domingo, 18 de outubro de 2020

“UM OUTRO OLHAR” – MANÉ SOUSA, UM EMPRESÁRIO COM ESPÍRITO FAMILIAR

 



Bom dia Mané, agradeço–te a disponibilidade para participar nesta entrevista. Já nos conhecemos há alguns anos devido à nossa paixão por um clube de futebol, levando-nos a ir por vezes juntos ao estádio quinzenalmente. No entanto pouco sei de ti, quer em termos pessoais, quer profissionais, sendo tu e muito bem, uma pessoa bastante discreta. Neste sentido, a minha primeira pergunta é da praxe e é mais pessoal: gostava que me partilhasses as tuas origens, o teu percurso escolar e formativo. Eras bom aluno? Gostavas de estudar?

Olá Filipe! Eu é que agradeço a simpatia e lembrança da tua parte para esta entrevista. Aproveito para te dar os parabéns pela excelente iniciativa e ainda pela tua escolha dos entrevistados e empreendedores antes desta entrevista. A fasquia ficou muito alta!

Quanto a mim, nasci e cresci essencialmente aqui em Fafe. Tive uma infância muito feliz por onde passei e morei, não me podendo queixar de nada. Só tenho a agradecer o esforço tremendo dos meus pais pela minha felicidade, educação, pela sua confiança e liberdade que sempre dispus. São claramente um modelo que procuro seguir com os meus filhos.

Quanto aos estudos, fiz a primária na extinta escola P3, junto à igreja Matriz. No 5º e 6º ano andei no ciclo, atual escola Carlos Teixeira. Após esta etapa e por vontade dos meus pais fui estudar para Guimarães onde terminei o 9º ano. Regressei ao nosso liceu para aqui finalizar o secundário. Tirei a licenciatura em Engenharia Civil na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em Vila Real. De facto, era o único curso que ambicionava desde criança.

Era de uma forma geral bom aluno, gostava da escola, mas nunca gostei muito de estudar. Espero que os meus filhos não vejam estas últimas palavras 😊


Tens alguém na tua família ou amigos como modelo empreendedor? Como surgiu a ideia de ser empreendedor?

Eu acabo por representar nesta entrevista toda uma família de empreendedores (pais, avós tios, primos). Todos desde cedo tiveram espírito empreendedor e arriscaram com os seus próprios negócios que ainda hoje quase todos eles perduram.

Claro que, com a vivencia diária com os meus pais e com o seu espírito fascinante de empreendedor, o meu bichinho pelos negócios foi crescendo dia após dia. Desde muito novos, sempre os vi a arriscar, deixando, no caso do meu pai, um emprego nos quadros públicos para tentar a sua sorte. Lutaram e negociariam com a nobreza de sempre respeitarem toda gente: clientes, fornecedores e ainda hoje mantêm um excelente relacionamento com as empresas concorrentes. Esta forma de ser e estar moldou a minha perspetiva e visão do mundo empresarial.



Tens a particularidade de estares com a tua família na gestão de várias empresas, em setores tão distintos como a construção, imobiliário, comércio, projeto, lazer e agroturismo. Conta-nos mais sobre as trajetórias da vossa empresas até à data de hoje, partilhando-nos as suas atividades, os seus produtos e serviços e dimensão em termos de mercado e humano.

Por ordem cronológica: 

Ainda muito novos, os meus pais começaram a fazer projetos de arquitetura em casa. O meu pai no horário extra do seu emprego público e a minha mãe trabalhando e conjugando com as lides domésticas. Hoje, com um crescimento acentuado e sustentado, a empresa dá pelo nome de GADET – Gabinete de arquitetura, engenharia e topografia, contando com um quadro técnico ambicioso de arquitetas, engenheiros(as), topógrafo e administrativa. Localiza-se no cruzamento da rua do Retiro com a rua António Cândido e prestamos serviços de projetos residenciais, industriais e comerciais, passando ainda pela avaliação de imóveis, peritagens de edifícios, orçamentação, cadernos de encargos etc.

