PARA NOS AJUDAR A CONHECER MELHOR UMA DAS BANDAS MAIS ANTIGAS DO
CONCELHO DE FAFE, FALAMOS COM ANTONIO CASTRO, MUSICO E ELEMENTO FUNDADOR DOS
FACE B. ANTONIO CASTRO, QUEREMOS EM PRIMEIRO LUGAR AGRADECER A SUA DISPONIBILIDADE
E AMABILIDADE ACEDENDO PARTICIPAR NESTA ENTREVISTA. QUASE 40 ANOS DE FACE B,
CONTE-NOS COMO SE FORMOU ESTE PROJECTO, QUE HOJE É DOS MAIS ANTIGOS DO NOSSO
CONCELHO DE FAFE?
Em
primeiro lugar permito-me agradecer o convite para esta entrevista e dizer, sem
reservas, que não a podia recusar, fosse pelo respeito dos leitores em geral e
por todos os que ouvem e acompanham os Face B, em especial, bem com pela
amizade e admiração que tenho pelo amigo Paulo Matos enquanto profissional e
qualidades humanas que lhe são reconhecidas. Em resposta à questão sobre o
projeto Face B, este surge em 1982, há data com o nome
"Extrato", e do qual já faziam parte os colegas Nelson Carvalho,
Jorge Ribeiro, Armindo Charrita e Jorge Cunha. Nesse ano ocorreram algumas
saídas de elementos desse grupo (Joaquim e Manuel Moreira) que coincidiu com
o fim de um outro projeto (Os Alpha 4) que eu, em conjunto com o colega Moisés
Teixeira (Baixo), que infelizmente já não está entre nós ... com o Rui Moreira
(Bateria), Júlio Costa (Teclas) e o Vitor (Trompete) havíamos formado e mantido
durante alguns anos. É nesta altura que surge o convite dos "Extrato"
e em que eu (na Guitarra) e o Moisés (Baixo) passamos a integrar os ainda
"Extrato". Em consequência dessa transformação, deixou de fazer sentido
aquela designação e decidiu-se colocar vários nomes em cima da mesa e eleger um
novo nome para ao Grupo, mais apelativo e com significado, até porque era
intenção de todos criar uma Associação sem fins lucrativos. De todos os nomes
sugeridos foi decidido, por maioria, passar a designar-se "Face B -
Agrupamento Musical", significando o "outro lado", designação
que acabou por ser registada e publicada em Diário da República, lll Série,
apenas em 04 de Setembro de 1984 e em que formação inicial dos Face B era
seguinte: Nelson Carvalho (Guitarra e Voz), Armindo Charrita (Bateria), Moisés
Teixeira (Viola Baixo) António Castro (Guitarra) Jorge Cunha (Teclas) e Jorge
Ribeiro (Voz e Trompete).
ESTÃO JUNTOS DESDE 1982, NOS ANOS OITENTA QUAIS AS DIFICULDADES
QUE EXISTIAM PARA SE MONTAR UMA BANDA?
Nos anos
oitenta, e não é segredo para ninguém, sobretudo para aqueles que mais de perto
acompanhavam o panorama musical e a cultura em geral, como a formação de grupos
musicais, o teatro e outras atividades de cariz cultural que se pretendia
desenvolver, as dificuldades eram imensas e os apoios escassos ou nulos. O
acesso ao equipamento necessário exigia um enorme esforço financeiro e as oportunidades
e oferta não eram o que é hoje. Contudo, graças ao conhecimento e bom
relacionamento dos líderes da banda com pessoas e empresas que, à data,
forneciam aquele tipo de material ( instrumentos musicais, material de som e
luz) foi possível andar um passinho sempre à frente em relação a muitas outras
bandas, muito graças às aquisição de material a crédito e que se pagava,
mensalmente, com dinheiro que se angariava nos espetáculos. Obviamente que, no
início da banda, os instrumentos e equipamento de som para o exterior (PA,
raques, sistemas de iluminação etc.) eram concebidos por nós com recurso a
carpinteiros e técnicos amigos ou conhecidos.
