segunda-feira, 26 de outubro de 2020

RUÍNAS NO CASTRO DE SANTO OVÍDIO VÃO SER REABILITADAS


 

As ruínas arqueológicas no Castro de Santo Ovídio, trazidas à luz do dia nos anos 80 do século passado, vão ser alvo de uma intervenção no âmbito de um protocolo “relativo a obras, entre a Junta de Freguesia de Fafe e o Município".

Abandonadas em 1985, as ruínas postas a descoberto na vertente leste do outeiro de Santo Ovídio, beneficiaram de sucessivas acções de limpeza, realizadas nos anos 90 do século XX e em inicio do século XXI.

Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1980, o Povoado Castrejo de Santo Ovídio carece de intervenção compatível com a sua importância cultural, cientifica e enquanto potencial turístico.

Em boa verdade, o Castro de Santo Ovídio vem à baila em períodos eleitorais, mas acaba por ser esquecido pela tutela do Património e pela autarquia.

Em 3 de Outubro de 2015 ruiu parte de um muro de suporte junto ao alicerce de uma casa circular de tradição castreja. Apesar dos apelos à preservação das ruínas, só agora, passados 5 anos, é possível um pequeno investimento, que visa consolidar as estruturas arqueológicas; uma acção fundamental para a conservação do conjunto bimilenar.

Pelo que conseguimos apurar, a Câmara Municipal vai, muito em breve, proceder à limpeza das ruínas e área envolvente, criando condições para uma intervenção de consolidação. Uma obra adjudicada, por ajuste directo, a Joaquim Antunes Vieira, pelo valor de 12.800.00 Euros, com um prazo de execução de 60 dias. http://www.base.gov.pt/

Os trabalhos preconizados deverão ter início já no mês de Novembro próximo e serão acompanhados por técnicos ao serviço do Município de Fafe.

Atente-se a este tipo de intervenção em ruínas arqueológicas com mais de 2000 anos, sendo conhecido o estado crítico de algumas estruturas, é muito sensível, exigindo um acompanhamento especializado em conservação e restauro, que garanta o sucesso dos trabalhos.

Vale mais tarde que nunca, é a máxima… mas que seja bem feito é o que se exige desta louvável iniciativa, que vou acompanhar com enorme expectativa.

Fafe tem aqui a oportunidade de começar a olhar para o monte de Santo Ovídio com mais atenção e maior ambição.

Jesus Martinho





O POVOADO CASTREJO DE SANTO OVÍDIO

 

           O Povoado Castrejo de Santo Ovídio localiza-se a cerca de um quilómetro do centro da cidade de Fafe, no lugar com a mesma designação, onde se ergue uma elevação com uma altitude máxima de 332 metros.

O promontório, de configuração sub-cónica, destaca-se no vale do rio Vizela que corre perto do sopé da vertente oeste deste monte consagrado ao Santo Ovídio

O “Castro” de Santo Ovídio, como também é conhecido, foi dado a conhecer no último quartel do século XIX. Nessa altura, durante as obras de reconstrução da capela e escadaria foram encontrados vestígios arqueológicos que inequivocamente provaram a existência de um “habitat” castrejo em Monte “Crasto” ou Monte de Santo Ovídio. Alicerces de antigas construções, moedas romanas, fragmentos cerâmicos e sobretudo o achado de uma estátua de guerreiro galaico chamariam a atenção de curiosos e “caçadores de tesouros”.

Nos inícios do século passado chegaram a ser efectuadas escavações na plataforma superior do monte à procura de riquezas imaginadas pelo povo.

Durante muitos anos o sítio arqueológico do Monte de Santo Ovídio ficaria esquecido e só em 1980 viria a ser alvo de atenções. A abertura de um estradão na base da vertente leste da elevação, revelou um conjunto de estruturas arqueológicas que motivaram o embargo da obra por parte da Autarquia. Neste mesmo ano foi chamada a intervir a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho que realizou cinco campanhas de escavação, entre 1980 e 1984, inteiramente financiadas pela Câmara Municipal de Fafe.

Numa área total de aproximada aos 600 m2, foi descoberto e estudado um notável conjunto de ruínas arqueológicas que levariam à classificação do povoado como Imóvel de Interesse Público, conferindo-lhe protecção legal directa do órgão da tutela, o Ministério da Cultura.

Embora não se tenham ainda realizado estudos mais pormenorizados em plataformas mais elevadas, é muito provável que a génese do povoado tenha ocorrido no decurso da segunda metade do 1º milénio a.C.




O conjunto arquitectónico posto a descoberto na base da vertente leste do monte de Santo Ovídio, representa uma pequena parte da real potência arqueológica deste antigo “habitat”.

Ao invés da maioria dos castros do noroeste, no presente caso não são visíveis vestígios evidentes de muralhas. Este facto deve-se às boas condições naturais para defesa, bem patentes na morfologia das vertentes norte e oeste.

Apesar de não serem notórias linhas de muralha, sabe-se que pelo menos a vertente leste foi defendida por um fosso.

As ruínas visíveis correspondem à última fase de ocupação do Povoado, entre finais do séc. I a.C. e os princípios da nossa Era.

Uma rua com pavimento lajeado dá acesso a uma zona habitacional onde coexistem habitações de tradição indígena (planta circular) e de influência romana (planta rectangular). Podem ainda observar-se pequenas áreas exteriores lajeadas, sulcos abertos no areão granítico para drenagem, muros de suporte delimitadores do "bairro" e fossas detríticas.

A enorme importância científica e patrimonial do Povoado Castrejo de Santo Ovídio é inegável, representando uma das mais importantes reservas arqueológicas do concelho de Fafe. 

Numa cidade que tanto carece de atractivos turísticos, pensamos que todo o monte de Santo Ovídio deveria ser melhor aproveitado, criando-se ali um Parque Arqueológico com centro interpretativo, valorizando-se assim uma potência turística latente, aqui tão perto…

 

Jesus Martinho

           

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

 

 

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