Bom dia Ricardo, agradeço
– te por teres disponibilidade em participar nesta entrevista. Conhecemo-nos à pouco
tempo, por intermédio de um amigo comum, numa caminhada emblemática ao longo do
Rio Vizela. A nossa conversa foi muita agradável acerca do futuro de FafE, das
suas gentes e Suas tradições; no entanto, o teu percurso, o teu perfil de empresário
de sucesso e a tua paixão pela Natureza, me sensibilizaram em te convidar para
a nossa entrevista. Neste sentido, a minha primeira pergunta é da praxe e é
mais pessoal: gostava que me partilhasses as tuas origens, o teu percurso
escolar e formativo. Eras bom aluno? Gostavas de estudar? Tens alguém na tua
família ou amigos como modelo empreendedor?
Olá Filipe,
em primeiro lugar quero dar-te os parabéns por esta iniciativa, fico muito
honrado pelo convite.
As minhas
origens são humildes! Eu sou o mais velho de quatro irmãos. O meu pai faleceu quando
eu tinha cinco anos. Frequentei a escola primária do Calvário em Golães, onde
tive a sorte de ter como professora a D. Maria Cunha Carvalho, a quem estou
grato pela ajuda que me deu na altura e, principalmente, por nunca me fazer
sentir inferior aos colegas com outras condições sociais/económicas. Infelizmente
senti-o em muitas outras situações!
Continuei os estudos no ensino preparatório na antiga Escola Montelongo – local que recentemente foi convertido no novo Posto da GNR – mas, apesar de ser bom aluno, cessei a minha carreira estudantil no 6º ano, pois tive de começar a trabalhar bastante cedo para ajudar nas contas de casa. Ainda assim, posso considerar que tive uma infância feliz e, apesar das dificuldades, a minha mãe, com muito esforço, conseguiu que nunca nos faltasse o essencial.
Como surgiu a ideia de
ser empreendedor?
Como eu já referi, comecei a trabalhar bastante cedo o que, por um lado, foi difícil mas também me
permitiu ganhar conhecimento e responsabilidade, tendo quase sempre trabalhado
na construção civil onde fiz todo um percurso de aprendizagem desde servente
até técnico de obra.
A criação da minha empresa acabou por ser um passo natural, o qual já
ambicionava há algum tempo, pois entendia ter as competências e conhecimento
para avançar.
Infelizmente, não tenho qualquer formação em gestão de empresas. O que
sei aprendi pesquisando na internet, através de conversas com gestores amigos e,
fundamentalmente, através da leitura de livros de vários gestores portugueses e
estrangeiros, dos quais destaco um em particular: “A história da IKEA”, um
livro que tem vários e interessantes conceitos sobre o negócio.
A empresa que diriges,
atualmente, foi criada em 2007. Conta-nos mais sobre a trajetória da tua empresa
até à data de hoje, partilhando-no nos as suas atividades, os seus produtos e
serviços e a sua dimensão em termos de mercado e humano.
Nós iniciámos a atividade no dia 13 de fevereiro de 2007,
redirecionados para o mercado do comércio e serviços, pois tinha bastante
experiência nessa área. A nossa primeira obra foi em Fafe, mas passados quatro
meses já tinha três viaturas novas na estrada com equipas a trabalhar em Braga,
Lisboa e Barcelona. Apesar de todo o nosso empenho tenho que reconhecer a ajuda
importantíssima de um bom homem e empresário fafense de sucesso e, na altura, o
nosso melhor parceiro/cliente - o Eng.º Paulo Baptista – mantendo-se ainda hoje
nosso parceiro!
Os primeiros anos foram de muito sacrifício e trabalho árduo, só
possíveis graças a uma equipa excecional o que nos proporcionou um rápido
crescimento. Em 2010, em resultado da crise financeira, que teve como
consequência a vinda da Troika para o nosso país, sofremos um revés: - o nosso
melhor cliente, fruto da crise que se instalou no sector da
construção, teve uma grande quebra de encomendas e que, naturalmente, se
refletiu na ARGS. Sendo, até agora, o
único ano em que a faturação da empresa sofreu uma diminuição.
Ao invés de
ficar a lamentar, pela crise instalada, procurei soluções para tirar benefício
da mesma! Nós tínhamos uma excelente equipa! Só tínhamos de conseguir demostrar
isso ao mercado. Foi então que decidi investir na área metropolitana de Lisboa,
tendo a empresa adquirido um imóvel para servir de alojamento aos nossos
colaboradores e passarmos a ser quase uma empresa lisboeta.
Este passo
revelou-se fundamental para o crescimento e desenvolvimento da nossa empresa!
Durante os
anos de 2011 a 2015, período em que o nosso país esteve mergulhado na crise
económica e financeira, nós conseguimos quadruplicar a nossa faturação! Hoje,
Lisboa continua a ser muito importante para a empresa! Já vendemos o primeiro
imóvel e adquirimos outros dois, de maior dimensão, numa zona mais estratégica,
o que nos permite entre 30 a 40 minutos chegar a qualquer cidade da área
metropolita de Lisboa, desde Setúbal até Santarém.