COM QUASE 40 ANOS DE ESTRADA, QUAL O SEGREDO DA
LONGEVIDADE DOS FACE B?
Sobre a
longevidade dos Face B, que vai a caminho dos 40anos de estrada, com curtos
interregnos pelo meio, um dos quais por motivos alheios à nossa vontade, não há nenhum segredo mágico, mas sim a conjugação de vários fatores: em primeiro a
amizade que nos une, depois a paixão incondicional pela música e por último mas
não menos importante o sentido de responsabilidade que fomos adquirindo ao
longo dos anos por quem nos ouve e acompanha, interiorizando que o que quer que façamos, seja por gosto ou apenas como obi, a partir do momento em que pisamos
um palco ou apresentamos um trabalho, independentemente dos proveitos
financeiros que daí possam advir, a responsabilidade passa a ser total e tem
que ser feito com o maior "profissionalismo" e qualidade possível ... Ainda,
como é óbvio, haver no seio da Banda, alguém com sensibilidade e perfil
para agregar e conseguir superar muitas das adversidades que vão surgindo, com tolerância, seja ao nível da substituição de elementos que pelas mais variadas
da razões não conseguem conciliar a música com a sua vida profissional
ou familiar, seja pelas incompatibilidades que são normais num conjunto de
várias personalidades e diferentes formas de pensar e assimilar um projeto,
seja de que índole for. Por último, e porque os últimos são os primeiros, do
ponto de vista pessoal nada disto seria possível sem o apoio e compreensão de
retaguarda que é a minha família, mulher e filhos em primeiros lugar, a quem
não consegui dar tudo o que mereciam e precisavam enquanto crianças, em
especial o acompanhamento do seu crescimento mais de perto.
COMO CARACTERIZA O ATUAL MOMENTO QUE SE VIVE NA
MÚSICA PORTUGUESA?
Sobre o
momento atual que se vive na música portuguesa, não tenho uma opinião muito
favorável, não pelo que se vem fazendo e criando por artistas e bandas, mas sim
no que se refere às oportunidades de divulgação pelos mídia, mais propriamente
pelos canais de televisão, em programas semanais, cujas razões subjacentes a
tais escolhas todos conhecemos. Por outro lado, seria injusto, da minha parte,
não sublinhar, pela positiva, outros programas musicais que divulgam e promovem
excelentes talentos, sejam jovens ou artistas já com experiência mas sem
possibilidades de se afirmarem publicamente.
QUAIS AS SUAS PRINCIPAIS REFERÊNCIAS MUSICAIS?
O QUE COSTUMA OUVIR?
Como não podia
deixar de ser, as nossas referencias musicais passam sempre pela música que ouvíamos e as bandas que nos marcaram na nossa adolescência e juventude. Neste
caso, não fugindo à regra, as minhas principais referências musicais são,
ainda, Pink Floyd, Dire Straits, U2, Stranglers, entre outros. O que costumo
ouvir? Para além das bandas que me marcaram e que, felizmente, as suas músicas
se tornaram intemporais e continuam transversais a várias gerações,
procuro estar atento a toda a música que se vai fazendo. A nível nacional,
tenho especial simpatia por Xutos, sobretudo durante o período em que o saudoso
Zé Pedro os integrava, João Pedro Pais, enquanto músico e pessoa, sem esquecer
o principal ícone do Rock Português, Rui Veloso, entre muita outra música ou
artistas emergentes e das mais variadas tendências, do comercial ao
clássico, sempre que a qualidade musical esteja patente, filtrando, depois, o
que mais me seduz e o momento em que a oiço ...
MAQUINAS DE SALÃO?
