Bom
dia Mané, agradeço–te a disponibilidade para participar nesta entrevista. Já nos
conhecemos há alguns anos devido à nossa paixão por um clube de futebol, levando-nos
a ir por vezes juntos ao estádio quinzenalmente. No entanto pouco sei de ti,
quer em termos pessoais, quer profissionais, sendo tu e muito bem, uma pessoa bastante
discreta. Neste sentido, a minha primeira pergunta é da praxe e é mais pessoal:
gostava que me partilhasses as tuas origens, o teu percurso escolar e
formativo. Eras bom aluno? Gostavas de estudar?
Olá Filipe! Eu é que agradeço a simpatia e
lembrança da tua parte para esta entrevista. Aproveito para te dar os parabéns
pela excelente iniciativa e ainda pela tua escolha dos entrevistados e
empreendedores antes desta entrevista. A fasquia ficou muito alta!
Quanto a mim, nasci e cresci essencialmente aqui
em Fafe. Tive uma infância muito feliz por onde passei e morei, não me podendo
queixar de nada. Só tenho a agradecer o esforço tremendo dos meus pais pela
minha felicidade, educação, pela sua confiança e liberdade que sempre dispus. São
claramente um modelo que procuro seguir com os meus filhos.
Quanto aos estudos, fiz a primária na extinta
escola P3, junto à igreja Matriz. No 5º e 6º ano andei no ciclo, atual escola
Carlos Teixeira. Após esta etapa e por vontade dos meus pais fui estudar para
Guimarães onde terminei o 9º ano. Regressei ao nosso liceu para aqui finalizar
o secundário. Tirei a licenciatura em Engenharia Civil na Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro em Vila Real. De facto, era o único curso que
ambicionava desde criança.
Era de uma forma geral bom aluno, gostava da escola, mas nunca gostei muito de estudar. Espero que os meus filhos não vejam estas últimas palavras 😊
Tens
alguém na tua família ou amigos como modelo empreendedor? Como surgiu a ideia
de ser empreendedor?
Eu acabo por representar
nesta entrevista toda uma família de empreendedores (pais, avós tios, primos). Todos
desde cedo tiveram espírito empreendedor e arriscaram com os seus próprios
negócios que ainda hoje quase todos eles perduram.
Claro que, com a
vivencia diária com os meus pais e com o seu espírito fascinante de
empreendedor, o meu bichinho pelos negócios foi crescendo dia após dia. Desde
muito novos, sempre os vi a arriscar, deixando, no caso do meu pai, um emprego
nos quadros públicos para tentar a sua sorte. Lutaram e negociariam com a
nobreza de sempre respeitarem toda gente: clientes, fornecedores e ainda hoje
mantêm um excelente relacionamento com as empresas concorrentes. Esta forma de
ser e estar moldou a minha perspetiva e visão do mundo empresarial.
Por ordem cronológica:
Ainda muito novos, os meus pais começaram a fazer projetos de arquitetura em casa. O meu pai no horário extra do seu emprego público e a minha mãe trabalhando e conjugando com as lides domésticas. Hoje, com um crescimento acentuado e sustentado, a empresa dá pelo nome de GADET – Gabinete de arquitetura, engenharia e topografia, contando com um quadro técnico ambicioso de arquitetas, engenheiros(as), topógrafo e administrativa. Localiza-se no cruzamento da rua do Retiro com a rua António Cândido e prestamos serviços de projetos residenciais, industriais e comerciais, passando ainda pela avaliação de imóveis, peritagens de edifícios, orçamentação, cadernos de encargos etc.
Em 1993 criaram
uma nova empresa em nome do meu pai que evoluiu em 1999 para a atual Fafisol Lda – Comércio e aplicação de
materiais isolantes, com sede e 1º armazém na zona industrial do Socorro. Sempre nos
distinguimos pela inovação e procura constante de novas e melhores soluções no
âmbito do isolamento para construção. Inicialmente
fazíamos apenas comércio de materiais nos concelhos mais próximos, tendo
entretanto, alargado a todo o território nacional e já até com significativo
volume de exportação para diversos países.