Em 1993 criaram uma nova empresa em nome do meu pai que evoluiu em 1999 para a atual  Fafisol Lda – Comércio e aplicação de materiais isolantes, com sede e 1º armazém na zona industrial do Socorro. Sempre nos distinguimos pela inovação e procura constante de novas e melhores soluções no âmbito do isolamento para construção.  Inicialmente fazíamos apenas comércio de materiais nos concelhos mais próximos, tendo entretanto, alargado a todo o território nacional e já até com significativo volume de exportação para diversos países.

Entretanto entramos também na aplicação em edifícios, essencialmente em isolamento de fachadas e coberturas. Tentamos aproveitar a cada vez maior preocupação das pessoas com o consumo energético da sua habitação e diminuição da pegada ambiental para nos posicionarmos como empresa de confiança e de relevância na nossa área de intervenção. 

A polivalência, profissionalismo e dedicação dos nossos colaboradores permite-nos abraçar qualquer tipo de obra e desafio em total tranquilidade.

Durante a construção do que seria um segundo pavilhão para a Fafisol, surge a ideia, pioneira na região, de criar um campo de futebol indoor em relva sintética. Nasceu assim em 2003 o PlaysoccerIndoor na Rua de Santa Maria na freguesia de Regadas, com horários de uma hora  preenchidos por empresas e grupos de amigos, onde também se realizam torneios diversos, festas de aniversários e outros eventos. Mais recentemente foi criada a Playsoccer Kids, uma escola de futebol para crianças, orientada por professores e técnicos de inegável capacidade e qualidade.

Precisamente ao lado do Playsoccer, num terreno que tínhamos livre na mesma rua, nasce em 2007 uma nova ideia de criação de um complexo de piscinas públicas, o Aquaplay. O seu crescimento foi de tal forma constante que temos hoje cerca de 5 vezes maior espelho de água e espaço relvado em relação ao inicial. Fomos adaptando o espaço e criamos áreas com escorregas, parque infantil e zonas verdes para fazer face ao aumento anual de afluência, quer de utentes individuais, quer de escolas e centros de férias de verão.

Nas imediações deste complexo, numa quinta dos meus avós com cerca de 10 ha no total e 8 ha de vinha, produzimos e comercializamos vinho com a nossa marca e rótulo. Acabamos precisamente as vindimas no fim de semana passado. Existe ainda nesta mesma quinta, uma casa com tal dimensão que subdividimos em vários apartamentos com diferentes tipologias para aluguer, criando assim a Quinta D’Areda – Wine & Pool Experience. Também aqui, devido à ocupação, fomos aumentando a área e número de apartamentos e adaptando ano após ano para criar ainda melhores condições e experiências para os nossos turistas portugueses e estrangeiros. É também um orgulho salientar que temos na plataforma Booking a soberba pontuação de 9.1 em 10 possíveis. Situa-se na rua Dona Maria, também na freguesia de Regadas.

Mais recentemente, há cerca de 4 anos, entramos no ramo imobiliário, neste caso na cidade do Porto. Fizemos e fazemos aquisições de terrenos ou ruínas, desenvolvemos projetos, executamos a obra e vendemos os apartamentos. As primeiras escrituras foram realizadas recentemente em setembro.

Além desta iniciativa familiar na vertente imobiliária, também no mesmo ramo, mas em parceria com outros 3 sócios, amigos de infância e fafenses, criamos um grupo empresarial que agrega várias nossas empresas imobiliárias e de construção, com o nome bem sugestivo para um fafense de Montelongo Investimentos.

Nesta altura, entre fase de projeto e de construção nas várias sociedades, tenho mais de 130 frações em andamento. Num prazo tão curto este número obviamente enche-me de orgulho, mas ao mesmo tempo de responsabilidade para com todas as pessoas que nos compram os imóveis e nos recomendam a outros familiares e amigos.



Quais são as dificuldades que encontras na gestão do dia a dia dos vossos negócios?

Não chamaria de dificuldades, antes de desafios. Todas estas empresas familiares, são geridas pelos meus pais, pelo meu irmão, por mim e com a preciosa ajuda das nossas esposas. Acabamos por ter de nos completar e ajudar uns aos outros, pois todos somos necessários em todas as empresas. É uma luta árdua e diária que nos tira muitas horas de sono, mas ao mesmo tempo nos mantém em permanente contacto e união.