O tema Máquinas de Salão terá sido, sem dúvida, a
música que, quer a nível regional, ou mesmo nacional, projetou a Banda Face B e
a catapultou para os grandes palcos e múltiplas rádios, quer pela componente
musical quer por toda história que está por trás da sua mensagem. Contudo, por
muito que tivesse a dizer de tão importante tema dos Face B, não me sentiria
confortável nem seria correto fazê-lo, sem dar a palavra ao seu autor e colega
Nelson Carvalho, que, sei, estou autorizado pelo entrevistador a fazê-lo:
Nelson Carvalho: "Em segundos e pouco mais,
ficam sempre sem vintém"... Foi a música que mais tocou nas rádios e se
tornou por assim dizer na nossa bandeira. Quando a escrevi nunca imaginei o
impacto que viria a ter, quer nos mais jovens quer nos adultos. Ainda hoje se
dirigem e a mim e me falam das "Máquinas de Salão". Sobre o
conteúdo da letra ainda hoje existe alguma especulação. Os mais novos que não
viveram os anos 70 / 80 não devem saber que quase todos os cafés tinham as
chamadas "máquinas de poker" num espaço reservado e recatado do
público em geral, diria até que estavam sempre num salão e num canto escuro. Era
aí que muita juventude e mesmo pais de família deixavam, por vezes, todo o
salário auferido ao longo de árduo e longo mês de trabalho na expectativa de,
confiando na sorte, ganhar algum dinheiro extra, sabendo todos nós que falamos
de jogos de "fortuna e azar" e proibidos em lugares não autorizados. Infelizmente,
vivi de perto com casais que se separaram. Encontrei num desses locais um amigo
que gastava aí todo o dinheiro e até o que não tinha. Eu e alguns colegas
tentámos, muitas vezes, demovê-los, libertá-los daquele vício, mas em vão. O
vício foi maior e venceu-os. Foi para ele e tantos outros, "vencidos pelo
vício", que escrevi essa mensagem. Naquela altura eram as máquinas de
salão, hoje serão outros vícios. Continuo a ver como alguns se perdem pensando
encontrar-se. Para esses, o meu desejo que "parem e se libertem ".
JURO OU JURO-TE? A PAR DO TEMA “MAQUINAS DE
SALÃO” FOI UM DOS TEMAS DE MAIS SUCESSO. OS FACE B, SÃO QUASE QUE OBRIGADOS AO
VIVO A TOCAR SEMPRE ESTE TEMA, ESTOU CERTO?
O
título do tema é "Juro-te" e é, de facto, a par das "Máquinas de
Salão", "Não te Mereço" e mais recentemente o tema
"Esquecidos", uma das músicas que não podemos de deixar tocar ao
vivo, tal a memória das pessoas e o significado que, para cada uma delas, a música
representa. Porém, mais uma vez, permito-me dar a palavra ao autor /compositor
da letra, Nelson Carvalho:
Nelson Carvalho: Em finais de 1987 e por motivos
profissionais tive que me afastar dos Face B. Em 1990 voltamos a reunir todo o
pessoal para dar continuidade ao nosso projeto. No entanto, durante esse
período acabamos por perder o nosso "teclista" João Moura e o
"baixista" Moisés Teixeira, que entretanto abraçaram outros projetos.
É nessa altura em que entra para banda o músico Lucas Pires (Teclas) e o Tony
Castro, guitarrista até então, passa para o Baixo, substituído na Guitarra por
outro elemento novo e muito jovem, mas, já há data muito promissor e com muitas
qualidades - Nilton Silva, que foi, sem dúvida, uma mais valia para a banda e
importante nas músicas que viríamos a gravar. No espaço de tempo em que o grupo
esteve parado fui fazendo algumas músicas, entre elas o tema " És tão
vulgar" e "Juro-te". Já a ensaiar e a pensar numa nova
gravação, surgiu também o tema "Não me vou Calar" e "Eu tu e o sonho" a pensar naqueles amores impossíveis e que só em sonho se podem
viver. (Estávamos em 1992)
O QUE SENTE UM ELEMENTO FUNDADOR DE UMA BANDA,
QUANDO “ACORDA” COM A NOTICIA QUE ARDEU TODO MATERIAL NUM INCENDIO CRIMINOSO?