Entretanto
entramos também na aplicação em edifícios, essencialmente em isolamento de
fachadas e coberturas. Tentamos aproveitar a cada vez maior preocupação das
pessoas com o consumo energético da sua habitação e diminuição da pegada
ambiental para nos posicionarmos como empresa de confiança e de relevância na
nossa área de intervenção.
A polivalência,
profissionalismo e dedicação dos nossos colaboradores permite-nos abraçar qualquer
tipo de obra e desafio em total tranquilidade.
Durante a
construção do que seria um segundo pavilhão para a Fafisol, surge a ideia,
pioneira na região, de criar um campo de futebol indoor em relva sintética.
Nasceu assim em 2003 o Playsoccer – Indoor na Rua de Santa Maria na freguesia de
Regadas, com horários de uma hora
preenchidos por empresas e grupos de amigos, onde também se realizam torneios
diversos, festas de aniversários e outros eventos. Mais recentemente foi criada
a Playsoccer Kids, uma escola de futebol para crianças, orientada
por professores e técnicos de inegável capacidade e qualidade.
Precisamente ao
lado do Playsoccer, num terreno que tínhamos livre na mesma rua, nasce em 2007 uma
nova ideia de criação de um complexo de piscinas públicas, o Aquaplay. O seu crescimento
foi de tal forma constante que temos hoje cerca de 5 vezes maior espelho de
água e espaço relvado em relação ao inicial. Fomos adaptando o espaço e criamos
áreas com escorregas, parque infantil e zonas verdes para fazer face ao aumento
anual de afluência, quer de utentes individuais, quer de escolas e centros de
férias de verão.
Nas imediações
deste complexo, numa quinta dos meus avós com cerca de 10 ha no total e 8 ha de
vinha, produzimos e comercializamos vinho com a nossa marca e rótulo. Acabamos precisamente
as vindimas no fim de semana passado. Existe ainda nesta mesma quinta, uma casa
com tal dimensão que subdividimos em vários apartamentos com diferentes tipologias
para aluguer, criando assim a Quinta D’Areda – Wine & Pool Experience. Também aqui,
devido à ocupação, fomos aumentando a área e número de apartamentos e adaptando
ano após ano para criar ainda melhores condições e experiências para os nossos
turistas portugueses e estrangeiros. É também um orgulho salientar que temos na
plataforma Booking a soberba pontuação de 9.1 em 10 possíveis. Situa-se na rua
Dona Maria, também na freguesia de Regadas.
Mais recentemente,
há cerca de 4 anos, entramos no ramo imobiliário, neste caso na cidade do Porto.
Fizemos e fazemos aquisições de terrenos ou ruínas, desenvolvemos projetos,
executamos a obra e vendemos os apartamentos. As primeiras escrituras foram
realizadas recentemente em setembro.
Além desta
iniciativa familiar na vertente imobiliária, também no mesmo ramo, mas em
parceria com outros 3 sócios, amigos de infância e fafenses, criamos um grupo
empresarial que agrega várias nossas empresas imobiliárias e de construção, com
o nome bem sugestivo para um fafense de Montelongo Investimentos.
Nesta altura, entre fase de projeto e de construção nas várias sociedades, tenho mais de 130 frações em andamento. Num prazo tão curto este número obviamente enche-me de orgulho, mas ao mesmo tempo de responsabilidade para com todas as pessoas que nos compram os imóveis e nos recomendam a outros familiares e amigos.
Quais são as dificuldades que encontras na gestão do dia a dia dos vossos negócios?
Não chamaria de dificuldades, antes de desafios. Todas estas empresas familiares, são geridas pelos meus pais, pelo meu irmão, por mim e com a preciosa ajuda das nossas esposas. Acabamos por ter de nos completar e ajudar uns aos outros, pois todos somos necessários em todas as empresas. É uma luta árdua e diária que nos tira muitas horas de sono, mas ao mesmo tempo nos mantém em permanente contacto e união.