Quais são as maiores satisfações e desilusões que tiveste até agora, com as vossas empresas?

A minha maior satisfação reside no facto de ver voltar os nossos clientes inúmeras vezes aos nossos espaços, a repetir compras, projetos e trabalhos devido à sua anterior experiencia connosco. É o melhor sinal de que estamos no caminho certo!

Quanto a desilusões, tentamos que sejam passageiras, pois quando se dão, procuramos em família e com os nossos colaboradores dar de imediato a volta a situação, sabendo que podem ocorrer em todas as empresas.


Quais são os próximos desafios que prevês para as vossas empresas?

O desafio imediato é tentar ultrapassar com sucesso este período anómalo que estamos a passar devido à Covid19, continuando a aumentar os nossos serviços, instalações e proporcionando ainda melhores experiencias para servirmos e cativarmos os nossos clientes.




Quais são as características pessoais MAIS importantes para as vossas empresas? Isto é, que importância dás às relações internas e externa nas empresas? Para ti como empresário multifacetado, quais são os contactos mais importantes? Fornecedores, clientes, pessoas de influência?

Nas nossas empresas temos de ser, e somos, uns pelos outros. Se queremos que nos ajudem também temos de ajudar.

Quanto aos contactos e pela minha forma de pensar, todos são importantes. Dou-te um exemplo prático: quando vou orçamentar algum trabalho, tanto me interessa o grande como o pequeno. Da mesma forma o vejo com um cliente desconhecido ou uma pessoa de influencia. Um cliente satisfeito traz outros. Privilegio todas as relações, seja entre nós, entre os colaboradores, clientes e colaboradores. Só com um bom conjunto destes relacionamentos continuaremos a evoluir favoravelmente.


Como te vês como pessoa? Como lidas com o fracasso e o sucesso?

Vejo-me como um eterno otimista por natureza, sempre com vontade de evoluir e melhorar as minhas capacidades. Sou perfecionista e cuidadoso em tudo o que faço no meu trabalho e até nas coisas mais simples do dia-a-dia. Respeito muito as pessoas com quem lido e gosto de me colocar no seu papel para tentar entender o seu ponto de vista, que naturalmente por vezes é diferente do meu.

Lido com o sucesso e o fracasso de uma forma perfeitamente natural. Quando fracasso ou algo corre mal, tento ou tentamos corrigir e dar a volta o mais rapidamente possível para não pensar muito nisso. O sucesso mantém-me tranquilo e orgulhoso, mas ao mesmo tempo alerta e atento pois sei que pode sempre ser efémero se o dermos como adquirido e não continuarmos a lutar por ele diariamente.
 

Consegues conciliar, no teu dia a dia, a vida profissional e pessoal?

Vou conseguindo e tenho mesmo de o conseguir, pois caso contrário nada faz sentido. Tenho a sorte de estar acompanhado por uma grande mulher que compreende o meu dia-a-dia e vai mantendo as coisas em casa no melhor funcionamento. Tento ainda ser um pai e marido presente nas lides diárias. Vamo-nos alternando com os nossos filhos nas idas para a escola/infantário e contamos ainda com a preciosa ajuda dos nossos pais e irmãos. Nas férias e fins-de-semana tento compensar, estando o máximo de tempo possível juntos em família.

No teu percurso profissional, queres partilhar um momento único positivo ou negativo ou até anedótico que te marcou? 

Um momento anedótico aconteceu-me há uns anos no início de uma reunião: mal cheguei, cumprimentei todo sorridente uma senhora, a pensar que a conhecia de Fafe, quando afinal era uma figura pública que eu conhecia da televisão. Só o soube no fim da reunião, quando em conversa lhe disse que a conhecia, mas não me recordava de onde. Quando ela me disse quem era foi a gargalhada geral.
 


Se tivesses um conselho a dar a um jovem empreendedor perante o estado atual da Economia, qual seria?

Nesta altura tão particular devido à pandemia, aconselhava a que estude bem os passos a dar, analisando de sobremaneira a conjuntura atual. Caso se vislumbre uma boa oportunidade, que trabalhe e a agarre com determinação que ninguém com certeza o fará por ele(a).