Não sendo
fácil, mesmo a esta distância no tempo, falar de um momento tão difícil e de
um "crime" tão hediondo como aquele que marcou os Face B
naquela madrugada fatídica de 19 de Novembro de 1999, lembro-me, como se fosse
hoje e sobre o qual ainda hoje tenho pesadelos, que ao receber o telefonema da
notícia por volta das 4,00 horas da manhã, depois de alguns minutos a tentar
assimilar a notícia, voltei a deitar-me, julgando tratar-se de um sonho. Rapidamente voltei a levantar-me, fiz um esforço para concentrar-me e,
confirmando que afinal não era um sonho, corri a vestir- me e desloquei-me para
o local. Foi a
desilusão total, a sensação do mundo a desabar. Constatar que todo o fruto do
trabalho de mais de 20 anos, com o esforço de tantos, tinha ficado em cinzas em
poucos minutos ... (mais de 250.000 euros que arderam e uma esperança inexcedível
que se desvaneceu)
ESSE DIA MARCOU E MUITO OS FACE B, E TODO O SEU
NUCLEO DURO, AMIGOS E SEGUIDORES. NÃO TENHO DUVIDAS NENHUMAS, PARARAM ALGUM
TEMPO… FOI DIFICIL GERIR TODO ESSE PROCESSO, ATÉ DECIDIREM VOLTAR? ESTEVE EM
CAUSA A CONTINUIDADE DO GRUPO?
Obviamente
que marcou os Face B, cujo dia ficará, para sempre, como o dia mais
"negro" e difícil das nossas vidas e da história dos Face B, a que a
sociedade, amigos e seguidores em geral não ficaram indiferentes. Não foi
fácil, como imaginam, lidar com tão inqualificável ato e os seus impactos, que,
como calculam, afetaram os seus responsáveis e todos os seus elementos (músicos
e colaboradores) que, verdade seja dita, sempre deram tudo pelo projeto por
gosto, em detrimento de qualquer proveito financeiro. Entre muitos compromissos, já assumidos pela Banda e que ficavam em causa, no
imediato era o Concerto em Paris, agendado para 15 dias depois, que os seus
responsáveis temiam não poder cumprir, mas que, pela amizade e generosidade de
um empresário de Guimarães ligado ao mundo do espetáculo (Sr. Vilaça) que logo
disponibilizou, gratuitamente, todo o material de som e luz, a empresa Fafense
(Cadeinor - Sr. Paris) e o Grupo Desportivo de Vinhós que, também
gratuitamente, disponibilizaram Camião e Carrinha, respetivamente, para o
transporte do material e todo o Staff. Gerir aquele processo foi muito difícil e
continua a refletir-se nos dias de hoje, nomeadamente nos custos da produção a
que estamos obrigados a suportar nos espetáculos para que somos convidados o
que, objetivamente, prejudica a Banda e muitas das organizações / comissões que
pretendem contratar-nos.
ESTEVE EM CAUSA A CONTINUIDADE DO GRUPO?
Sem
dúvida que a continuidade do grupo esteve, de veras, em causa. Aliás, para que
o leitor melhor compreenda o sentimento de desilusão e frustração, é como
imaginar um casal que compra uma casa a crédito e ao fim de vinte e tal anos,
no mês em que o banco lhe comunica que a casa está paga, depara com a habitação
em chamas, ficando a família sem casa e sem dinheiro. Muito sinceramente,
admito que a paixão pela música e toda a conjugação dos fatores que já elenquei
na pergunta sobre o segredo para a longevidade da Banda não seriam suficientes
para superar aquela fase, não fosse a ação de que os leitores se lembrarão e a
quem eu, em particular, e os Face B como instituição, ficaremos
eternamente gratos: Reporto-me exatamente a um momento para todos nós
inesperado e que nos deixou sem reação, mas deveras muito honrados e sem palavras:
A "Onda de Solidariedade a favor dos Face B" que se gerou em Fafe, a
que se juntaram e lideraram o movimento, amigos e ilustres Fafenses das mais
variadas áreas da sociedade, (Cultura, Política, Igreja, Instituições
Particulares, Grupos Musicais, Artistas Plásticos, etc.) dando origem a uma
primeira reunião realizada em 02 de Dezembro 2000, com o objetivo de deliberar
sobre a constituição de uma Comissão de Apoio, onde estiveram presentes, desde
logo, a D.ª Rosa Maria Pinheiro, Dr. Parcidio Cabral Summavielle, Dr. Ribeiro
Cardoso (Jornal Povo de Fafe), Prof. Humberto Gonçalves, Dr. Artur Coimbra, Sr.
