domingo, 25 de outubro de 2020

“UM OUTRO OLHAR” – RICARDO SOUSA: UM EMPRESÁRIO DO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL, APAIXONADO PELA NATUREZA



Bom dia Ricardo, agradeço – te por teres disponibilidade em participar nesta entrevista. Conhecemo-nos à pouco tempo, por intermédio de um amigo comum, numa caminhada emblemática ao longo do Rio Vizela. A nossa conversa foi muita agradável acerca do futuro de FafE, das suas gentes e Suas tradições; no entanto, o teu percurso, o teu perfil de empresário de sucesso e a tua paixão pela Natureza, me sensibilizaram em te convidar para a nossa entrevista. Neste sentido, a minha primeira pergunta é da praxe e é mais pessoal: gostava que me partilhasses as tuas origens, o teu percurso escolar e formativo. Eras bom aluno? Gostavas de estudar? Tens alguém na tua família ou amigos como modelo empreendedor?

Olá Filipe, em primeiro lugar quero dar-te os parabéns por esta iniciativa, fico muito honrado pelo convite.
As minhas origens são humildes! Eu sou o mais velho de quatro irmãos. O meu pai faleceu quando eu tinha cinco anos. Frequentei a escola primária do Calvário em Golães, onde tive a sorte de ter como professora a D. Maria Cunha Carvalho, a quem estou grato pela ajuda que me deu na altura e, principalmente, por nunca me fazer sentir inferior aos colegas com outras condições sociais/económicas. Infelizmente senti-o em muitas outras situações!

Continuei os estudos no ensino preparatório na antiga Escola Montelongo – local que recentemente foi convertido no novo Posto da GNR – mas, apesar de ser bom aluno, cessei a minha carreira estudantil no 6º ano, pois tive de começar a trabalhar bastante cedo para ajudar nas contas de casa. Ainda assim, posso considerar que tive uma infância feliz e, apesar das dificuldades, a minha mãe, com muito esforço, conseguiu que nunca nos faltasse o essencial.


Como surgiu a ideia de ser empreendedor?

Como eu já referi, comecei a trabalhar bastante cedo o que,  por um lado, foi difícil mas também me permitiu ganhar conhecimento e responsabilidade, tendo quase sempre trabalhado na construção civil onde fiz todo um percurso de aprendizagem desde servente até técnico de obra.  

A criação da minha empresa acabou por ser um passo natural, o qual já ambicionava há algum tempo, pois entendia ter as competências e conhecimento para avançar.

Infelizmente, não tenho qualquer formação em gestão de empresas. O que sei aprendi pesquisando na internet, através de conversas com gestores amigos e, fundamentalmente, através da leitura de livros de vários gestores portugueses e estrangeiros, dos quais destaco um em particular: “A história da IKEA”, um livro que tem vários e interessantes conceitos sobre o negócio.



A empresa que diriges, atualmente, foi criada em 2007. Conta-nos mais sobre a trajetória da tua empresa até à data de hoje, partilhando-no nos as suas atividades, os seus produtos e serviços e a sua dimensão em termos de mercado e humano.

Nós iniciámos a atividade no dia 13 de fevereiro de 2007, redirecionados para o mercado do comércio e serviços, pois tinha bastante experiência nessa área. A nossa primeira obra foi em Fafe, mas passados quatro meses já tinha três viaturas novas na estrada com equipas a trabalhar em Braga, Lisboa e Barcelona. Apesar de todo o nosso empenho tenho que reconhecer a ajuda importantíssima de um bom homem e empresário fafense de sucesso e, na altura, o nosso melhor parceiro/cliente - o Eng.º Paulo Baptista – mantendo-se ainda hoje nosso parceiro!

Os primeiros anos foram de muito sacrifício e trabalho árduo, só possíveis graças a uma equipa excecional o que nos proporcionou um rápido crescimento. Em 2010, em resultado da crise financeira, que teve como consequência a vinda da Troika para o nosso país, sofremos um revés: - o nosso melhor cliente,   fruto da crise que se instalou no sector da construção, teve uma grande quebra de encomendas e que, naturalmente, se refletiu na ARGS.  Sendo, até agora, o único ano em que a faturação da empresa sofreu uma diminuição.

Ao invés de ficar a lamentar, pela crise instalada, procurei soluções para tirar benefício da mesma! Nós tínhamos uma excelente equipa! Só tínhamos de conseguir demostrar isso ao mercado. Foi então que decidi investir na área metropolitana de Lisboa, tendo a empresa adquirido um imóvel para servir de alojamento aos nossos colaboradores e passarmos a ser quase uma empresa lisboeta.

Este passo revelou-se fundamental para o crescimento e desenvolvimento da nossa empresa!

Durante os anos de 2011 a 2015, período em que o nosso país esteve mergulhado na crise económica e financeira, nós conseguimos quadruplicar a nossa faturação! Hoje, Lisboa continua a ser muito importante para a empresa! Já vendemos o primeiro imóvel e adquirimos outros dois, de maior dimensão, numa zona mais estratégica, o que nos permite entre 30 a 40 minutos chegar a qualquer cidade da área metropolita de Lisboa, desde Setúbal até Santarém.