A crise atual associada à Pandemia COVID-19, afetou-vos na vossa forma de trabalhar? na competitividade das vossas empresas, nas relações com os clientes? De forma negativa ou positiva?

Afetou de uma forma geral em todas as empresas, principalmente no relacionamento direto com os clientes e fornecedores. Perdeu-se um bocado aquele toque pessoal, deixou-se de ver as expressões que nos ajudam a avaliar a reação e o semblante de cada um.

Em termos de competitividade, sentimos essencialmente a perda de volume de trabalho nos negócios de lazer que tiveram uma queda obrigatória devido ao decréscimo do turismo. O Playsoccer esteve alguns meses fechados. Acabamos por ter uma bela surpresa com o Aquaplay que teve uma redução de faturação bem menor que estávamos a contar. Foi no entanto o primeiro ano que não aumentamos significativamente em relação ao anterior.

A Fafisol acabou por aumentar bastante a faturação nessa altura da pandemia, com muito mérito do meu irmão, que entrou na empresa nessa altura com uma vontade e um espírito empreendedor de realçar, acabando por arrastar positivamente todos os que o rodeiam na empresa.

As restantes empresas continuaram normalmente sem grandes variações no volume de negócios.



Vamos passar para uma parte mais pessoal da entrevista, tenho as seguintes perguntas e peço-te uma palavra ou frase de resposta para cada uma delas:

Hobbies?

Convívios em família e amigos, viajar, andar de mota e outros desportos motorizados, jogar futebol, ir ao estádio ver o nosso clube e jogar padel mais recentemente.

Local de Férias preferido?

Vários, desde que quentes e com muito sol.

Adoras?

A minha família.

Detestas?

Falsidade, hipocrisia e injustiças.

MUSICA PREFERIDA?

Creep dos RADIOHEAD

Prato preferido?

Pica no chão.

Restaurante preferido?

Adoro comer e comer bem Nesse sentido tenho vários restaurantes preferidos.

Desporto preferido?

Futebol.

Qual é o teu clube?

Futebol Clube do Porto

Se não fosses empresário, eras?

Não faço ideia.

Se tivesses a oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o quê?

Nada que me lembre.

O que representa Fafe para ti?

Fafe e os fafenses representam a minha casa e a minha comunidade por excelência. Honestamente (e os meus familiares e amigos mais chegados sabem-no) nunca me passou pela cabeça morar fora de Fafe. Aliás, estando fora, seja em férias ou trabalho, acabo por sentir um alívio e satisfação sempre que cá chego. Sinto um orgulho enorme quando digo fora que sou da cidade de Fafe.

SE AMANHÃ, FOSSES UM ELEITO POLITICO LOCAL, QUE MEDIDAS NO SETOR ECONÓMICO OU OUTRO, IMPLEMENTAVAS?

Implementaria um gabinete de apoio às empresas e aos empresários, com agentes diretamente no terreno a visitar as empresas para sentir as suas dificuldades e ajudar na sua competitividade.

Qual é a tua regra de Ouro?

São antes três: sinceridade, seriedade e humildade.

Há algo mais que gostarias de dizer, que não foi abordado?

Acabei por não abordar um assunto de extrema importância para mim e para a minha família: as pessoas que trabalham connosco. Ao longo destes anos, tivemos a sorte de conseguir cativar pessoas excecionais, com uma vontade de ajudar e uma capacidade impressionantes. Alguns já estão connosco há dezenas de anos. Todo o nosso percurso em grande parte também a elas se deve. Em todas as empresas, temos um ambiente de trabalho incrível, o que em muito facilita a nossa luta diária.  Publicamente e a todos eles o meu muito obrigado por nos terem escolhido e dignificado com a sua presença todos os dias junto de nós.


ALGUNS LINKS: 

www.fafisol.com

http://montelongo.pt/

https://www.booking.com/hotel/pt/quinta-d-areda-wine-pool-country-house.pt-pt.html

https://pt-pt.facebook.com/GADET-Arquitetura-Engenharia-Topografia-352227848121912/

https://www.facebook.com/piscinasaquaplay/

https://pt-pt.facebook.com/playsoccer

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