Luis Gonzaga (Presid. Junta Vinhós) Sr. Padre Joaquim Flores, Sr. Nelo
Vilhena, Sr. António Manuel Silva (G.D. Vinhós) onde ficou nomeado porta voz da
comissão o Senhor Dr. Parcidio Cabral Sumavielle. Outros nomes e organizações
se juntaram nas reuniões seguintes, designadamente o Sr. José Mário (Presid.
Junta Freguesia de Fafe), a Dr.ª Paula Nogueira, Luís Meireles (Rádio Clube Fafe), D.ª Maria Emília Lobo (Lions de Fafe) e o Senhor Paulo Matos, em representação do
SK, um dos principais dinamizadores do movimento, reuniões essas onde eram
delineadas as ações a desenvolver a favor dos Face B, designadamente um
concerto de solidariedade onde acabaram por participar 13 Bandas de Fafe, um
Leilão de Obras de Arte com trabalhos doados pelos próprios artistas plásticos
de Fafe, que se fizeram representar, para além da abertura de uma conta na CGD,
para quem quisesse participar. Por estas razões, cuja memória o tempo não apaga,
independentemente dos resultados financeiros obtidos com a iniciativa, ,que
considero irrelevante, face à grandeza do ato, simbolismo e carinho
demonstrado, não tenho dúvidas que a mesma foi determinante e teve um peso
inquestionável no momento de decidir sobre a continuidade dos Face
B.
O TEMA NÃO ME VOU CALAR, VEM DAÍ?
Sim,
enquanto título do disco. O tema "Não me vou Calar", já havia sido gravado em 1992, em K7,
ainda nos Estúdios do nosso querido amigo e ex. músico da banda Prof. Artur
Costa, com edição da "Metrosom". Porém, era um dos temas que fazia
parte do disco que à data do "incêndio" estávamos a gravar em CD nos
Estúdios Fortes & Rangel, Lda. - Porto, com o mote 15 Anos 15 músicas, com
novos arranjos musicais (Pedro Mouga) e cuja formação contava com o Carlos
Costa (Bateria); António Castro (Baixo); Nilton Sila (Guitarra); Jorge Ribeiro
(Voz); Pedro Mouga (Teclas); Ana Mouga (Coro 1); Alexandre (Trompete); Paulo
André (Saxofone); e Ezequiel Casais (Trombone). Dado o acontecimento e o trabalho
estar na fase de edição e grafismo, foi possível, ainda, como "grito de
revolta" perante quem, supostamente, nos queria calar, alterar a
capa e adotar como título do Disco o nome da música "Não
Me Vou Calar".
DESDE
1982 A RESISTIR A MUITAS DIFICULDADES, MAS TAMBÉM MUITAS HISTORIAS BONITAS PARA
CONTAR, TENHO A CERTEZA ABSOLUTA DISSO … OS FACE B MARCARAM VARIAS GERAÇÕES,
TEM NOÇÃO DISSO?