Em 2016, obtivemos
a classificação de PME Líder, atribuída pelo IAPMEI, que temos conseguido
manter/renovar desde então. Por vezes, em tom de brincadeira, digo aos meus
amigos que a ARGS é penta PME Líder!
Atualmente, a ARGS tem cerca de 65 colaboradores e trabalhamos em parceria com algumas empresas de referência do nosso país em diversas áreas da construção civil, desde o comércio e serviços, hotelaria, reabilitação urbana e residencial. O nosso mercado prioritário é a área metropolitana de Lisboa e a zona litoral norte, sendo que, por vezes, para acompanhar os nossos parceiros trabalhamos em todo o país e, até, no estrangeiro, onde já realizámos trabalhos em Espanha, França, Itália e Reino Unido!
Quais são as dificuldades
que encontras na gestão do dia a dia do teu negócio?
Diria que a principal dificuldade/desafio é a falta de mão de obra qualificada. A juventude não vê na construção civil uma alternativa de futuro e a nossa sociedade está focada em formar licenciados ou então em realizar formações profissionais que não têm em conta as necessidades do mercado, esquecendo-se de formar trabalhadores para a indústria e construção, onde muitos jovens poderiam ter um futuro e terem um salário acima da média, pois os bons profissionais são muito bem remunerados.
Outra grande dificuldade é termos um Estado que maltrata as pequenas
empresas e está constantemente a mudar a legislação.
Quais são as maiores
satisfações e desilusões que tivestes, até agora, com tua empresa?
A minha maior satisfação é a minha equipa! Ao longo destes quase 14 anos
de atividade tenho tido ao meu lado homens fantásticos que vestem a camisola
com muito empenho e sem eles nada disto seria possível!
As desilusões, felizmente, têm sido poucas e rapidamente ultrapassadas.
Quais são os próximos
desafios para a tua empresa?
O nosso maior desafio é manter a qualidade e
capacidade de resposta que fez e continua a fazer com que os nossos principais
clientes/parceiros confiem em nós.
Outro desafio será fazer crescer e solidificar
a irmã mais nova da empresa - a Args DOMUS. No nosso plano estratégico, para os
próximos anos, iremos lançar empreendimentos imobiliários: -inicialmente em
Fafe, porque é a nossa terra e que queremos ajudar a crescer e depois será o
mercado a indicar-nos o caminho!
Fruto da experiência adquirida, a Args DOMUS
irá trabalhar em parceria com gabinetes de arquitetura, numa atividade
direcionada para o mercado residencial, em que iremos propor um conceito
diferenciador pelo seu design, qualidade e compromisso, ingredientes a que
juntaremos a nossa paixão!
Uma empresa é feita de pessoas pelo que o mais importante são sempre os
colaboradores. Dentro do possível tento estar presente quando eles precisam e
fazer com que se sintam parte da família ARGS.
Todas as empresas com quem trabalhamos, sejam clientes ou fornecedores, são
parceiros do nosso negócio, por isso mesmo gosto de privilegiar parcerias
duradouras e benéficas para ambas as partes.
Como te vês como
pessoa? Como lidas com o fracasso e o sucesso?
Esta é uma das situações em que fui evoluindo ao longo dos anos. No
início não valorizava muito o sucesso e ficava bastante desagrado com o
fracasso.
Atualmente, gosto de saborear um pouco o sucesso, que me tem servido de
motivação adicional. Sabendo que somos
como os jogadores de futebol, todos os dias temos de continuar a “marcar golos”.
O segredo reside em quando algo corre menos bem! Percebermos o porquê e se possível transformarmos
esse problema em proveito no futuro!
Consegues conciliar, no
teu dia a dia, a vida profissional e pessoal?
Esta conciliação é algo em que ainda tenho de
melhorar. Nos primeiros anos da empresa fui um pai e marido bastante ausente. Felizmente,
a minha esposa conseguiu suplantar esta minha falta e fez um excelente trabalho
com os meus filhos. Atualmente, já sou muito mais presente, embora ainda tenha
de equilibrar melhor as duas situações.
No teu percurso de
empresário, queres partilhar um momento único positivo ou negativo ou até
anedótico que te marcou?
Poderia dar inúmeros exemplos, mas tenho de
referir que os momentos mais positivos que passei nestes anos têm sido o
reconhecimento da equipa/família ARGS.
Pode parecer exagerado, mas já fiquei
emocionado com a entrega e empenho dos nossos colaboradores em algumas
situações, prejudicando a sua vida pessoal!
Momentos anedóticos… em todos estes anos dava
para uma noite! O melhor de tudo!
Se tivesses um conselho
a dar a um jovem empreendedor perante o estado atual da Economia, qual seria?
Primeiro terá de conhecer o negócio em que se vai lançar! Depois, perseverança
e empenho! E, de cada vez que as coisas não correram como planeou, analisar os
erros e voltar a tentar. Costumo dizer que se fosse fácil não era para nós!