Em 2016, obtivemos a classificação de PME Líder, atribuída pelo IAPMEI, que temos conseguido manter/renovar desde então. Por vezes, em tom de brincadeira, digo aos meus amigos que a ARGS é penta PME Líder!

Atualmente, a ARGS tem cerca de 65 colaboradores e trabalhamos em parceria com algumas empresas de referência do nosso país em diversas áreas da construção civil, desde o comércio e serviços, hotelaria, reabilitação urbana e residencial. O nosso mercado prioritário é a área metropolitana de Lisboa e a zona litoral norte, sendo que, por vezes, para acompanhar os nossos parceiros trabalhamos em todo o país e, até, no estrangeiro, onde já realizámos trabalhos em Espanha, França, Itália e Reino Unido!



Quais são as dificuldades que encontras na gestão do dia a dia do teu negócio?

Diria que a principal dificuldade/desafio é a falta de mão de obra qualificada. A juventude não vê na construção civil uma alternativa de futuro e a nossa sociedade está focada em formar licenciados ou então em realizar formações profissionais que não têm em conta as necessidades do mercado, esquecendo-se de formar trabalhadores para a indústria e construção,  onde muitos jovens poderiam ter um futuro e terem um salário acima da média, pois os bons profissionais são muito bem remunerados.

Outra grande dificuldade é termos um Estado que maltrata as pequenas empresas e está constantemente a mudar a legislação.


Quais são as maiores satisfações e desilusões que tivestes, até agora, com tua empresa?

A minha maior satisfação é a minha equipa! Ao longo destes quase 14 anos de atividade tenho tido ao meu lado homens fantásticos que vestem a camisola com muito empenho e sem eles nada disto seria possível!

As desilusões, felizmente, têm sido poucas e rapidamente ultrapassadas.

 


Quais são os próximos desafios para a tua empresa?

O nosso maior desafio é manter a qualidade e capacidade de resposta que fez e continua a fazer com que os nossos principais clientes/parceiros confiem em nós.

Outro desafio será fazer crescer e solidificar a irmã mais nova da empresa - a Args DOMUS. No nosso plano estratégico, para os próximos anos, iremos lançar empreendimentos imobiliários: -inicialmente em Fafe, porque é a nossa terra e que queremos ajudar a crescer e depois será o mercado a indicar-nos o caminho!

Fruto da experiência adquirida, a Args DOMUS irá trabalhar em parceria com gabinetes de arquitetura, numa atividade direcionada para o mercado residencial, em que iremos propor um conceito diferenciador pelo seu design, qualidade e compromisso, ingredientes a que juntaremos a nossa paixão!

 



Quais são as características pessoais mais importantes para a A.R.G.S Construções? Isto é, que importância dás às relações internas e externa na empresa?  E para ti como empresário, quais são os contactos mais importantes? Fornecedores, clientes, pessoas de influência?

Uma empresa é feita de pessoas pelo que o mais importante são sempre os colaboradores. Dentro do possível tento estar presente quando eles precisam e fazer com que se sintam parte da família ARGS.

Todas as empresas com quem trabalhamos, sejam clientes ou fornecedores, são parceiros do nosso negócio, por isso mesmo gosto de privilegiar parcerias duradouras e benéficas para ambas as partes.

Como te vês como pessoa? Como lidas com o fracasso e o sucesso?

Esta é uma das situações em que fui evoluindo ao longo dos anos. No início não valorizava muito o sucesso e ficava bastante desagrado com o fracasso.

Atualmente, gosto de saborear um pouco o sucesso, que me tem servido de motivação adicional.  Sabendo que somos como os jogadores de futebol, todos os dias temos de continuar a “marcar golos”. O segredo reside em quando algo corre menos bem!  Percebermos o porquê e se possível transformarmos esse problema em proveito no futuro!

Consegues conciliar, no teu dia a dia, a vida profissional e pessoal?

Esta conciliação é algo em que ainda tenho de melhorar. Nos primeiros anos da empresa fui um pai e marido bastante ausente. Felizmente, a minha esposa conseguiu suplantar esta minha falta e fez um excelente trabalho com os meus filhos. Atualmente, já sou muito mais presente, embora ainda tenha de equilibrar melhor as duas situações.

 

No teu percurso de empresário, queres partilhar um momento único positivo ou negativo ou até anedótico que te marcou? 

Poderia dar inúmeros exemplos, mas tenho de referir que os momentos mais positivos que passei nestes anos têm sido o reconhecimento da equipa/família ARGS.

Pode parecer exagerado, mas já fiquei emocionado com a entrega e empenho dos nossos colaboradores em algumas situações, prejudicando a sua vida pessoal!

Momentos anedóticos… em todos estes anos dava para uma noite! O melhor de tudo!

Se tivesses um conselho a dar a um jovem empreendedor perante o estado atual da Economia, qual seria?

Primeiro terá de conhecer o negócio em que se vai lançar! Depois, perseverança e empenho! E, de cada vez que as coisas não correram como planeou, analisar os erros e voltar a tentar. Costumo dizer que se fosse fácil não era para nós!