Sem
dúvida que tantos anos de estrada, tantos quilómetros percorridos e tantos
palcos pisados, em alguns dos quais tive o prazer de partilhar ou trabalhar com
o meu querido Paulo Matos, fosse como músico ou, mais recentemente, como
produtor de espetáculos, ficam imensas histórias boas para contar, e outras
mais caricatas, que dariam um livro, certamente. Uma dessas boas experiências,
a título de exemplo de gente boa com quem nos cruzamos no mundo dos
espetáculos, aconteceu-nos em Santo Tirso, numa festa com milhares de pessoas
em que nos cabia a nós tocar em primeiro, em palco próprio, e o
"artista" mais para o fim da noite noutro palco, a cerca de 10 metros
do nosso. Tudo correu bem durante os testes de som. No momento em que nos
preparávamos para iniciar o espetáculo, foi o pânico total quando os técnicos
nos dão sinal que e nos apercebemos que o PA não tocava. Depois de tantos
assobios do público pelo atraso, os técnicos numa correria a tentar resolver o
problema, sem sucesso, e alguns músicos já a chorar, nos quais me incluo, foi o
próprio artista que veio ter ao nosso palco tranquilizar-nos, pedir a
compreensão do público e garantir que os Face B iriam dar o seu espetáculo.
Falou com os técnicos dele, que já tinham dito que não podiam ajudar, e exigiu
que fizessem tudo o que fosse possível, apesar de ter um concerto no dia
seguinte nos Açores. Foi então que puxaram um cabo à nossa mesa de som, ligaram
ao PA deles ( noutro palco, claro) e acabamos por dar o espetáculo normal a
tocar no nosso palco com o som a sair no PA ao lado. A minha homenagem ao ser
humano Jorge Ferreira . Se tenho
noção de que os Face B marcaram várias gerações? O tempo passa mesmo a
correr ... Confesso que no dia a dia não tenho essa noção. Mas é verdade que
quando vejo o público à frente do palco, quando me abordam na rua sobre os Face
B ou vejo os "gostos" e comentários nas redes sociais, de facto é aí
que me apercebo o quão velhotes estamos. (ah, ah..) Ou então quando nos dizem:
- Sabe, sou fã dos Face B há não sei quantos anos, conheci o meu marido no
vosso espetáculo em tal lado e apaixonamo-nos ao som do "Juro-te"
e "Não te Mereço". Olhe, a aminha filha ou o meu filho gostam de vocês e já põem as vossa músicas que eu tenho lá em casa. Sabe quem me deu o
disco? Foi a minha mãe ... (Ei ...)
Quando assim é, é um motivo de orgulho e um incentivo a fazermos mais e melhor,
até porque são todas essas pessoas a razão de ser da nossa existência e que
terão sempre o nosso respeito.
UMA HISTORIA DE BACKSTAGE, QUE SE RECORDE ASSIM
Á PRIMEIRA … E QUE NOS QUEIRA CONTAR ?
Uma
história mais séria e difícil de enfrentar foi ter de dormir em Vieira o Minho
dentro de uma carrinha abandonada, eu e o meu querido amigo Moisés Teixeira,
bem agarrados um ao outro para enfrentar o frio, já que, terminado o concerto,
ambos nos tínhamos afastado do palco (não interessa porquê! eheh..)
enquanto os colegas desmontavam e carregavam todo o equipamento para o
camião ... Na hora de partirem, dizem que nos procuraram mas vieram para Fafe
sem nós. Nesse mesmo dia (Já Domingo à tarde) com
espetáculo marcado para as 15:00 horas em Serafão, acabamos por ir diretos de
Vieira, sem tomar banho ou mudar de roupa e desnecessário será dizer que foi só
tocar sem falarmos com ninguém ... A outra, não menos
"dramática" , em Felgueiras, foi ter de fazer "chichi" de
cima do palco, na parte lateral esquerda, enquanto o concerto decorria, depois
de suplicar, por várias vezes", ao colega Nelson para parar por alguns
minutos para que eu pudesse ir ã casa de banho. Este não acedeu e a minha
bexiga não achou piada nenhuma e tive que me desenrascar, mesmo em pleno
espetáculo...
FORA DO PALCO, O QUE MAIS GOSTA DE FAZER?