Quais
são as maiores satisfações e desilusões que tiveste até agora, com as vossas
empresas?
A minha maior satisfação reside no facto de
ver voltar os nossos clientes inúmeras vezes aos nossos espaços, a repetir
compras, projetos e trabalhos devido à sua anterior experiencia connosco. É o
melhor sinal de que estamos no caminho certo!
Quanto a desilusões, tentamos que sejam
passageiras, pois quando se dão, procuramos em família e com os nossos
colaboradores dar de imediato a volta a situação, sabendo que podem ocorrer em
todas as empresas.
Quais
são os próximos desafios que prevês para as vossas empresas?
O desafio imediato é tentar ultrapassar com
sucesso este período anómalo que estamos a passar devido à Covid19, continuando
a aumentar os nossos serviços, instalações e proporcionando ainda melhores
experiencias para servirmos e cativarmos os nossos clientes.
Nas nossas empresas temos de ser, e somos,
uns pelos outros. Se queremos que nos ajudem também temos de ajudar.
Quanto aos contactos e pela minha forma de
pensar, todos são importantes. Dou-te um exemplo prático: quando vou orçamentar
algum trabalho, tanto me interessa o grande como o pequeno. Da mesma forma o
vejo com um cliente desconhecido ou uma pessoa de influencia. Um cliente
satisfeito traz outros. Privilegio todas as relações, seja entre nós, entre os
colaboradores, clientes e colaboradores. Só com um bom conjunto destes
relacionamentos continuaremos a evoluir favoravelmente.
Como
te vês como pessoa? Como lidas com o fracasso e o sucesso?
Vejo-me como um
eterno otimista por natureza, sempre com vontade de evoluir e melhorar as
minhas capacidades. Sou perfecionista e cuidadoso em tudo o que faço no meu
trabalho e até nas coisas mais simples do dia-a-dia. Respeito muito as pessoas
com quem lido e gosto de me colocar no seu papel para tentar entender o seu
ponto de vista, que naturalmente por vezes é diferente do meu.
Lido com o
sucesso e o fracasso de uma forma perfeitamente natural. Quando fracasso ou
algo corre mal, tento ou tentamos corrigir e dar a volta o mais rapidamente
possível para não pensar muito nisso. O sucesso mantém-me tranquilo e orgulhoso,
mas ao mesmo tempo alerta e atento pois sei que pode sempre ser efémero se o
dermos como adquirido e não continuarmos a lutar por ele diariamente.
Consegues
conciliar, no teu dia a dia, a vida profissional e pessoal?
Vou conseguindo e
tenho mesmo de o conseguir, pois caso contrário nada faz sentido. Tenho a sorte
de estar acompanhado por uma grande mulher que compreende o meu dia-a-dia e vai
mantendo as coisas em casa no melhor funcionamento. Tento ainda ser um pai e
marido presente nas lides diárias. Vamo-nos alternando com os nossos filhos nas
idas para a escola/infantário e contamos ainda com a preciosa ajuda dos nossos
pais e irmãos. Nas férias e fins-de-semana tento compensar, estando o máximo de
tempo possível juntos em família.
No teu percurso profissional, queres partilhar um momento único positivo ou negativo ou até anedótico que te marcou?
Um momento anedótico
aconteceu-me há uns anos no início de uma reunião: mal cheguei, cumprimentei
todo sorridente uma senhora, a pensar que a conhecia de Fafe, quando afinal era
uma figura pública que eu conhecia da televisão. Só o soube no fim da reunião,
quando em conversa lhe disse que a conhecia, mas não me recordava de onde.
Quando ela me disse quem era foi a gargalhada geral.
Se tivesses
um conselho a dar a um jovem empreendedor perante o estado atual da Economia,
qual seria?
Nesta altura tão particular devido à
pandemia, aconselhava a que estude bem os passos a dar, analisando de
sobremaneira a conjuntura atual. Caso se vislumbre uma boa oportunidade, que
trabalhe e a agarre com determinação que ninguém com certeza o fará por ele(a).
