segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A DESAPARECIDA PONTE DE PAÇOS


A ponte de Paços, como estrutura de cantaria (pedra grande esquadriada), já existia no século XVIII. Em 1758, nas Inquirições Paroquiais, é referida uma travessia sobre o Rio Vizela na freguesia de S. Vicente de Paços.

 «… Tem mais a ponte chamada de Passos que hé de padieiras de pedra…»

Relatou o vigário Jozé de Freitas Villas Boas em 14 de Maio de 1758, respondendo ao inquérito mencionado.

Em um outro Inquérito Paroquial datado de 1842, o abade António Luiz da Cunha Vieira, relativamente ao rio em S. Vicente de Paços, escreveu: «Há um rio que terá de largura 20 varas (22 metros) chamado Vizela e de profundidade, em partes, 3 varas (3, 30 metros) tem duas pontes chamadas de Passos, feitas em padieira…».

Pela imprensa local dos finais do século XIX, sabemos que a estrada entre Fafe e Póvoa de Lanhoso já estava aberta até ao lugar de Requeixo, Travassós, em 1893.

Só em 1905 a estrada ficaria transitável até à Póvoa de Lanhoso. Dois anos depois, em 1907, seria terminado o “empedramento” (pavimento em macadame).

Desconhecemos, até à data, qualquer referência à construção da ponte de Paços. Com certeza, sabemos que em meados do século XVIII já ali existia uma passagem em cantaria sobre o rio Vizela.

Acreditamos, porém, que a referida passagem tem uma origem mais recuada; admitimos a hipótese de ali ter existido um pontão ou poldra medieval, dada a importância e densidade populacional daquela parcela de território, desde, pelo menos, o século XIII.

Também é possível, que em determinado momento tenha sido ali construída uma passagem em madeira.

Os elementos disponíveis são muito escassos e, de facto, não é possível conhecer com exactidão a origem daquela importante passagem sobre o rio Vizela.

Como acontece na grande maioria das pontes históricas, também a ponte de Paços sofreu ao longo do tempo algumas alterações, chegando aos nossos dias com uma arquitectura que nos parece poder ser enquadrável no momento da abertura da estrada em direcção à Póvoa de Lanhoso, na primeira metade do século XIX.

Naquela época, a ponte foi certamente alvo de obras de beneficiação que teriam alterado a estrutura do século XVIII, aproveitando, porém, em boa parte, elementos preexistentes.

Estamos portanto perante uma ponte histórica herdeira de uma passagem ancestral sobre o rio Vizela, reconstruída há mais de uma centúria e meia.

A famigerada ponte de Paços é portanto património que deveria ser conservado como um testemunho histórico oitocentista com reminiscência ancestral.



A Ponte de Paços foi demolida em 27 de Maio de 2018, e o Património fafense ficou mais pobre...

Inconformada com a perda, a Junta de Freguesia de Paços providenciou a guarda de elementos da ponte, que serviram para a construção de um memorial que abordaremos proximamente.

Jesus Martinho




 

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