Fora do
palco tenho uma vida relativamente intensa, seja no exercício da minha profissão (interrompida a 02 de Agosto de 2020, até esta data) seja a
nível particular ou familiar. Porém, sem prejuízo do tempo que procuro dedicar
ã família e que muito prazer me dá e tudo me merecem, adoro andar de mota, ler,
ouvir música e, sempre que possível, umas saídas ao fim de semana com amigos
para desopilar e desfrutar das boas amizades.
Lamentavelmente
e pelas razões que todos sabemos, não posso satisfazer um dos meus maiores
prazeres que é assistir a bons concertos de música ao vivo e outros
espetáculos. Atualmente,
fruto do meu estado de saúde, privilégio o isolamento e o afastamento social,
valorizando o contacto com a natureza ...
CORONA VIRUS É ?
Morte,
para muitos milhões que, infelizmente, por todo o mundo são infetados; Pânico para a população em geral e organizações de saúde em especial pelas dificuldades
e incertezas em como lidar com o vírus e combater a pandemia; Crise
financeira e económica que afeta todos os países do mundo e deixará marcas e
contas para pagar a uma ou mais gerações futuras; Depressão para aqueles
que, superando a doença, não resistem às dificuldades e efeitos colaterais da
mesma, assistindo-se em todos as atividades da sociedade a múltiplos suicídios,
em particular em pessoas ligadas à Cultura e ao mundo do espetáculo ( música
etc) que é, talvez, a atividade que mais tem sofrido pelo impacto das
restrições impostas e que tem vindo a "dizimar" empresas e pessoas no
que à sua subsistência, vida profissional e responsabilidade familiar diz
respeito. Não menos preocupante, a meu ver, é o impacto das medidas que vão
sendo tomadas (mas justificadas) que agravam a situação de isolamento dos
nossos idosos, em especial os institucionalizados (lares e centros dia) e seus
familiares que não podem visitá-los, população esta que mereceria maior atenção
dos responsáveis políticos, repensando projetos e investimentos, em função do
novo paradigma a que a sociedade assiste e o mundo parece incapaz de
contornar.
A POSSIBILIDADE DE SER INFETADO ASSUSTA-O?
Seria hipocrisia minha afirmar que não me preocupa,
mas confesso que tento não entrar em pânico, levando a sério as medidas de
prevenção e proteção ao nosso dispor, protegendo-me e protegendo os outros. Por
outro lado, diria que me assusta mais, isso sim, admitir que algum familiar meu
possa vir a ser infetado, considerando as atividades profissionais que desenvolvem,
em que o contacto com a "população" e o distanciamento social são
medidas quase impossíveis de aplicar.
TEM FÉ EM DEUS?
Sim. Para
além de ter nascido numa família católica, cuja educação e valores transmitidos
passaram, em grande parte, pelos valores da igreja e a presença semanal, aos
Domingos, nas missas e outros atos religiosos, tenho, ainda hoje, uma grande
referência na minha vida, que, para além dos meus Pais, contribuiu
definitivamente para uma "vocação" que, não fossem as suas qualidades
como homem e como padre (social e culturalmente) jamais teria a
possibilidade de experienciar. "Apaixonei-me", ainda muito
jovem, pelas suas "pregações" e mensagens que, lá do cimo do
altar, vestido com o seu hábito de Franciscano e de sandálias deixava os paroquianos
presentes encantados. Sim, era um orgulho ver e ouvir o meu Tio Padre
António Castro a "pregar" aos paroquianos, e que dele se lembrarão ainda,
muitos dos nossos leitores com mais idade. Convenceu-me.
Não porque me tenha pedido, mas porque cada vez que o ouvia me identificava com
as palavras que proferia e a forma como as expressava, não deixando ninguém
insensível e chegando com toda a facilidade ao coração e razão das pessoas. Foi daí,
chegada a idade, falei com os meus pais e submeti-me ao exame de admissão e, aprovado,
ingressei no Seminário de Montariol em Braga, (Ordem dos Franciscanos)
instituição a quem muito devo e me orgulho, seja no meu crescimento
enquanto homem, como ser humano e apaixonado pela música, de resto, onde dei os
meus primeiros passos e cujos conhecimentos musicais aí adquiridos tiveram uma
influência preponderante na minha vida.