Aproveito para dizer que os nossos jovens, nas escolas (2º e 3º ciclos),
deveriam de ser incentivados a serem empreendedores. Nós temos provavelmente a
geração mais bem preparada de sempre e qual será o futuro deles? Não irão ser
todos funcionários públicos – que reconheço a sua importância na sociedade, mas
cujo número será sempre limitado – e, se também não tencionam emigrar, o que
lhes resta? Temos de incentivar e ensinar os jovens a serem empreendedores e,
na minha modesta opinião, é uma das saídas para o mercado de trabalho que mereceria
outro tipo de atenção.
A crise atual associada
à Pandemia COVID-19, afetou-vos na vossa forma de trabalhar? na competitividade
da empresa, nas relações com os clientes? De forma negativa ou positiva?
Esta
pandemia veio, claramente, criar mais custos e constrangimentos para as
empresas, seja em termos de prevenção, seja de despiste. Inclusive, já tivemos de efetuar e pagar
testes a colaboradores da empresa.
Como já referi, anteriormente, nós trabalhamos em parceria com os nossos
clientes o que nos permite fazer algum planeamento a médio prazo. Apesar do
setor da construção civil não ter sido particularmente afetado pela pandemia,
com exceção dos meses de março e abril onde registámos alguma quebra da
atividade devido ao confinamento, neste momento o nosso maior foco de
preocupação acaba por ser a incerteza em relação ao curto prazo, pois estamos
dependentes da evolução da pandemia.
Penso que, também, aprendemos algo de positivo da qual iremos tentar
aproveitar em futuros projetos.
Finalmente, transitando
a nossa entrevista para uma parte mais pessoal, pretendia saber em primeiro
lugar, como te surgiu essa paixão pela Natureza?
Acho que
vem desde criança! No nosso tempo de meninos passávamos muito tempo fora de
casa, nos montes, nos rios… Desde Santa Rita até pouco antes da Ponte Nova devo
ter nadado em toda a extensão do rio Vizela. Nos campos vivíamos em comunhão
com a Natureza. Fui, também, escuteiro,
o que ajudou a ganhar esta paixão.
Em segundo lugar, sei
que és uma pessoa com espírito empreendedor e de causas e para tal pretendia te
lançar o seguinte desafio. Amanhã, é lançado uma 2ª edição do Orçamento
Participativo Fafense, qual seria o projeto que submetarias a voto?
Tenho de referir o percurso pedestre entre Fafe, Travassós e a barragem
da Queimadela ou na extensão do “vale encantado”, como eu lhe costumo chamar. O
“vale encantado” do Rio Vizela, tem a associação “ADTTR-Travassós Running” a
realizar um trabalho fantástico, a quem desde já agradeço! Aliás, o percurso só
possível ser frequentado, atualmente, porque eles fazem a limpeza do mesmo. Com
poucos recursos seria possível efetuar a reparação de muros e sinalização do
percurso e poderíamos acrescentar mais uma opção às pessoas que procuram Fafe e,
tendo em conta a atual procura pelo turismo de Natureza, seria um êxito com toda
a certeza!
Tenho a certeza que será uma questão de tempo até que esse projeto seja
executado!
Finalmente, tenho as
seguintes perguntas e peço-te uma palavra ou frase de resposta para cada uma
delas:
Hobbies?
Caminhar, andar de bicicleta e ir a concertos, que saudades eu tenho dos
concertos!
Local de Férias
preferido?
O interior do nosso país, desde o Minho,
Douro, Aldeias históricas e o nosso Alentejo. Adoro o Alentejo!
Adoras?
Honestidade.
Detestas?
Hipocrisia e ingratidão.
Música preferida?
“Nessun dorma”, interpretada por Andrea
Bocelli.
Prato preferido?
Vários, sou muito bom garfo!
Restaurante preferido?
Tenho de dar a mesma resposta: vários, a
vantagem do meu trabalho é viajar muito, portanto…
Desporto preferido?
Futebol e ciclismo.
Qual é o teu clube?
Apesar de gostar muito do nosso Fafe e inclusive ser patrocinador. O
Glorioso, Benfica!
Se não fosses
empresário, eras?
Técnico de obra, mas desde muito cedo que
tinha este objetivo.
Se tivesses a
oportunidade de mudar algo no teu percurso profissional, seria o quê?
Se tivesse tido oportunidade teria estudado,
como não tive não mudava nada.
O que representa Fafe
para ti?
Fafe é o meu refúgio, a minha paz, a minha
casa… Tenho muito orgulho em ser Faf(é)nse!
Se amanhã, fosses um eleito político local, que medidas no setor económico ou outro, implementavas?
Um gabinete de apoios às empresas e
investidores para ajudar a simplificar a nossa pesada máquina burocrática. Atenção,
não estou a falar de subsídios, pois na minha opinião os subsídios desvirtuam a
concorrência.
Qual é a tua regra de
Ouro?
Princípio e
caráter!
Há algo mais que
gostarias de dizer, que não foi abordado?
Sim, agradecer
à minha família que passou muito tempo sem mim. À minha esposa que foi, muitas
vezes, mãe e pai! Sem eles não teria
conseguido ter este percurso de vida.
Obrigado por esta oportunidade Filipe. Mais uma vez parabéns por esta iniciativa!
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