A
crise atual associada à Pandemia COVID-19, afetou-vos na vossa forma de
trabalhar? na competitividade das vossas empresas, nas relações com os
clientes? De forma negativa ou positiva?
Afetou de uma forma geral em todas as
empresas, principalmente no relacionamento direto com os clientes e
fornecedores. Perdeu-se um bocado aquele toque pessoal, deixou-se de ver as
expressões que nos ajudam a avaliar a reação e o semblante de cada um.
Em termos de competitividade, sentimos
essencialmente a perda de volume de trabalho nos negócios de lazer que tiveram
uma queda obrigatória devido ao decréscimo do turismo. O Playsoccer esteve
alguns meses fechados. Acabamos por ter uma bela surpresa com o Aquaplay que
teve uma redução de faturação bem menor que estávamos a contar. Foi no entanto
o primeiro ano que não aumentamos significativamente em relação ao anterior.
A Fafisol acabou por aumentar bastante a
faturação nessa altura da pandemia, com muito mérito do meu irmão, que entrou
na empresa nessa altura com uma vontade e um espírito empreendedor de realçar,
acabando por arrastar positivamente todos os que o rodeiam na empresa.
As
restantes empresas continuaram normalmente sem grandes variações no volume de
negócios.
Vamos
passar para uma parte mais pessoal da entrevista, tenho as seguintes perguntas e
peço-te uma palavra ou frase de resposta para cada uma delas:
Hobbies?
Convívios em família e amigos, viajar, andar
de mota e outros desportos motorizados, jogar futebol, ir ao estádio ver o
nosso clube e jogar padel mais recentemente.
Local
de Férias preferido?
Vários, desde que quentes e com muito sol.
Adoras?
A minha família.
Detestas?
Falsidade, hipocrisia e injustiças.
MUSICA PREFERIDA?
Creep dos RADIOHEAD
Prato
preferido?
Pica no chão.
Restaurante
preferido?
Adoro comer e comer bem Nesse sentido tenho
vários restaurantes preferidos.
Desporto
preferido?
Futebol.
Qual
é o teu clube?
Futebol Clube do Porto
Se
não fosses empresário, eras?
Não faço ideia.
Se
tivesses a oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o
quê?
Nada que me lembre.
O
que representa Fafe para ti?
Fafe e os fafenses representam a minha casa e a minha comunidade por excelência. Honestamente (e os meus familiares e amigos mais chegados sabem-no) nunca me passou pela cabeça morar fora de Fafe. Aliás, estando fora, seja em férias ou trabalho, acabo por sentir um alívio e satisfação sempre que cá chego. Sinto um orgulho enorme quando digo fora que sou da cidade de Fafe.
SE AMANHÃ, FOSSES UM ELEITO POLITICO LOCAL, QUE MEDIDAS NO SETOR ECONÓMICO OU OUTRO, IMPLEMENTAVAS?
Implementaria um gabinete de apoio às empresas e aos empresários, com agentes diretamente no terreno a visitar as empresas para sentir as suas dificuldades e ajudar na sua competitividade.
Qual
é a tua regra de Ouro?
São antes três:
sinceridade, seriedade e humildade.
Há
algo mais que gostarias de dizer, que não foi abordado?
Acabei por não abordar um assunto de extrema
importância para mim e para a minha família: as pessoas que trabalham connosco.
Ao longo destes anos, tivemos a sorte de conseguir cativar pessoas excecionais,
com uma vontade de ajudar e uma capacidade impressionantes. Alguns já estão
connosco há dezenas de anos. Todo o nosso percurso em grande parte também a
elas se deve. Em todas as empresas, temos um ambiente de trabalho incrível, o
que em muito facilita a nossa luta diária.
Publicamente e a todos eles o meu muito obrigado por nos terem escolhido
e dignificado com a sua presença todos os dias junto de nós.
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