APAIXONADO VAI ATÉ ONDE?
Para já
consegui chegar até aqui, já lá vão 58 anos, e ainda apaixonado pela minha
família em geral, mulher e filhos em especial (de resto, sem o apoio dos quais
não teria chegado até aqui) e, ainda, por tudo o que faço e naquilo em que
acredito, como seja alguns amigos e o projeto Face B. Vou até onde? Vou até
onde sentir que as pessoas ou instituições em que acredito não me desiludam e
não coloquem em causa a minha dignidade, honorabilidade, honestidade e sentido
de responsabilidade, valores e princípios de que não abdico seja a nível
pessoal, familiar ou profissional. A este propósito, para os leitores, colegas
e amigos mais próximos que tão bem me conhecem e estão informados do meu
estado de saúde, não posso deixar de manifestar a minha gratidão pelo
apoio demonstrado neste momento tão difícil da minha vida e que, na minha
mente, considerava impensável acontecer comigo, sobretudo por motivos
profissionais, não obstante os casos que vamos conhecendo ã nossa volta.
FAFE É ?
Fafe é uma pequena cidade mas uma grande vila, com
uma história fantástica e grandes nomes que se destacaram na vida política,
social e cultural. Nem sempre bem representada ao seu mais alto nível político,
tendo em conta o seu número de habitantes e ao seu nível de conhecimento e formação.
Espanta-me, e deixa-me profundamente preocupado o nível de conhecimento e
competência de alguns atores políticos que nos representam, enquanto mero
cidadão, claro.
SE FOSSE UMA “ACTOR” POLITICO
EM FAFE, O QUE FARIA EM PRIMEIRO LUGAR? E EM SEGUNDO LUGAR ?
Se fosse
um ator político? Pois bem, seria uma total irresponsabilidade falar do
assunto, considerando-me absolutamente apartidário, embora não apolítico.
Mesmo assim, e partindo do princípio que não tenho autoridade moral para
criticar aquilo que não posso fazer melhor, até porque não teria qualquer
hipótese de lá chegar já que a minha maior divergência tem a ver exatamente com
o funcionamento dos partidos, que, em grande parte, prejudica o bom
funcionamento da democracia, considero, no entanto, a política um ato nobre, mas
em que os seus atores (muitos) não merecem nem a oportunidade nem a confiança
daqueles que os elegem. Contudo, enquanto cidadão, permito-me observar que a
primeira e segunda medida a tomar, ainda que utópica, seria privilegiar a meritocracia nos quadros do Município, o que, infelizmente, não é levado em
consideração pelos sucessivos responsáveis. O resto, vem por acréscimo!
AOS SEUS AMIGOS DIZ, VISITA
FAFE PORQUE?
Ao meus
amigos ou conhecidos convido-os sempre a visitar Fafe e degustar a sua
gastronomia. Sabendo de antemão a surpresa que terão na hospitalidade e
simpatia dos Fafenses e profissionais da hotelaria. Advirto-os, porém, que não
é garantido terem camas disponíveis e que poderão ter de dormir em Guimarães ou
Braga, o que não é confortável. Sugiro uma visita à Barragem de Queimadela,
Aldeia do Pontido, assistir, esporadicamente, a alguns bons concertos numa das
mais simpáticas e acolhedoras salas de espetáculos do Norte - Teatro Cinema de
Fafe; Visitar o troço de Rally mais carismático e conhecido no mundo dos
fãs dos automóveis; Provar a vitela assada à moda de Fafe e os Doces Regionais
de Fornelos, etc; Por
último, sempre que tal acontece, convido-os a aparecerem em Fafe porque os Face
B vão tocar ao vivo... (Ah, ah..)
2021 VAMOS TER MAIS UM
TRABALHO EM ESTUDIO DOS FACE B, VERDADE? QUER DESVENDAR UM POUCO DO QUE AI VEM?
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