crescer, ganhar corpo, ideias e um lugar no mundo e que me fazem apaixonar de novo por este querer dizer-lhes algo e deixar-lhes algo para levarem com eles para sempre….uma emoção, uma imagem, uma ideia, às vezes o futuro.

QUAL A TÁCTICA PARA MOTIVAR OS SEUS ALUNOS?

Quem gosta de arte, de palco, de dançar, não carece de motivação, a não ser o querer ser mais e melhor. Quando descobrem como utilizar os seus conhecimentos, quando se permitem descobrir quem são, como se mexem, como se exprimem…bem, só posso deixá-los voar. Não há táctica, só paixão… Adoro vê-los crescerem, perceber as mudanças nas nossas conversas ao longo dos anos, o carinho, as cumplicidades, as viagens, as histórias das aulas , dos bastidores dos espectáculos…acho que fica para  o livro das memórias…

TEM NOÇÃO DE QUANTOS ALUNOS, JÁ PASSARAM PELA EBF, DESDE 1997?

Já foram algumas centenas…

FAFE É?

Fafe é a cidade que me viu crescer enquanto profissional. Que acompanhou sempre os meus sucessos e insucessos. Senti a cidade a evoluir ao mesmo tempo que eu. Cidade jovem a abrir-se para um mundo global e que me permitiu desenvolver ideias, projectos e abraçar com o mesmo carinho com que eu gosto de receber, pessoas e causas. Há algum tempo atrás, uma aluna minha perguntava- me porque é que, sendo eu uma aventureira, com ideias e ideais diferentes ( bem, não quis muito explorar o que significava diferente para ela…), porque que eu, ainda continuava  em Fafe. E, lá tentei explicar ( falta saber agora se fui convincente…), que todos temos que ter direito e acesso a todos os aspectos da vivência em sociedade. Esse dado está garantido nas cidades grandes, como Porto ou Lisboa, mas o trabalho que desenvolvemos fora dos centros não pode nunca ser menosprezado, subvalorizado, ou abandonado. Ao longo destes quase 30 anos, fui sempre apoiada e considerada pelo município e seus decisores, e, com eles fomos encontrando caminhos para edificar  e por no mapa a cidade de Fafe, como cidade cultural e virada para o futuro.



SE FOSSE UMA “ACTRIZ” POLITICA EM FAFE, O QUE FARIA EM PRIMEIRO LUGAR? E EM SEGUNDO LUGAR ?

Não gostando propriamente de política, apesar de todas as teorias de que somos seres políticos, tenho alguma dificuldade em representar papéis no palco político. Em todo o caso, acho que o primeiro passo seria repensar todo o sistema político, e perceber o que seria bom preservar, abandonar, meter na gaveta para sempre, ou trazer para luz. Tudo o resto seria para fazer de novo, construir como um novo cenário…talvez escolher um novo plano de fundo. Depois, certamente, repensar a educação, e, principalmente a educação artística e da dança em particular. Ambas obsoletas, para mim foi sempre um sentimento que tive desde que passei pelo ensino médio, pois a escola precisa  de novos paradigmas, de um novo texto, talvez de novos actores.

AOS SEUS AMIGOS DIZ, VISITA FAFE PORQUE?

Nunca deixaram de visitar Fafe, quer para seguirem o meu trabalho, quer para confirmarem que não precisamos estar no Porto ou em Lisboa ( onde a maioria reside), para se fazerem coisas interessantes, grandiosas, apesar da pouca visibilidade. Mas, acredito que quando vão embora, não são mais os mesmos, e se renovam, nesta cidade jovem, calma mas efervescente.
PARA TERMINAR, QUAIS SÃO OS SEUS PLANOS  PARA OS PRÓXIMOS TEMPOS?

Muitos projectos… Pessoais, o espectáculo em construção, “Casa corpo”, com Pedro Carvalho, aflorando uma espécie de memória biográfica através do corpo. Para a escola, bem, as ideias são muitas, o confinamento trouxe temas sem fim para criar e desenvolver com os alunos, mas, assim já na forja, Mitologia, Heróis e lendas…, o ciclo de mulheres, abordando não só grandes mulheres que mudaram o mundo, mas também o tema do feminismo e que futuro… Bem, vão ter que nos ir seguindo e crescendo connosco!

MUITO OBRIGADO PELO TEMPO E CARINHO QUE DEDICOU AOS NOSSOS LEITORES, UMA MENSAGEM PARA ELES ?

Dizer-lhes apenas para serem felizes, felizes com os outros e pelos outros. Não esquecerem os afectos e tornarem a sociedade um pouco melhor em cada dia.







ESCOLA BAILADO DE FAFE

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ESCOLA BAILADO DE FAFE

 

VIDEO: 

Teaser do Lago dos Cisnes | 20º Aniversário Escola de Bailado de Fafe | com os convidados especiais da Companhia Nacional  de Bailado, Tiago Coelho e a Inês Serra Moura.


VIDEO:
Um momento de criação à distância durante o confinamento com as nossas alunas: quem ficou com as minhas pontas?


VIDEO:
Impulstanz 2014 | incursão em Viena no Impulz Tanz


Paulo Matos 
Jornal de Fafe |11/11/2020

Fotos de: 
alexandra fonseca | escola de bailado de fafe 
Jornal de Fafe |11/11/2020





 


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