Aproveito para dizer que os nossos jovens, nas escolas (2º e 3º ciclos), deveriam de ser incentivados a serem empreendedores. Nós temos provavelmente a geração mais bem preparada de sempre e qual será o futuro deles? Não irão ser todos funcionários públicos – que reconheço a sua importância na sociedade, mas cujo número será sempre limitado – e, se também não tencionam emigrar, o que lhes resta? Temos de incentivar e ensinar os jovens a serem empreendedores e, na minha modesta opinião, é uma das saídas para o mercado de trabalho que mereceria outro tipo de atenção.

 


A crise atual associada à Pandemia COVID-19, afetou-vos na vossa forma de trabalhar? na competitividade da empresa, nas relações com os clientes? De forma negativa ou positiva?

Esta pandemia veio, claramente, criar mais custos e constrangimentos para as empresas, seja em termos de prevenção, seja de despiste.  Inclusive, já tivemos de efetuar e pagar testes a colaboradores da empresa.

Como já referi, anteriormente, nós trabalhamos em parceria com os nossos clientes o que nos permite fazer algum planeamento a médio prazo. Apesar do setor da construção civil não ter sido particularmente afetado pela pandemia, com exceção dos meses de março e abril onde registámos alguma quebra da atividade devido ao confinamento, neste momento o nosso maior foco de preocupação acaba por ser a incerteza em relação ao curto prazo, pois estamos dependentes da evolução da pandemia.

Penso que, também, aprendemos algo de positivo da qual iremos tentar aproveitar em futuros projetos.

 


Finalmente, transitando a nossa entrevista para uma parte mais pessoal, pretendia saber em primeiro lugar, como te surgiu essa paixão pela Natureza?

Acho que vem desde criança! No nosso tempo de meninos passávamos muito tempo fora de casa, nos montes, nos rios… Desde Santa Rita até pouco antes da Ponte Nova devo ter nadado em toda a extensão do rio Vizela. Nos campos vivíamos em comunhão com a Natureza. Fui, também,  escuteiro, o que ajudou a ganhar esta paixão.


Em segundo lugar, sei que és uma pessoa com espírito empreendedor e de causas e para tal pretendia te lançar o seguinte desafio. Amanhã, é lançado uma 2ª edição do Orçamento Participativo Fafense, qual seria o projeto que submetarias a voto?

Tenho de referir o percurso pedestre entre Fafe, Travassós e a barragem da Queimadela ou na extensão do “vale encantado”, como eu lhe costumo chamar. O “vale encantado” do Rio Vizela, tem a associação “ADTTR-Travassós Running” a realizar um trabalho fantástico, a quem desde já agradeço! Aliás, o percurso só possível ser frequentado, atualmente, porque eles fazem a limpeza do mesmo. Com poucos recursos seria possível efetuar a reparação de muros e sinalização do percurso e poderíamos acrescentar mais uma opção às pessoas que procuram Fafe e, tendo em conta a atual procura pelo turismo de Natureza, seria um êxito com toda a certeza!

Tenho a certeza que será uma questão de tempo até que esse projeto seja executado!



Finalmente, tenho as seguintes perguntas e peço-te uma palavra ou frase de resposta para cada uma delas:

Hobbies?

Caminhar, andar de bicicleta e ir a concertos, que saudades eu tenho dos concertos!

Local de Férias preferido?

O interior do nosso país, desde o Minho, Douro, Aldeias históricas e o nosso Alentejo. Adoro o Alentejo!

Adoras?

Honestidade.

Detestas?

Hipocrisia e ingratidão.

Música preferida?

“Nessun dorma”, interpretada por Andrea Bocelli.

Prato preferido?

Vários, sou muito bom garfo!

Restaurante preferido?

Tenho de dar a mesma resposta: vários, a vantagem do meu trabalho é viajar muito, portanto…

Desporto preferido?

Futebol e ciclismo.

Qual é o teu clube?

Apesar de gostar muito do nosso Fafe e inclusive ser patrocinador. O Glorioso, Benfica!

Se não fosses empresário, eras?

Técnico de obra, mas desde muito cedo que tinha este objetivo.

Se tivesses a oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o quê?

Se tivesse tido oportunidade teria estudado, como não tive não mudava nada.

O que representa Fafe para ti?

Fafe é o meu refúgio, a minha paz, a minha casa… Tenho muito orgulho em ser Faf(é)nse!

Se amanhã, fosses um eleito político local, que medidas no setor económico ou outro, implementavas?

Um gabinete de apoios às empresas e investidores para ajudar a simplificar a nossa pesada máquina burocrática. Atenção, não estou a falar de subsídios, pois na minha opinião os subsídios desvirtuam a concorrência.

Qual é a tua regra de Ouro?

Princípio e caráter!

Há algo mais que gostarias de dizer, que não foi abordado?

Sim, agradecer à minha família que passou muito tempo sem mim. À minha esposa que foi, muitas vezes, mãe e pai!  Sem eles não teria conseguido ter este percurso de vida.

Obrigado por esta oportunidade Filipe. Mais uma vez parabéns por esta iniciativa!

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